sexta-feira, 24 de abril de 2009

A PESSOA HUMANA NA ATUALIDADE



INTRODUÇÃO
Diante da realidade em que vivemos, a questão do valor do ser humano deve ser discutida atentamente. Depois de um século de duas guerras mundiais e tantas atrocidades humanas, imaginávamos um crescimento moral da humanidade. Mas isso não aconteceu, o século 21 iniciou marcado por guerras, terrorismo e tantas outras desumanidades. O avanço tecnológico não correspondeu a um progresso moral dos homens.

1. A PESSOA HUMANA NA ATUALIDADE
Para início de conversa, procuraremos levantar algumas situações da pessoa humana na atualidade. O homem tornou-se relativo, individualista e descartável. Cada um defende a sua opinião como verdade, defende seus interesses. A pessoa passou a valer pelo que tem e pela aparência. Tudo isso gera um tipo de ser humano descartável.A procura de segurança financeira, de sobrevivência a todo custo, sem cooperação, gera uma guerra de todos contra todos. A prevalência do ter sobre o ser destrói qualquer compromisso moral. O terrorismo, a corrupção política, o crime organizado são faces da perda de valores próprios da pessoa humanaFora do país, crescem cada vez mais as guerras entre as nações por causas políticas e religiosas. Um não reconhece o outro como semelhante. O conflito nasce da incompreensão da diferença do outro, prefere eliminá-lo. No Brasil, a ganância pelo dinheiro devora a honestidade e o compromisso com o bem comum. Além disso, há uma minoria que opta pelo crime por sobrevivência. Porque teve a sua dignidade arrancada.O livro do Gênesis exalta a dignidade do homem dentro da criação. O único criado à imagem e semelhança de Deus. Esta semelhança é justamente a capacidade de amar e de viver em comunidade, de estabelecer relações. O homem é pastor da criação, responsável por zelar dela e de seus irmãos, fazendo-os progredir conforme sua dignidade.

2. A DESUMANIZAÇÃO E A ESTRANHEZA
Cada dia o homem está se tornando mais estranho ao seu semelhante. Uma estranheza no sentido de indiferença. Naturalmente o outro já nos causa estranheza. As diferenças culturais e de personalidades, que deveriam enriquecer as relações, tornam-se motivo de conflito. Deixar-se levar pelo descaso do estranho gera a desumanização.O processo de desumanização é crescente. As atitudes do homem estão mais irracionais. Olhemos alguns fatos. A violência está nas ruas, nos filmes, nos jogos infantis. Até a religião tornou-se geradora de destruição. As nossas crianças são educadas para uma cultura de violência. Estamos amando menos, sendo mais hipócritas nas nossas relações. Faltam sorrisos sinceros e amizades desinteressadas! O contato entre as pessoas tornou-se superficial, perturbado pela desconfiança. Nas grandes cidades há medo dos assaltos e seqüestros, os casais temem a infidelidade, o empregado tem horror a desemprego. As opiniões andam pouco tímidas também. A suspeita ronda o nosso mundo. E os homens insensíveis se estranham como feras acuadas. O Salmo que recitaremos nos ajudará a sentir a importância do homem para Deus. Popularmente
quando alguém morre, diz-se “nós neste mundo não valemos nada”. Esta afirmação ignora a dignidade humana. Somos provisórios e limitados, mas especiais para Deus. Fomos revestidos de glória e de beleza. Por causa desta dignidade não podemos desprezar nossos irmãos. O amor deve ser a nossa resposta!

3. O HOMEM DESCARTÁVEL
O mundo moderno trouxe facilidades e conforto para vida humana. Com o desenvolvimento da indústria, os produtos tornaram-se de uso prático, descartáveis. A descartabilidade provém do comodismo, da economia de tempo. Não exige cuidados com a conservação. A utilidade é passageira. Uma vez servido, torna-se lixo. E lixo que, não sendo reciclado, destrói o planeta. A gravidade é que o homem tornou-se descartável também. A pessoa humana tem um valor absoluto. Nada a torna secundária, passageira e sem valor. É filha de Deus. A correria do nosso mundo gerou o homem descartável. O mercado de trabalho descarta funcionários quando não produzem mais lucro. As pessoas idosas e pessoas com deficiência são conhecidas como “inválidas”. As amizades são transitórias. O artista depois do sucesso é esquecido. Não se cultiva mais a memória dos mortos. A juventude fez do amor uma experiência descartável. A moda do “ficar” é uma relação sem compromisso, interessa só o carinho de um dia. A vida e o sentimento alheios não vêm ao caso. Alguns adolescentes fazem listas de “ficantes”. Isto acontece no amor, na amizade, no trabalho e no estudo. É perigoso até Deus cair nesta! Podemos ser tentados a querê-lo só nos momentos de necessidade! No texto bíblico de hoje, o autor nos alerta para momentos na comunidade, nos quais o homem perderá o seu sentido de filiação divina, comportando-se como se não tivesse fé. Quanto a nós, devemos permanecer firmes não aderindo à moda do homem descartável – sem moral e sem dignidade absoluta.

4. RECUPERAR A CONDIÇÃO DE AMAR
Depois de elaborarmos um retrato da pessoa humana na nossa sociedade, aproximemo-nos da raiz do problema e ao mesmo tempo da solução. Há urgência de recuperar a condição de amar. A educação nos convenceu que o homem se define pela sua capacidade de pensar. A razão humana tornou-se muito vaidosa. Precisamos nos afirmar pela nossa capacidade de amar. Considerando esta problemática, Bento 16 escreveu sua primeira carta encíclica, com o título “Deus é amor”, refletindo sobre este tema.A condição de amar iguala todo ser humano. Deus nos criou, nos salvou e nos santificou movido pelo seu imenso amor. A nossa resposta não pode ficar por menos: só pode ser amor correspondido. O amor precisa ser cultivado. A cultura e a situação social na qual nascemos podem ofuscar nossa capacidade de amar. Violência e desrespeito só geram ódio. Só quando aceitarmos o direito de o outro ser diferente, abrindo-nos ao diálogo, é que será possível criarmos uma civilização do amor. A desumanização, o homem descartável, a indiferença e o individualismo desaparecerão, quando corrermos o risco de amar. Esta arte é exigente. Ela nos aproxima de Deus e nos direciona para a caridade. Uma caridade-amor que realiza a justiça, a paz e supõe a fé e a esperança. Amar exige cultivar, disposição, correr risco de se decepcionar. Implica tempo para a escuta. Nosso mundo barulhento desaprendeu esta lição.Procuremos melhorar nossas relações no meio em que vivemos. Busquemos ser agradáveis e
acolhedores com os outros, preocupando-nos com eles. Cultivemos amizades sinceras. Sejamos tolerantes! Lembremo-nos de que amar não é os dois amarrados olharem um para o outro, mas ambos olharem para uma mesma direção. E esta é o bem de todos. A 1a Carta aos Coríntios nos ajudará nesta tarefa.

0 comentários: