terça-feira, 29 de março de 2011

Tempos de Poesia:

RITMO DE UMA MANHÃ

 José Aristides da Silva Gamito


As manhãs entre nós
Não terão o mesmo sabor, nem o mesmo som;
As canções não atingirão o mesmo tom
Deste instante que não sairá da minha mente.

É tão difícil falar... Às vezes, prefiro o silêncio.
Minha voz se perde dentro da multidão,
São tantos murmúrios e vãs opiniões.
Sempre o ideal fica pra trás,
O real não se atinge jamais.

O justo morre na cruz,
Enquanto, o corrupto se deleita frente aos holofotes.
Não importa seu título, sua razão,
Amar é mais... A vida é sacrossanta.
Filosofar é despertar de um sono pesado
À base de entorpecentes aristocráticos.

Quando amanhece e de ressaca se padece,
É que a gente vê o ritmo da vida na manhã,
Não vale a pena ceder à voracidade do mal,
Morrer não é normal. Tenho sede de vida!
De vida bem vivida em paz e justiça,
Além do bem e do mal!


Conceição de Ipanema, 29 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Política e Guerra:

INTERVENÇÃO NA LÍBIA: OS JUÍZES UNIVERSAIS ENTRAM EM AÇÃO

Mapa da Líbia (CRÉDITO: Guia Geográfico).

José Aristides da Silva Gamito

Mais uma vez as potências ocidentais assumem o papel de juízes universais e prometem democratizar um país, agredindo-o militarmente. No dia 18 de março, teve início na Líbia mais uma intervenção militar liderada pela prepotência dos Estados Unidos.  A mesma história se deu com o Afeganistão, em 2001, e com o Iraque, em 2003. É verdade que os Talibãs, o Sadam Hussein e o Muammar Khadafi violaram a liberdade dos cidadãos e os direitos humanos. Todos representavam ditaduras. Mas os Estados Unidos e seus aliados são oportunistas. Eles sempre usam o modelo de “democracia” ocidental para justificar uma intervenção militar para derrubar o ditador, mas, no fundo, o que eles querem é uma oportunidade para garantir seus interesses e influência nas regiões antiocidentalistas.
Esses ataques reforçam cada vez mais a diferença entre oriente e ocidente. Aliás, essas divisões não têm fundamentos geográficos, são na verdade guerras de ideologias e interesses econômicos entre o mundo “cristão capitalista” e o mundo “islâmico ditatorial”. Por trás da religião e da cultura esconde a ganância capitalista com a máscara da política.
As experiências no Iraque e no Afeganistão mostraram para o mundo que tais intervenções não são uma saída inteligente. O único resultado alcançado foi um país devastado, insegurança, mutilações e miséria para os civis. Além disso, essas tentativas de democratização representam a crise da ONU. Seu famoso Conselho de Segurança representa na verdade as aspirações bélicas dos Estados Unidos. Enquanto, o poder econômico for o principal critério para representar um organismo internacional como a ONU, nunca haverá um Conselho imparcial.
Outras consequências mais graves dessas guerras são o destino que os EUA dão aos prisioneiros de guerra, como exemplo, temos Guantânamo. Esta prisão é um campo de concentração autorizado, no qual os direitos humanos são violados. Enfim, o ideal de democracia ocidental é muito ambíguo e precisa de revisão. Do mesmo modo, precisa-se de uma urgente reforma de todos os organismos internacionais que têm como o objetivo a justiça e a paz no mundo. O Brasil seria um ótimo candidato a dar uma nova fisionomia à ONU.
           

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Literatura e Poesia:

ENTRE O SONO E A VIGÍLIA


Desde os 8 anos que gosto de compor poemas, produzi muito; passei por uma fase de descrédito e apatia; mas, voltei a acreditar que a poesia é uma linguagem fascinante.
 
"Nem tudo o que parece, é o que aparenta ser".

Já não tenho mais ilusões,
Já fui curtido pelas tragédias,
Mas como é doce se iludir,
E pensar que há vida sem dor!

Às vezes, fecho os olhos e acredito em fadas,
Mas em segundos minha razão se recobra
E me lembra que estou no mundo, no Brasil,
E que a dor que me dói é real.

Já parei para pensar em milagres,
Para considerar os discursos dos profetas,
Mas tudo era abstração e mera abstração.

Hoje dizem que sou “seco”, digo que sou real,
Se não tenho mais ilusões,
Não significa que não tenho mais esperança
E que não amo mais,
Apenas amo com a exata medida do amar
E não tenho mais medo de me ferir.

José Aristides da Silva Gamito
Conceição de Ipanema, 14/03/2011

domingo, 20 de março de 2011

Português:

O USO DE ESTRANGEIRISMOS EM LÍNGUA PORTUGUESA

Sempre tive uma paixão por línguas estrangeiras, mas ao mesmo tempo conservei a opinião de que todo idioma deve preservar a sua identidade e seu modo de expressão. No mundo globalizado não é mais possível imaginar um idioma que não seja influenciado por termos ingleses, principalmente na área da tecnologia. O problema é que na Língua Portuguesa isso acontece muitas vezes de modo desnecessário. Uma interferência nesse processo não definirá como ou qual a forma que uma palavra tomará na prática e se consagrará pelo uso, mas deveria haver uma equipe permanente que pudesse moderar os neologismos. Não de um modo normativo, apenas como sugestão. Isso preservaria a identidade do Português. Pensando nisso abri um espaço wiki com o título de “Ensaio das Palavras” para postar e discutir neologismos. E introduzi também a arte de criar nomes para pessoas. A esta arte chamo provisoriamente de “neonomástica”.  Parece exótico, mas vale a pensa conferir.

Confira o projeto neste link: ENSAIO DAS PALAVRAS

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ética e liberdade:

SER E TER, QUERER E PODER: OS VERBOS FUNDAMENTAIS
 DA AÇÃO HUMANA

José Aristides da Silva Gamito*



Em filosofia, muito se discute sobre os valores morais e os limites da liberdade humana. Todas as nossas atitudes cotidianas estão carregadas de juízos de valor. Nós selecionamos o que é bom, o que é mau. E, consequentemente, realizar boas escolhas e usar a liberdade com responsabilidade são condições importantes para que vivamos em sociedade, garantindo a paz e o bem-estar de todos.
Existem quatro verbos fundamentais que nos ajudam a avaliar a ação moral: Ser e ter, querer e poder. O ser refere-se à nossa identidade, como nós nos definimos e nos situamos no mundo, principalmente, em relação aos outros. O senso moral requer que a gente saiba se situar no mundo, se impor. A ética de Aristóteles afirma que precisamos estar atentos aos excessos. O ideal é ser na medida certa. Há pessoas que se perdem no “parecer ser”. Elas ostentam uma imagem, apegam-se a uma máscara e querem ser o que não são. Existem também aquelas que são menos, ou seja, se reprimem e se consideram inferiores às outras pessoas.
O ser tem uma relação muito direta com o ter. A sociedade consumista valoriza demais o ter. Porque este ajuda a manter as aparências. Nós precisamos ter bens para a sobrevivência e para garantir a qualidade de vida, mas quando temos em quantidade demasiada, acumulamos, desprezamos o ser dos outros. Muitas pessoas têm de sobra enquanto outras são privadas de bens indispensáveis à vida. Assim como o ser, o ter precisa ser dosado. Ter acima do ser desumaniza as relações.
O outro par importante é querer e poder. Consideramos poder no sentido de ser permitido, ter capacidade para realizar uma ação. A avaliação ética depende de uma pergunta fundamental: “O que eu quero, eu posso?” Há pessoas que perdem a noção de limite e pensam que podem realizar tudo que querem. E neste sentido, querer não é poder. Todos nós temos direito de defender qualquer ideia, crença, mas antes de pô-las em prática temos de avaliar os valores éticos da sociedade na qual estamos inseridos, principalmente, as consequências de nossas ações na vida dos outros. Jamais podemos nos esquecer disso: Eu decido por mim, mas nunca pelos outros. A decisão é uma atitude singular.
Na difícil tarefa da busca pela felicidade é importante avaliarmos nossas ações, nos questionando: “Quem sou”, “o que tenho”, “o que quero” e “o que posso”. A pessoa nunca deve se esquecer, em suas atitudes quotidianas, de que é um ser humano, de que deve ter o necessário para viver dignamente e não se perder no excesso que priva o direito do outro; não se esquecer de considerar que a vontade nem sempre coincide com aquilo que pode ser feito.
Em síntese, a liberdade não é ilimitada. Hoje, vemos nos noticiários muitos jovens que se perdem no crime. E muitos deles são jovens de classe média. Parece que a atual geração de pais não aprendeu a dizer “não” aos seus filhos, a ensinar-lhes que nem tudo que querem, podem.
Portanto, a ação moral depende da harmonia entre aquilo que somos, que temos, que queremos e que podemos. A felicidade, a vida em sociedade, todas dependem de um bom juízo moral. Evitando os excessos, como já ensinava Aristóteles. E nunca perder de vista a pessoa do outro porque é na alteridade que eu me humanizo, que eu me descubro gente: “Homem algum é uma ilha”.

             
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fundamentalismo Religioso:

A VIOLÊNCIA RELIGIOSA E O PROBLEMA DA VERDADE

José Aristides da Silva Gamito*

Edições do livro do papa em várias línguas.


A recente publicação de Bento XVI “Jesus de Nazaré – Da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição” sobre o sentido teológico da última semana de vida de Jesus trouxe à tona a discussão sobre a violência religiosa e os verdadeiros fins da religião. Entre outras afirmações, o livro traz importantes declarações para apaziguar a relação entre as religiões. O papa afirma que a religião não pode se afirmar por meio da violência, que os judeus não são coletivamente culpados pela morte de Jesus e também que Jesus nunca pretendeu uma revolução violenta. Tais afirmações são bem-vindas em um contexto de divergências religiosas.
Em muitos momentos da história, a religião foi o combustível mais perigoso para deflagar uma guerra. O ser humano leva muito a sério suas convicções religiosas, e uma vez que essas chegam ao nível do fundamentalismo, qualquer medida para assegurá-las é legitimada. Quando uma verdade religiosa se fecha e cristaliza no tempo, os fiéis a tomam com segurança. Dar uma nova interpretação a ela não é tarefa fácil.
As Cruzadas, a Inquisição, o consentimento da escravidão negra na América, tudo isso advém de posições religiosas cristalizadas, que não permitiram um reexame. A cultura e as relações sociais foram se transformando, mas os princípios de fé continuaram sendo expressos do mesmo modo.
Quando a consciência endurece, torna-se insensível às mudanças, e até mesmo valores como fraternidade e compaixão são esquecidos ou deixados em segundo plano. Isso pode ser observado em muitos momentos históricos nas atitudes de cristãos, judeus e mulçumanos. Eles quiserem defender tanto seus dogmas que esqueceram até de amar o próximo. E o próximo na ética cristã é o outro humano indiferentemente de sua confissão religiosa.
A verdade fechada é um risco em todos os aspectos da vida. É preciso lembrar às pessoas de fé que o zelo em excesso torna-se vício. O Brasil é um país tolerante, mas ainda vemos católicos e evangélicos se estranhando. Muitos cristãos têm a tentação de satanizar as religiões afrobrasileiras. Existem famílias que se dividem por causa da intolerância religiosa. Ainda temos muito a aprender.
Agredir, tolher a liberdade, restringir direitos, evitar a convivência por causa de divergências religiosas é o maior contratestemunho que um fiel pode dar à sua religião. É a máxima contradição que anula as bases dos valores que a pessoa quer defender. Se a religião não promove a vida, então, não é benéfica. Portanto, não pode ser atribuída a Deus.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.