segunda-feira, 23 de maio de 2011

Filosofia V


O QUE É A FELICIDADE?

José Aristides da Silva Gamito*

O que é a felicidade? O que realmente nos faz felizes? Dentre tantas propostas de felicidade no mundo de hoje qual é mais sensata e realista. Todos sejam ser felizes. Nisso todos estão de acordo. As principais fontes de busca da felicidade têm sido a riqueza, o prazer e a fama. Desde o tempo do filósofo Aristóteles tais buscas já existiam. Mas será que isso traz felicidade?
Hoje existem tantos livros de autoajuda que prometem mostrar a fórmula da felicidade. O movimento em torno da teoria chamada de “o segredo” afirma que tudo que desejamos obtemos, muitas igrejas também colocam Jesus o realizador infalível de toda e qualquer felicidade. Podemos acreditar nessas propostas fáceis de felicidade?
As pessoas hoje se tornam infelizes procurando a felicidade. Quando a busca se volta para uma ilusão, a pessoa se frustra. A filosofia nos alerta através dos tempos que se a felicidade confunde com o prazer, não há felicidade sempre. O prazer se esvai. Na vida há dor e há prazer. Se estiver na riqueza, sempre haverá um medo de perda, uma insegurança. A felicidade não combina com isso. O sucesso é ilusório, pois depende muito mais dos outros do que da gente mesmo.
Como a filosofia lida com a questão da felicidade? Vamos ouvir a resposta de dois filósofos: Agostinho e Aristóteles. Agostinho (354-430) considera que a felicidade é possui um bem eterno. Os bens passageiros acabam e não garantem felicidade. Então, a pessoa para ser feliz tem de se conhecer bem, saber dominar as suas emoções, viver com responsabilidade. Porque para Agostinho, ser feliz é alcançar a verdade e a sabedoria. A sabedoria ajuda a pessoa a fazer boas escolhas, a evitar o mal, e a verdade faz com que a pessoa tenha de certeza de está caminhando no rumo certo. A felicidade última está em Deus, pois ele é verdade e sabedoria. A dica de Agostinho não pra ser feliz sem buscar a sabedoria. Quem não aonde quer chegar, também não sabe como caminhar!
Para Aristóteles (384-322), não é possível ser feliz sozinho. O homem depende dos outros. A amizade é importante na busca da felicidade. Ser feliz para esse pensador é também buscar o bem maior, que basta a si mesmo. A gente aprende a ser feliz praticando o bem, sendo justo, verdadeiro. Tudo isso, se aprende praticando. Por fim, Aristóteles diz que a felicidade de todos se faz através da política. Mas política não entendida como “politicagem”, mas como união de esforços para que todos adquiram as coisas necessárias para ser feliz.
Para concluir, qual a lição sobre a felicidade que a filosofia nos deixa? A felicidade não é uma questão de desejar, é educação do a dia a dia. Ela é aprendizagem que se faz com sabedoria. Nenhum título, nenhum bem, nem a leitura de um livro, por si só fazem alguém feliz. Além disso, quer uma felicidade sem o sofrimento é ilusão. Por fim, diria que a felicidade é aquela disposição interior de saber superar com elegância os problemas da vida. Tendo sempre em mente que só bem compensa!

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

Filosofia IV


PORQUE SOFREMOS? QUAL A CAUSA DO MAL?

José Aristides da Silva Gamito*

Qual a causa do sofrimento e do mal no mundo? Você percebeu que por mais que desejemos um mundo solidário e justo ainda acontecem atrocidades. O mal nos envolve por todos os lados. Existem assassinatos, acidentes, fome, genocídio. Onde está a causa de tudo isso?
Para a origem do sofrimento as pessoas três respostas: O destino, a providência de Deus e a liberdade humana. Alguns acreditam que tudo está escrito. Existe a hora de alguém. Um acidente, por exemplo, seria o destino de alguém. Então, quem este destino certamente é alguma inteligência muito brincalhona e vive zombando da vida dos seres humanos. Aliás, até sendo mesmo cruel com eles.
A segunda resposta é colocada na providência de Deus. Muitas pessoas de fé entendem que Deus escolhe as pessoas e determina o que acontecerá com elas durantes a vida, inclusive a hora da morte. Quando alguém morre, às vezes de forma violenta, há pessoas que afirmam que era a vontade de Deus. Neste caso, a causa do mal estaria em Deus. Este problema que persiste até hoje! Mas Agostinho vivia preocupação com esta questão: Como um Deus tão bom poderia permitir o mal? Depois, muita resistência e reflexão o filósofo chegou à conclusão de que a origem do mal está no abuso da liberdade por parte do homem.
A terceira resposta está na liberdade humana. Então, o mal e o sofrimento são resultado das escolhas humanas. Alguém que morre de acidente, por exemplo, é resultado do uso da liberdade seja dele, ou de outra pessoa irresponsável que acabou o atingindo. Assim entende a filosofia, o mal que sofremos é consequência de nossas escolhas, ou da escolha dos outros, ou de uma falha da natureza. As vítimas de terremoto como o do Haiti morrem por causa de uma falha da natureza. O homem precisa usa sua inteligência para vencer e se adaptar aos comportamentos violentos da natureza. Boa parte desses males pode ser evitada com uso da tecnologia, por exemplo.
De ponto de vista da filosofia, a crença no destino e na providência não tem sentido. Porque o destino é algo cego e irracional e tira a liberdade do homem. A providência de Deus é uma ideia perigosa porque coloca Deus como o criador do mal. O homem precisa assumir a sua liberdade com responsabilidade. Mesmo que não haja liberdade total. Existe, sim, liberdade individual que faz divisa com a liberdade do outro e que faz divisa com a limitação da natureza. Uma doença não escolha minha, nem do outro, nem de Deus, é uma falha da natureza. Mas por isso estamos abandonados! A ciência, os cuidados todos ajudam a evitar uma doença ou controlá-la. Portanto, a causa do mal e do sofrimento se encontro no interior do homem ou da natureza. Deus e o destino não podem gerar o mal.

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

Filosofia III


O PROBLEMA DA VERDADE

José Aristides da Silva Gamito*

Será que existe verdade? Por que existem tantas verdades divergentes?

Será que existe verdade? Se existir, como saber, dentre tantas explicações para um mesmo assunto, qual é a verdade? Você já observou que as pessoas têm as mais variadas opiniões sobre um mesmo assunto? E que toda religião tem crenças diferentes e todas dizem ser verdadeiras? Este é o nosso desafio de hoje.
A filosofia possui 25 séculos de história. Desde o início a preocupação dos filósofos era a busca pela verdade. Mas é preciso diferenciar verdade de opinião. Cada tem uma opinião a respeito de um assunto. A verdade seria aquela explicação que tem o sentido ou comprovação completa de uma questão. O problema da verdade é bastante abrangente. Existem vários times: Os céticos não acreditam que o homem possa atingir a verdade. O filósofo Nietzsche chegou a dizer: “A “única verdade que existe é a de que não existe verdade”. Os dogmatistas têm certeza da existência da verdade. Os empiristas são como a figura típica de “Tomé”, eles precisam experimentar para ver a verdade. Os relativistas defendem que cada um tem sua verdade, e depende da situação. Com qual grupo você se identifica? Ou você é um fideísta que acredita em tudo que ouve sem questionar, sem um critério de verdade.
A filosofia nos leva à posição do crítico, aquele que analisa primeiro o sentido daquilo que lhe falam ou que le. É preciso verificar se uma afirmação tem sentido. Para dar um exemplo simples, a fofoca é uma demonstração da armadilha da verdade. A fofoca passa de boca em boca, vai aumentando, e quem recebe a mensagem confia tanto nela que a repassa do seu jeito. O resultado é um conflito ou uma injustiça com alguém. Nem tudo que alguém nos fala, aconteceu. Sem critérios, escolhemos as informações erradas, baseadas em mal entendidos, ou em interesses escusos.
Os filósofos antigos tendiam mais em acreditar na existência da verdade. Com exceção, dos céticos. Os pensadores do nosso tempo não falam em verdade, mas em discurso com sentido. A verdade absoluta para eles não existe porque nossa inteligência e nossa linguagem é limitada. Um exemplo de relatividade, é a imagem que as religiões tem de Deus. Os cristãos acreditam em um Deus em três pessoas. Os judeus em um Deus único e indivisível. Os hindus acreditam em milhares de deuses. Os budistas não pregam a existência de Deus. Quem está com a verdade?Para cada um a verdadeira é a sua religião.
Mas para a ciência existem verdades. Ninguém duvida que o Sol exista, que existam células. São afirmações que a olho nu ou através de aparelho podem ser comprovadas. A filosofia não duvida de tais afirmações quando se trata de questões físicas. Mas quando se trata de afirmações abstratas, que não podem ser vistas, é preciso critério. Mesmo uma verdade científica não é absoluta. Afirmava-se que a Terra era o centro do sistema solar, depois chegou-se a conclusão de que é o Sol.
Portanto, nenhuma pessoa sensata pode afirmar uma verdade, sem conhecimento de causa, sem questionar, sem verificar. Não existe verdade absoluta, existe um discurso com sentido. Na história, já houve guerras disputando verdades que nunca serão comprovadas. A lição desta edição é que na vida nunca embarquemos na pretensão da verdade absoluta. Isso nos fecha às novidades, à relação respeitosa com o outro. O homem está em construção, a história em construção. Nada está acabado, pronto. Todos temos valores, não é sensato deixar essas diferenças prejudicarem nossas amizades. A humildade é fundamental! Encerro este texto com as palavras de Umberto Eco: “A única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade!”

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

Filosofia II


O VALOR DAS IDEIAS

José Aristides da Silva Gamito*

Falemos sobre a força e valor das idéias. Se você acha estranho existir uma área do conhecimento dedicada às ideias como a filosofia é porque ainda não observou a influência que uma ideia pode ter na vida prática. O que a mídia vende hoje são ideias. Um produto muito valioso no mundo capitalista. Através das idéias difundidas pelos meios de comunicação muitos comportamentos são moldados. As pessoas repetem os chavões das novelas e inconscientemente escolhem as melhores marcas por sugestão das propagandas. Idéias já geraram guerras, já construíram impérios. Eis o valor das idéias!
O termo ideia vem de uma palavra grega que significa “imagem”. A idéia é justamente isso: Uma representação da realidade. Ela é como uma lente através da qual a pessoa enxerga mundo, dá cores próprias ao que vê. Cada pessoa enxerga a realidade de um modo único. A filosofia surgiu justamente para debater idéias. E a intenção dessa produção de idéias é compreender melhor o mundo para que a vida do homem também seja melhor. O filósofo Sócrates acreditava que toda pessoa pode gerar conhecimento por meio do debate de idéias. Ele conversava com pessoas que se diziam sem sabedoria, seu diálogo e perguntas insistentes levavam tais pessoas a descobrirem o conhecimento que tinha. Ele chamou esse modo de ensinar de “parto das idéias”, em grego, maiêutica.
Percebe-se então que uma pessoa não pode viver bem sem boas idéias. Eis a importância da filosofia: Não existe popular “que é conversando que entende”? O homem se distingue dos outros animais justamente pela capacidade de expressar as suas idéias. Segundo a ciência, os chimpanzés se comunicam e transmitem comportamentos e tradições para seus semelhantes. Mas somente o homem desenvolveu a faculdade de gerar idéias e compartilhá-las com os outros. Isso corresponderia a uma ferramenta, um instrumento que ajudou os homens a se unirem formando comunidades e através unindo esforços, dividindo as tarefas e tornando a vida menos trabalhosa.
Muitas campanhas benéficas acontecem por meio da difusão de idéias. Mas o nazismo é um exemplo de que um discurso pode causar um grande mal. Adolf Hitler conseguiu conquistar o apoio dos alemães foi através de discursos arrebatadores que engrandeciam a pátria. Quando as pessoas assustaram já estava sendo cúmplices do pior massacre da humanidade: A morte dos 6 milhões de judeus nos campos de concentração. Por isso, é importante o uso criterioso das idéias para que sejam a favor do ser humano. A filosofia tem como objetivo realizar esta tarefa de produzir idéias claras e benéficas para a vida seja melhor!  

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

Filosofia I


AS ORIGENS DA FILOSOFIA E SÓCRATES

José Aristides da Silva Gamito*

Vamos conversar sobre filosofia? A palavra filosofia significa “amizade ao saber, à sabedoria”. Ela é uma das formas de conhecimento mais antiga da humanidade. Ela é o ponto de partida para a maioria das ciências que hoje existem. Sua origem se deu no século V antes de Cristo. Ou seja, 500 anos antes de Cristo. Seu berço foi a Grécia Antiga. O primeiro filósofo conhecido da história se chamava Tales de Mileto. Ele e seus discípulos abandonaram as explicações que as pessoas davam à realidade através de mitos e entidades religiosas, e passaram a usar a razão para explicar o mundo.
O homem se despertou para a filosofia justamente quando passou a usar raciocínios organizados, coerentes e centrados na realidade para explicar a causa de tudo que existe. Antes se explicava tudo de modo fantasioso, baseado na imaginação e na inspiração poética. Eis o nascimento daquela atitude que chamamos de razão! A partir dos primeiros pensadores foi construída uma história de busca pela sabedoria de 2.500 anos. Essa história é contada assim: Do século V antes de Cristo ao século V depois de Cristo – chamamos de Filosofia Antiga; do século VI ao século XV- chamamos de Filosofia Medieval. Do século XVI ao século XVIII – Filosofia Moderna. E os demais séculos até hoje são a Filosofia Contemporânea. Durante esse tempo se pensou sobre quase tudo!
Vamos ficar com a história de um homem importante da antiguidade que se tornou a figura típica do filósofo: SÓCRATES. Ele viveu entre 470 e 399 antes de Cristo. Sua história tem alguns pontos em comum com Jesus. Sócrates era um sábio que fascinava a juventude de sua época, tinha uma facilidade em vencer as pessoas em debates. Seu modo de ensinar consistia em fazer perguntas insistentes e induzir a pessoa mesma a procurar as respostas. Seu principal ensinamento era “conhece-te a ti mesmo”. Ele era preocupado com a busca da verdade e a prática da justiça. Sua fama se tornou imensa. Ele foi acusado de corromper os jovens e não acreditar nos deuses. Defendeu-se no tribunal, mas foi condenado a beber cicuta. Na prisão, seus discípulos tentaram convence-lo a fugir, mas foi coerente até o fim e morreu envenenado por causa de suas idéias. A filosofia é uma sabedoria, mas ao mesmo uma atitude de vida.

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Gênero humano:


A AMBIGUIDADE DA CONDIÇÃO HUMANA:
UMA POSIÇÃO ENTRE O FINITO E O INFINITO

José Aristides da Silva Gamito*

“O homem não passa de um junco, o mais fraco da natureza, mas é um junco pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo. Um vapor, uma gota de água, é o bastante para matá-lo. Mas, conquanto o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que aquilo que o mata, porque sabe que morre; e a vantagem que o universo tem sobre ele, o universo a ignora. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento” (Blaise Pascal).

Você já se perguntou a respeito da identidade do homem? Quem somos nós, afinal? Nós fomos educados ouvindo duas definições: O homem é um animal racional e o homem é uma criatura de Deus. O problema a ser abordado hoje faz parte desta definição religiosa. A sociedade ocidental levou essa frase muito ao pé da letra e o homem tomou para si um orgulho de ser a criatura preferida de Deus. Mas seria verdade que esta superioridade do homem em relação às demais espécies é real?
A tradição judaico-cristã ao definir o homem como um ser criado diretamente por Deus e sendo modelado à sua imagem e semelhança deu uma autoridade extrema às pessoas. O progresso científico e a exploração indiscriminada da natureza são exemplos dessa ideia fixa de superioridade. A vida das outras espécies não importa. Isso demonstra o poder que tem uma ideia! Mas com o desenvolvimento das ciências o orgulho humano foi sendo ferido. Quando Charles Darwin publicou sua pesquisa sobre a evolução das espécies uma nova identidade foi conferida ao homem. Ele é apenas mais uma espécie, a diferença está na evolução de seu cérebro. E cada vez mais, o caráter especial do homem foi sendo diminuído. Hoje, pesquisas com chimpanzés e outros primatas demonstram que eles têm inteligência, criam ferramentas, têm organização social e até sentimentos. É! Muita gente terá de descer do pedestal!
Outro cientista revolucionário foi Sigmund Freud. Este demonstrou que a maior parte de nossas ações acontece de modo inconsciente. O homem não tem todo este domínio sobre si. Temos uma boa porção animal! É a educação que nos faz comportar diferente. Outro baque para o orgulho humano foi o surgimento da parapsicologia. Esta ciência demonstrou que toda a relação do homem com realidades sobrenaturais vem de sua mente. Ele não tem o privilégio de se comunicar com seres sobrenaturais. Esses avanços da ciência demonstraram que o homem é um animal comum. Ele se adaptou melhor à natureza.
Por outro lado, o homem também não pode ser definido simplesmente como racional. Os sentimentos, os instintos também falam alto no comportamento humano. Razão e sentimentos andam juntos. Portanto, voltamos à pergunta: O que é o homem? Um animal simples por natureza, mas complexo no seu processo de adaptação. Ele é natural, racional, sentimental. Um pouco de tudo que há na natureza. Às vezes é tão inteligente, meigo, outras vezes, tão rude e cruel. Somente a educação ética é que nos melhora. Nós, os verdadeiros protagonistas cuidadores da natureza. Não é privilégio, é responsabilidade diante das outras espécies!

*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Filosofar:



QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE A FILOSOFIA E O SEU CELULAR?

José Aristides da Silva Gamito*


O sistema educacional brasileiro adotou a disciplina filosofia em sua grade curricular. Durante muitas décadas a filosofia ficou escondida do grande público. Os filósofos e professores de filosofia se encarceravam dentro das universidades. Além desse distanciamento físico, se gabavam do linguajar técnico e inacessível do filósofo.  Atualmente, esta realidade vem se transformando. Apareceram muitas publicações avulsas e periódicas sobre o tema. As bancas de revistas se tornaram pontos importantes de popularização deste saber bimilenar.
Diante de tantos avanços, percebemos desafios desanimadores quanto à aplicação da filosofia no Ensino Médio. Existem muitos professores lecionando a disciplina sem conhecê-la. A filosofia está perdendo uma oportunidade rara de mostrar a sua verdadeira face. Muitos professores subestimam o valor da filosofia e a rotulam de formadora do “pensamento crítico”. Ora, a mostram como conhecimento abstrato e inacessível; ora, a mostram como algo banal, meia dúzia de pensamentos de autoajuda. Mas afinal, o que é a filosofia?
A filosofia é um saber que possui vinte séculos de experiência acumulada. Não há uma única definição para filosofia. Etimologicamente, a palavra filosofia quer dizer “amizade ao saber”. Mas é melhor nos concentrarmos na tarefa que ela desempenha. A atitude filosófica surge da indagação diante do banal e do corriqueiro. O filósofo não se contenta com o óbvio, com o imediatamente dado e parte para uma investigação sobre o sentido da realidade nas suas raízes.
É assim que surgiu a filosofia com Tales de Mileto e seus discípulos no século VII, na Grécia. Eles queriam saber qual era o princípio originador de tudo que existe na natureza. Eles não se contentavam mais com as explicações míticas. Quem não é capaz de se espantar diante da rotina, de se admirar frente à realidade, não está preparado para filosofar.
O conhecimento organizado surgiu na Grécia Antiga com a descoberta da razão, da lógica. A filosofia está na origem de muitas ciências modernas como a psicologia, a antropologia, a física, a biologia e outras. E se alguém pensa que a filosofia é inútil é porque ignora a história. A filosofia cristã de base platônica influenciou a mentalidade religiosa de todo o ocidente. O marxismo impulsionou os movimentos sociais e as grandes revoluções do proletariado. O iluminismo forjou nossa visão do homem como sujeito e detentor de direitos naturais.
Que relação há entre seu celular e a filosofia? Primeiramente, se não houvesse a revolução antropocêntrica e científica dos séculos XVI e XVII não haveria possibilidade para tal tecnologia. Segundo, o que você decide comunicar ou não pode mudar sua história ou a de outros à sua volta. Sem pensamento organizado e dirigido para a descoberta e a transformação do mundo não há tecnologia, não há conforto moderno. Esse e outros fenômenos tecnológicos atuais tão encantadores têm sua base na revolução operada pela filosofia ao longo dos séculos.

*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

História Regional:



Vermelho Velho: Como tudo começou?

José Aristides da Silva Gamito* 

Nas primeiras décadas do século XIX, toda a extensão ao longo do Paraíba do Sul até o rio Doce, o sudeste de Minas Gerais e o sul do Espírito Santo, eram povoados pelos índios puris. Essa região passou a ser interesse dos colonos somente com o fim do ciclo do ouro. As pessoas partiram da região mineradora para a Zona da Mata explorando as florestas, e posteriormente, dedicando-se à atividade agrícola, sendo o maior destaque a cafeicultura. As riquezas dessa atividade econômica levaram o município de Manhuaçu a se tornar uma república independente em 1896.
Vermelho Velho tem sua origem nesse processo de expansão. Em 1831, o explorador José Alves do Valle e sua família em busca de terras férteis chegaram até a Fazenda do Boachá. Segundo a tradição oral, em Vermelho Velho, onde se situava a antiga estação ferroviária havia uma aldeia indígena. José Alves fez amizade com esses indígenas e acabou dominando suas terras. Essa tribo foi dizimada pelo sarampo. A partir deste primeiro núcleo de povoamento a vila surgiu e se tornou distrito em 1856. Os nomes originais eram Ribeirão Vermelho, Freguesia de São Francisco do Vermelho.
A tradição oral assegura também que o nome foi dado em razão de o ribeirão apresentar terra vermelha em suas margens. Durante o seu período de desenvolvimento Vermelho Velho pertenceu a vários municípios até a sua atual condição de integrante do município de Raul Soares. A vida dos primeiros habitantes era de muito sacrifício, a região ficava muito distante das cidades maiores. O transporte dos produtos, as novidades, o contato com a capital do Império, era tudo difícil.
A chegada da ferrovia possibilitou bastante o progresso da região. Vermelho Velho se destacou na sua época de grande produção de café e cereais. O entusiasmo foi tão grande que em 1947 o padre Antônio Braga iniciou o processo de emancipação e que acabou não se concretizando por divergências políticas. O declínio só veio mais tarde com o êxodo rural na década de 70. Crimes políticos, intrigas, cangaço, pontos positivos e negativos marcaram a história dessa vila que parou no tempo.
Dois vermelhenses, eu, José Aristides da Silva Gamito, e José Alves Frutuoso, estamos nos preparando para publicar o livro “Vermelho Velho: Memórias e Perspectivas”. A obra contará e recontará a história desse povo que teve que enfrentar muitas dificuldades políticas e financeiras para atualmente se orgulhar de seu passado. Neste artigo, fica a pré-degustação da pesquisa que realizamos.

*Filósofo, teólogo e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.
Publicado no Jornal Regional, de Raul Soares, ano 25, março de 2011, nº 402.