terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poema para quem se foi, declamar


TERMINAL

José Aristides da Silva Gamito

Lembre-se de mim mesmo quando eu me for,
Meus olhos ausentes não vão ver o que ficou,
Um lugar vazio à mesa vai anunciar o fato,
E na parede a saudade vai bater quando vir meu retrato.

Você vai lembrar que eu gostava de rimar meus poemas,
Meus discursos tinham sempre os mesmos temas.
O fenômeno que me tragou está na vida de todo mundo,
A gente se indigna baixinho ao se lembrar de quem se foi,
Mas é um mistério por demais tão profundo!

Eu sei que dói forte quando se lembra de certas canções,
Elas se tornaram senhas de acesso ao nosso reencontro,
A gente queria recomeçar tudo, sentir as primeiras emoções,
Mas viver é suportar o devir e entender que tudo se dissolve,
Mesmo os mais lindos sonhos como eu e você.

Lembre-se de que mesmo que o epitáfio diga “descanso”,
Eu estarei lutando para viver mais dia perto de você,
Mesmo que tudo pareça ausente, minha lembrança vai permanecer.
Só peço: Lembre-se de mim mesmo quando eu me for!


28 de fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Felicidade e Drogas

FELICIDADE SEM DROGAS: O CONCEITO DE FELICIDADE DE ARISTÓTELES E A VIDA CONTEMPORÂNEA

José Aristides da Silva Gamito[1]

Introdução

Apresenta-se como um desafio a situação em que alguém é convidado a abordar a relação entre felicidade e drogas para jovens cristãos e o conceito de felicidade é tomado de um filósofo como Aristóteles. Primeiramente, todos esperavam que algum texto bíblico servisse de ponto de partida... poderia ser um texto bíblico! No Evangelho diz que alguns gregos queriam ver Jesus (Jo 12, 21). Então, vamos acompanhar o que esses gregos antigos tinham a dizer. E principalmente, um antigo grego chamado Aristóteles. Este filósofo pensou muito sobre o conceito de felicidade. De imediato, nós podemos afirmar que certamente uma vida sem drogas está mais propícia a alcançar a felicidade.

A felicidade na vida contemporânea

Desde os tempos de Aristóteles até nossos dias não há dúvida de que todos querem ser felizes. Porém, a ideia de felicidade varia de pessoa para pessoa. O mundo contemporâneo marcado pelo capitalismo e o consumismo pretende alcançar uma felicidade muito imediata, muitas vezes, focada no instante. Existem três bens, geralmente, identificado com a felicidade: O prazer, a fama e o dinheiro. Os jovens sofrem uma pressão social para atingir um desses bens.
As pessoas que buscam o prazer se identificam com um modo de vida sensível. Elas vivem às custas de satisfazer o instante e procuram festas, sexo, aventuras e drogas para intensificar o momento. As drogas entram justamente pelo fato de elas não conseguirem prazer o tempo. E não suportam o vazio de significado. A droga entra como um mundo paralelo que as esconde do sofrimento do mundo real.
Outras pessoas não se contentam com a simplicidade da vida e começam a procurar fama a todo custo. Elas desejam se divinizar para se sentirem felizes. A sociedade contemporânea se expõe muito em busca da fama. Até mesmo a intimidade passa a ser produto comercial para busca a fama. Geralmente, a fama está associada ao dinheiro. Quantos jovens não gostariam de ser artistas ou jogadores de futebol. A trilogia prazer, fama e dinheiro move o ideal de felicidade da maioria da juventude atualmente. A mídia cumpre um papel dilatador deste fenômeno. Os produtos como os reality shows, os comerciais, tudo vende esta imagem de felicidade.
Aristóteles em seu livro “Ética a Nicômaco” identifica esta mesma trilogia como o desejo de felicidade de seu tempo. Este fato torna muito atual a contribuição do filósofo para entendermos um conceito de felicidade que se não perde em instantes da vida, mas que contemple o todo da vida.

A felicidade segundo Aristóteles

Segundo o filósofo Aristóteles, toda pessoa age visando um fim. Ninguém estuda, trabalha, constrói, viaja a troco de nada. Se alguém trabalha, certamente procura dinheiro. O dinheiro, por sua vez, alguém o quer para seu bem-estar. Assim Aristóteles que realizamos nossas ações visando um bem. Existem objetivos particulares para cada ação realizada pelo ser humano, mas cada fim particular tende a um fim maior, um bem. Este bem maior se identifica com a felicidade.

Um bem, diz Aristóteles, é mais perfeito do que outros quando procurado por si mesmo e não em vista de outra coisa, e a felicidade é um bem deste gênero, diferentemente da honra, da riqueza, do prazer e da inteligência, que são buscados como meios para outros fins (CHAUÍ, 2002, p. 441).

Portanto, quando as pessoas se estacionam em fins particulares não atingem a felicidade. Se a pessoa trabalha somente para ganhar dinheiro, estuda apenas para ser aprovado no fim do ano. A felicidade não pode residir aí. A sociedade contemporânea tem buscado muito a felicidade em instantes de prazer e de satisfação, porém, tudo isso é transitório. Quando o momento passa a pessoa tem de correr atrás de outro. A felicidade no sentido aristotélico é a busca de um bem que basta a si mesmo.

A virtude e a justa medida

            Segundo a ética de Aristóteles para buscarmos a felicidade, precisamos praticar as virtudes. Ser virtuoso quer dizer evitar todo tipo de excesso nas ações. A virtude se adquire pela prática. É praticando bons hábitos que nos tornamos pessoas moderadas. Não é um processo fácil é preciso bastante disciplina. Isso significa tomar as rédeas da nossa própria vida. Portanto, a aquisição da virtude não é um processo automático. A virtude é uma disposição constante de agir de um determinado modo. Se alguém busca a felicidade é preciso agir segundo os princípios que propõem para si.
            O que define a ação moral boa é a justa medida. Diante das escolhas diárias temos de agir com moderação. Moderar significa ponderar, equilibrar e deliberar. O homem deve educar o seu caráter pela moderação. Existem muitos prazeres na vida. O jovem pode pensar somente no instante, no seu direito de usufruir. Mas este pequeno prazer pode estar entrelaçado com a possibilidade de uma grande dor. As novas gerações têm dificuldade com a disciplina. Ela é fundamental na arte de moderar nossas ações. Já que as minhas escolhas não podem ser recortes da vida. Elas estão entrelaçadas com o futuro, com o todo da vida. Por isso, muitas vezes ao moderarmos nossas ações renunciamos um pequeno prazer para evitar uma grande dor. A prudência deve acompanhar todas as nossas decisões.
           
A autonomia e a felicidade
             Na ética aristotélica, aparece um termo de grande importância para compreender o conceito de felicidade: A autarquia. A autarquia é uma característica da felicidade. Torna-se dono de si, auto-suficiente e autônomo que o homem poderá traçar e manter seus princípios, vivendo uma vida sem excessos. Nesse sentido, o homem vive tudo que é suficiente para a sua vida sem perder nos bens particulares.  A felicidade não está na posse de todos os bens, mas na escolha daqueles que são suficientes para possamos viver uma vida feliz.
            Por falta da autonomia, muitas pessoas se perdem no momento de escolher os caminhos a seguir. São muitas as opções e há promessas de soluções imediatas. Portanto, a felicidade depende de um exercício constante de escolhas, de moderações. Por isso, a autonomia é fundamental.


REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.


[1] Bacharel e licenciado em Filosofia  e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.


Ouça o conteúdo da palestra "Felicidade sem Drogas" do V Carnaval com Cristo, em Conceição de Ipanema, dia 19/02/2012:

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Poesia V

SONETO DE UM SONO TRANQUILO


José Aristides da Silva Gamito


Quando a sombra se estica sobre a serra,
A gente pensa no dia que findou,
Nos milhares de fatos sobre a terra,
Em que a gente fez e em que errou.

Quando a noite envolve a cidade
E o sono ronda nossa presença,
A consciência lamenta as faltas com a verdade
Ou se alivia no bem feito com alegria imensa.

Pois, quando vemos o dia partir
Com a sensação de ter realizado o bem
Não há o que lamentar e nem ressentir.

Não fechar o propósito de um dia
É perder a chance única de fazer acontecer
Talvez o passo decisivo de uma utopia.



Conceição de Ipanema, 2012