sábado, 24 de março de 2012

Crítica sobre os memes:


PARA A NOSSA TRISTEZA OS POLÍTICOS CONTINUAM ROUBANDO

José Aristides da Silva Gamito*

            Depois de “Menos a Luíza, que está no Canadá”, “Hoje é dia de rock, bebê”, chegou o meme “Para nossa alegria”. Dentro de poucos dias um vídeo vira febre na internet e atinge milhões de visualizações. Para a nossa tristeza todo mundo vai repetir a frase em todas as redes sociais, na TV e nas conversas do dia-a-dia. Anteriormente, em artigo, eu já havia discutido porque os memes ganham tanto destaque assim. São simples frases que ocupam a vida de milhões de pessoas. Mas grandes frases de efeito moral não ganham tal espaço na vida das pessoas.
            Situações como essas nos incitam a reflexão sobre a qualidade de nossa comunicação.  A difusão rápida de uma mensagem é um ponto positivo.  Não queremos considerar toda a problemática de forma negativa, queremos apenas apontar que ocupamos boa parte de nosso tempo para comunicar o repetitivo, o óbvio e o banal. As redes sociais permitem também a circulação de mensagens críticas e diretas sobre a realidade, porém, com uma intensidade menor. O entretenimento, pelo mero entretenimento, tem ocupado um espaço maior do que o esperado.
            Muitos internautas acessam a internet somente para redes sociais e jogos. Mas lá existe uma pluralidade de informações, assuntos como política, economia, saúde, ficam em segundo plano. A inclusão digital tem acontecido de um modo superficial, aprender a usar uma rede social não significa ser incluído. A inclusão significa ter autonomia para participar consumindo e produzindo informações de forma vinculada com a vida e com a necessidade das pessoas.
            Os filósofos da Escola de Frankfurt alertavam para essa leitura crítica da mídia. Sem cair na crítica pela crítica, devemos observar a qualidade da nossa comunicação. Há um contraste muito grande com a realidade em alguns aspectos, por exemplo, enquanto alguém está difundindo um meme, os políticos estão roubando, mais um está morrendo na fila do SUS.
            O banal toma espaço da comunicação e os fatos relacionados aos princípios básicos da vida ficam esquecidos. Portanto, o uso da internet e de outras mídias precisam ganhar atenção na escola e em outras entidades educadoras para que a inclusão e o seu uso tragam benefícios para a vida das pessoas, para que se tornem instrumentos de transformação das realidades sociais.

*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

terça-feira, 20 de março de 2012

Crítica da Religião:


 
O CRISTIANISMO COMO PRODUTO CAPITALISTA

José Aristides da Silva Gamito*

            Temos assistidos nos noticiários ultimamente uma disputa de territórios entre pastores midiáticos. Refiro-me à polêmica entre Edir Macedo e o Apóstolo Valdomiro. Sem entrar no mérito da questão, volto-me para a discussão do que o cristianismo se tornou na época capitalista. Este caso e outros que acontecem em diversas igrejas nos levam a conclusão de que o cristianismo se tornou também um produto capitalista.
            No capitalismo tudo se converteu em bem rentável. A forma como as igrejas adotaram a mídia ocorreu do mesmo modo que as grandes empresas. Igrejas constroem impérios, fazem espetáculos televisivos e vendem objetos religiosos. O marketing religioso é extremamente agressivo e possui as mesmas características do capitalismo selvagem.
            As igrejas têm se justificado seguindo a lógica maquiavélica: Os fins justificam os meios. Já que o grande fim de uma Igreja é anunciar Jesus. E isso é considerado de suma importância, logo, pode-se lançar mão de qualquer meio para engrandecer o nome de Jesus. Isso tem um limite! E o limite é a contradição. Muitas pessoas traem os valores do cristianismo, divulgando-os de modo inadequado.
            O enriquecimento às custas de uma igreja é um escândalo. Se o cristianismo surgiu de um movimento simples com um ideal de inclusão, não dá para conciliar essas duas posições. A Teologia da Prosperidade é a condensação, de certo modo, desta postura. Um escândalo para a realidade latino-americana. Os líderes se enriquecem em cima dos fiéis e prometem riqueza a todos. Mas na realidade isso não acontece.
            Talvez o que falte para disciplinar o que ocorre no Brasil é ter uma legislação mais específica de liberdade religiosa. Todos têm o direito de expressar sua fé, mas usar dela para se enriquecer e manipular ideologicamente as pessoas é um contra valor. Além do problema financeiro que se tornou um escândalo para o cristianismo, temos também o problema das doutrinas.   
            Muitos discursos religiosos são usados para fins médicos e terapêuticos. Se a religião não define bem o seu campo de atuação acaba entrando em choque com outras dimensões da cultura. De modo geral, causas secundárias tiraram atenção dos valores primeiros do cristianismo como amor ao próximo, perdão. No fim a conclusão é esta: Não basta se passar por cristão, é necessário ter convicção desses valores defendidos pelo Evangelho.

*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

domingo, 18 de março de 2012

Utopias:


 
A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR: QUESTÃO QUE EXIGE UMA CONSTANTE REFORMULAÇÃO

José Aristides da Silva Gamito*

            Muitos movimentos, associações, religiões e partidos já surgiram na intenção de concretizar a construção de um mundo melhor. Já temos milhares de representações dessas utopias. São válidas! Mas precisamos nos convencer que não é a criação de mais um movimento desses que vai mudar o mundo. Precisamos desenvolver nas pessoas as habilidades necessárias para sobreviverem aos problemas da época. A revolução tem de acontecer simultaneamente na pessoa e na sociedade. Sem convicção interna e pessoal nenhuma revolução gerará verdadeiros resultados coletivos.
            Para o século XXI, existem algumas habilidades fundamentais para a educação desenvolver: 1º - A consciência de unidade: Todos somos um, incluindo os seres mais diversos. 2º - A compaixão solidifica a convivência entre a diversidade, levando-nos a respeitar até mesmo aqueles seres da espécie humana que achamos que não deveriam ser do jeito que são. 3º - Nenhum conhecimento é absoluto: A inteligência é limitada e estamos em fase de descoberta constante. 4º - Todo conhecimento deve ser aplicado para o bem de todos e apesar dos interesses capitalistas. 5º - Reorganizar a educação dos nossos filhos, incluindo nela a possibilidade de ouvir o “não” e de admitir o sofrimento. 6º - Ensinar que o privilégio e a superioridade do homem diante das outras espécies na natureza é um equívoco histórico. 7º - Aprender a ouvir as diferentes tradições para não cometer os mesmos erros do passado. 8º - Ensinar a medir a distância entre prazer e dor na busca pela felicidade. 9º - Instruir a juventude de que o alvo de todo mal praticado é o seu próprio praticante. 10º - Procurar respostas certas para os reais problemas do tempo certo.
            Essas são habilidades que todo sistema de educação deve almejar. Há problemas do século XXI que precisam de uma reformulação da mentalidade capitalista do ocidente, sem operar essa revolução, retornaremos ao estado primitivo da natureza de uma guerra de todos contra todos e de um ambiente todo depredado.


*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Por favor, ética na política


SABER FAZER OPOSIÇÃO: HABILIDADE NECESSÁRIA PARA SER POLÍTICO EM UM ESTADO DEMOCRÁTICO

José Aristides da Silva Gamito*

            Mais um ano de eleições municipais está aí e nós nos perguntamos sobre a decência de nossa política. Dentro de poucos meses, nós veremos cenas desanimadoras. Em muitas cidades ainda existem rivalidades entre partidos e pessoas que confundem interesses públicos com interesses pessoais. O mais intrigante nas comunidades onde houve um forte coronelismo é a forma como as pessoas fazem oposição. Oposição chega a ser sinônimo de inimizade.
            A proposta de um estado democrático passa pela presença necessária da pluralidade de grupos e de opiniões. Todos têm direito de defender a sua proposta. O que as pessoas fazem errado quando militam em favor de causa é achar que sua proposta está acima do bem e do mal. Isso acontece com os partidos, com as religiões, com o futebol. Cada grupo se sente detentor da verdade e enxerga tudo que o outro defende como errado e sem sentido.
            O político que não sabe fazer oposição tem tudo para ser um ditador.  A oposição autêntica dentro da democracia é aquela enfrentada com decência. Dois opositores devem se sentar juntos quando o interesse é do povo. O direito da comunidade tem de estar acima das oposições. Há muitos vereadores e prefeitos das nossas cidades que fazem joguinho: Se foi o adversário que fez, mesmo que seja bom, ele vai lá e atrapalha. Este tipo concorrência partidária não é o que entendemos como democracia.
            Uma oposição decente é aquela que senta lado a lado com seu oponente e discute com naturalidade e com respeito as diferenças entre as propostas. Em termos de educação política, o nosso país tem de crescer muito ainda. Muitos passos já foram dados nessa jovem democracia. Mesmo pequenos são importantes diante de uma antiga e corrupta estrutura que sempre dominou a esfera pública. Para as próximas eleições, a Lei da Ficha Limpa é uma dessas vitórias da democracia.
            Portanto, gostaríamos de ver em nossos políticos uma concorrência decente e um serviço que seja verdadeiramente público. Essas mudanças precisam começar já! Porque a classe dos políticos já se tornou motivo de piada, perdeu o respeito diante da opinião pública. E serviço público é coisa séria não pode cair no ridículo como acontece no Brasil!
*Bacharel e licenciado em filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.

sábado, 3 de março de 2012

Texto: Peça teatral "Paixão de Cristo"

O PROCESSO DE JESUS NAZARENO

CENA I
(Os discípulos chegam juntamente com Jesus para a Ceia Pascal. Lá se encontra uma mesa com pão e vinho e candelabros. Ambiente devidamente ornamentado. Inicia-se o jantar.)
JESUS: Em verdade, em verdade digo a vocês esta noite alguém deste grupo vai me trair? (Todos se olham perturbados e cochicham.)
JOÃO: Acaso sou eu, mestre?
PEDRO (dirigindo-se baixinho a João): Sou eu o traidor?
JESUS: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. (Dirigindo-se a Judas): O que tem de fazer, faça-o logo. (Jesus entrega a Judas o pão e este imediatamente sai da sala.)
(Jesus levanta-se e lava os pés de todos os discípulos. Pedro não quer ceder, mas Jesus o convence. E depois volta à mesa.)
JESUSMeus discípulos, logo eu deixarei vocês, por isso eu deixo um novo mandamento: “Amem uns aos outros”. Quem tiver amor maior, entregue a vida pelo seu irmão. Nisto todos reconhecerão que são meus discípulos! (Jesus levanta o pão e o cálice em sinal de bênção e reparte a seus discípulos.) Façam isso em minha memória!

CENA II
(Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte das Oliveiras.)
JESUS: Esta noite serei para todos vocês uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas. Mas, depois da minha Ressurreição, eu os precederei na Galileia.
PEDRO: Mesmo que seja para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o será.
JESUS: Em verdade lhe digo: nesta noite mesma, antes que o galo cante, três vezes me negará.
PEDRO: Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei! (E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo.)
(Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani.)
JESUS: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.
(E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.)
JESUS: Minha alma está triste até a morte. Fiquem aqui e vigiem comigo.
(Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou.)
JESUS: Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres.
(Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo.)
JESUS: Então não puderam vigiar uma hora comigo. Vigiem e orem para que não entrem em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.
(Afastou-se pela segunda vez e orou.)
JESUS: Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!
(Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Voltou então.)
JESUS: Durmam agora e repousem! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantem-se, vamos! Aquele que me trai está perto daqui.

CENA III
(Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, e com ele uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.)
JUDAS (Aproxima-se imediatamente de Jesus e beija-o): Salve, Rabi!
JESUS: É, então, para isso que vem aqui? Judas, com um beijo entrega o Filho do Homem?
(Em seguida, adiantam-se eles e lançam mão em Jesus para prendê-lo. Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu Malchus, um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.)
JESUS: Pedro, guarde sua espada. Tudo isso aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas.

CENA IV
(Então os discípulos fogem. Jesus é conduzido a Caifás. Pedro segue de longe, depois que as tropas entram, ele se senta junto aos criados. Prossegue-se o interrogatório).
SUMO SACERDOTEVamos ouvir uma testemunha deste caso como nos ordena a lei.
TESTEMUNHAEle dissePosso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.
SUMO SACERDOTE (Levantando-se): Nada tem a responder ao que essa gente depõe contra você? (Pausa) Por Deus vivo, conjuro você que nos diga se é o Messias, o Filho de Deus?
JESUS: Sim. Além disso, eu lhes declaro que verão doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu.
SUMO SACERDOTE (rasgando a roupa): Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabaram de ouvir a blasfêmia! Qual o parecer de vocês?
GRUPO: Merece a morte!
(Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas)
GRUPO: Adivinha, ó Messias: quem bateu em você?
(Enquanto isso, Pedro está sentado no pátio. Aproxima-se dele uma das servas.)
SERVA: Também você estava com Jesus, o Galileu.
PEDRO: Não sei o que diz.
(Dirige-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra criada o vê e diz)
SERVA (indicando): Este homem também estava com Jesus de Nazaré.
(Pedro, pela segunda vez, negou com juramento)
PEDRO: Eu nem conheço tal homem.
(Pouco depois, os que ali estão aproximam-se de Pedro)
SERVO: Sim, você é daqueles; seu modo de falar o dá a conhecer.
(Pedro começa a se desculpar e fazer juramentos. E, neste momento, canta o galo. Pedro se lembra de Jesus, sai e chora).

CENA V
(Chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reúnem-se em conselho para entregar Jesus à morte. Amarram-no e o levam a Pilatos. Judas vendo-o então condenado, tomado de remorsos, vai devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata).
JUDAS (jogando as moedas no chão): Pequei, entregando o sangue de um justo. (Sai e vai se enforcar).
SACERDOTE 1: Que nos importa? Isto é lá com você!
SACERDOTE 2: Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue.
(Jesus comparece diante de Pilatos)
PILATOS: É o rei dos judeus?
JESUS: Sim, eu o sou.
(Sacerdotes e anciãos fazem acusações).
SACERDOTE: Encontramos este homem subvertendo nossa nação, impedindo que se pague os impostos a César e pretendo ser rei.
PILATOS: Você é o rei dos judeus?
JESUS: Você o diz.
PILATOS: Não ouve todos os testemunhos que levantam contra você? Não encontro neste homem motivo algum de condenação.
DOUTOR DA LEI: Ele subleva o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui.
PILATOS (Dirigindo-se ao Sumo Sacerdote): Ele é galileu?
SUMO SACERDOTE: Sim, senhor.
PILATOS: Soldados, levem este homem a Herodes. Ele é galileu e deve ser julgado por Herodes visto que está sob sua jurisdição.
(Os soldados conduzem Jesus até Herodes. Toda a multidão vai atrás.)

CENA VI
(Jesus é apresentado a Herodes.)
SUMO SACERDOTE: Herodes, este é Jesus, o galileu. Ele está sendo acusado de subversão e Pilatos o enviou ao senhor para que o interrogue.
HERODES: Ah, então você é o famoso Jesus. Ouvi dizer que você faz milagres. Faça um para eu ver. (Jesus permanece quieto). Você é o filho de Deus? De onde veio? Por que quer ser o rei de Israel? Responda alguma pergunta? (Depois de algum tempo): Voltem com este homem para Pilatos. Como posso condenar um homem que nada diz? Af, isso é um bufão!!!
SUMO SACERDOTE (Retirando-se): Com sua permissão, senhor.

CENA VII
(Os soldados voltam com Jesus para o palácio de Pilatos.)
SUMO SACERDOTE: Pilatos, Herodes não encontrou motivo de condenação nele e mandou a causa de volta para o senhor.
PILATOS: Como vocês veem, este homem nada fez que mereça a morte. Por isso, eu vou soltá-lo depois de castigá-lo.
ESCRIBA: Morra este homem. Solte-nos Barrabás!
PILATOS: Qual querem que eu lhes solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Messias?
CLÁUDIA (entra no tribunal): Nada faça a este justo. Pois à noite em sonhos muito eu sofri por causa dele.
PILATOS: Sim, Cláudia. Considerarei o seu conselho.
(Os sacerdotes incitam o povo a gritar por Barrabás)
PILATOS: Qual dos dois querem que eu lhes solte?
MULTIDÃO: Barrabás!
PILATOS: Que farei então de Jesus, que é chamado Messias?
MULTIDÃO: Seja crucificado!
PILATOS: Mas que mal fez ele?
MULTIDÃO: Seja crucificado?
(Pilatos pede água e imediatamente lava as mãos e dá sinal para que os soldados soltem Barrabás).
PILATOS: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá com vocês!
MULTIDÃO: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!
PILATOS: Soltem Barrabás e castiguem Jesus.
(Os soldados do governador conduzem Jesus para o pretório e rodeiam-no com todo o pelotão. Arrancam-lhe as vestes e colocam-lhe um manto avermelhado. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, metem-lha na cabeça e põem-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, dizem zombando:)
SOLDADOS: Salve, rei dos judeus!
(Cospem-lhe no rosto e, tomando da vara, dão-lhe golpes na cabeça. Depois de escarnecerem dele, tiram-lhe o manto e entregam-lhe as roupas.)

CENA VIII
(Em seguida, levam-no para o crucificar. Outros dois criminosos são levados juntos. Saindo, encontram Simão de Cirene, a quem obrigam a levar a cruz de Jesus.)
SOLDADOS (avançando sobre Simão): Ajuda a este condenado a levar sua cruz.
(Voltando-se para as mulheres que choram, Jesus diz)
JESUS: Filhas de Jerusalém, não chorem sobre mim, mas chorem sobre vocês mesmas e sobre seus filhos. Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco?
MARIA: (Aproxima-se de Jesus desesperada): Jesus, meu filho!
JESUS: Minha mãe, lembre-se: Eis que eu faço novas todas as coisas.
MARIA: Deus dos pais e Senhor de misericórdia, tudo criaste com a tua palavra! Com a tua sabedoria formaste o homem para dominar as criaturas que fizeste,  para governar o mundo com santidade e justiça, e exercer o julgamento com retidão de alma. Concede-me a sabedoria, que está entronizada ao teu lado, e não me excluas do número de teus filhosporque hoje a minha dor é imensa e clama a tua justiça.
JESUS: Eu era um jovem de boas qualidades e tive a sorte de ter uma boa alma, ou melhor, sendo bom, vim a um corpo sem mancha. Sabendo que jamais teria conquistado a sabedoria, se Deus não a tivesse concedido a mim, por isso confio que nesta hora meu pai não me abandonará.
(Maria é retirada de perto de Jesus pelos soldados.)

CENA IX
(Ao despirem-no e o pregarem na cruz, repartem entre si a sua roupa.)
SOLDADO 1: Que túnica bonita! Não vamos rasgá-la. Vamos sorteá-la para ver de quem será.
SOLDADO 2: Vamos!
SOLDADO 1 (depois do sorteio): Ah, é minha!
SOLDADO 2: Sortudo!
(Crucificam os outros criminosos. Levantam a cruz de Jesus e dependuram a inscrição. Próximas a cruz, ficam Maria, Maria de Mágdala e Maria de Cléofas e Maria de Zabedeu)
JESUS: Pai, perdoe-lhes; porque não sabem o que fazem.
ALGUÉM DA MULTIDÃO 1: Você, que destrói o templo e o reconstrói em três dias, salve-se a si mesmo! Se é o Filho de Deus, desça da cruz!
SACERDOTE: Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!
ALGUÉM DA MULTIDÃO 2: Se é o rei dos judeus, salve-se a si mesmo.
JESUS (olhando para Maria): Mulher, eis aí seu filho. (Olhando para João): Eis aí sua mãe.
GESTAS: Se é o Messias, salve-se a si mesmo e salve-nos a nós!
DIMAS: Nem sequer teme a Deus, você que sofre no mesmo suplício? Recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. Jesus, lembre-se de mim, quando tiver entrado no seu Reino!
JESUS: Em verdade lhe digo: hoje estará comigo no paraíso.
JESUS: Tenho sede.
SOLDADO: Dá-lhe de beber fel com vinagre.
(Estéfato molha a esponja com vinagre, dá-lhe, mas ele rejeita.)
JESUS (gritando): Eli, Eli, lammá azabetáni, rahoq miyshu’ti dibarey sha’agati?
ALGUÉM DA MULTIDÃO: Ouçam, ele está chamando Elias!
ALGUÉM DA MULTIDÃO 2: Deixe! Vejamos se Elias virá socorrê-lo.
JESUS: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. (E, dizendo isso, expirou.)
 (Suspirando e abaixando a cabeça): Tudo está consumado.
(Forma-se uma tempestade)
LONGINO: Este homem era verdadeiramente justo!
ALGUÉM DA MULTIDÃO: Ai de nós por causa de nossos pecados! O juízo e o fim de Jerusalém estão agora próximos!
MULTIDÃO (correndo e batendo no peito): Ai de nós!

CENA X
(José de Arimateia e Nicodemos tomam a iniciativa de sepultar o corpo de Jesus. Maria o recebe em seu colo)
JOSÉ DE ARIMATEIA (dirigindo-se a Maria): Maria, eu e Nicodemos pedimos a Pilatos permissão para sepultar o corpo, pois a lei diz: “Não se ponha o sol sobre o justiçado!”
MARIA DE MÁGDALA: Então, vamos descê-lo da cruz.
NICODEMOS: Vamos que o sábado se aproxima.
MARIA (Acolhendo Jesus em seu colo, grita de dor): Meu filho! Uma espada de dor cortou meu coração.
(José toma o corpo, envolve-o num lençol branco e o deposita no sepulcro. Depois rola uma grande pedra à entrada do sepulcro e vai-se embora).


Conceição de Ipanema, 3 de  março de 2012
José Aristides da Silva Gamito