segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um poema para agosto

PROCRASTINAÇÃO

Queria produzir um filme, pintar um quadro,
Publicar um livro, conhecer Buenos Aires,
Reencontrar um amigo,
Mas fica pra depois!

Ainda está no começo do mês,
Tenho trabalho todos os dias,
O dinheiro anda curto,
O dever é prioridade.

O capital está acima dos planos,
E sobreviver acima do viver.
Este é meu defeito,
Mas vou dar um jeito
Porque a vida também tem seu defeito,
Ela não deixa nada pra depois.


19/08/2013.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Poema: Ritual da Vida

RITUAL DA VIDA

A vida é mesmo imensurável.
Não há como medir seu desenrolar.
Pois tudo nela se faz vizinho:
A alegria de uma chegada
E a tristeza de uma partida.

Quem destinou seu dia ao júbilo
Pode encerrá-lo em prantos,
Pois a tragédia é ligeira,
Invasiva e traiçoeira,
Visita o politicamente correto
E pobre imprudente.

Nem sempre nossos planos
Têm garantia de conclusão,
Mas para que deseja viver sem ilusão
Deve entregar-se ao ritual da vida,
No qual gozo e dor se mistura.

Quem nos fará justiça?
 Às vezes há uma sensação de abandono.
Nem sempre há respostas!
O que farei quando a tragédia me visitar?
Vou renegar a princípio.
Mas pretendo amar meu mau destino
Como se amasse aquele que hoje é bom,
Porque não existo sem minha história!


Conceição de Ipanema, 23/07/2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Poema de hoje


VIDA EM VERSOS


Voltei a compor verso
Quando percebi meu coração disperso
Divagando somente em assuntos da razão
A sanidade nos salva de muitos egoísmos,
Mas não pode nos obrigar a esquecer de fruir,
De sentir que a vida se faz também de sensações.

Um homem mal dono do presente,
Precisa se lançar às oportunidades de estar vivo,
Pois tudo se esvai, todos se vão,
Enquanto o orgulho de nossas verdades
Encerram-nos em cárceres de arrependimento.

Em cada rua, em cada espaço, deixo minha marca,
Antes que se vá o último suspiro,
Em toda parte um pouco dos meus sonhos,
Uma prova de que a justiça vale a pena,
De que a solidariedade e o silêncio vencem
Com muito mais categoria.

Quando eu compuser meu último verso,
Espero que seja de esperança,
Mas se eu clamar da dor insuperável,
Levem em suas recordações que
O choro e o sorriso dependem do
Tamanho do significado que se
Dá à vida!


15/04/2013
Conceição de Ipanema - MG

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Racionalizar a fé e sensibilizar a razão?


Desafios da Convivência entre crentes e ateus

A VERDADE DA FÉ E A VERDADE DA RAZÃO

Acabo de ler o livro “Deus existe?”. E recomendo! É a transcrição de um debate entre o cardeal Joseph Ratzinger e o filósofo ateu Paolo Flores d’ Arcais em Roma, no ano de 2000. Percebi a difícil a tarefa de conciliar fé e razão durante a leitura deste livro. No debate, Ratzinger defende a demonstração racional da fé e a origem na natural dos direitos humanos. D’Arcais, por sua vez, fala sobre o absurdo da fé e que ela não pode ser defendida racional. Além disso, afirma que é falsa a origem natural dos direitos humanos que ele chama de direitos civis.
É realmente um debate muito difícil. Razão e fé são formas muito distintas de buscar a verdade. Aliás, é preciso ter cuidado com esta pretensão de possuir a verdade. Não é um caminho sensato racionalizar a fé e nem é indicado adotar a fé sem o mínimo de compreensão racional. O fideísmo, o fundamentalismo, são facetas perigosas da fé.
Por outro lado, a razão não pode sentir-se absoluta e no direito de proibir as pessoas de terem fé. No fundo, há obrigação de um respeito mútuo. São igualmente reprimíveis tanto o ateísmo absoluto, pouco conhecedor da história e fundamento das religiões, quanto a fé sem conhecimento das ciências naturais e humanas.
Cardeal Ratzinger (Bento XVI) e o filósofo Paolo Flores D' Arcais.
No Brasil, cresce um tipo de evangelismo pentecostal que não está aberto ao diálogo. A sua vertente católica é a linha da Renovação Carismática. Não são todos, há pessoas nesses meios e é uma grande quantidade de pessoas que:  Abominam ateus, homossexuais, liberdade de expressão, demonizam a ciência e todas as outras religiões. Não queremos viver um novo teocentrismo. Para uma jovem democracia como o Brasil é muito complicado. Perderíamos muitas conquistas do Estado laico. O caminho é tolerância sempre! Chegar a um consenso é tarefa quase impossível. Ninguém vai querer ceder.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Riqueza e pobreza no cristianismo



PASTORES RICOS, PADRES FAMOSOS... E O POVO NA MISÉRIA


José Aristides da Silva Gamito*

Introdução

Nos últimos dias, houve muita repercussão na mídia com a divulgação do ranking dos pastores mais ricos do Brasil pela Revista Forbes. Para o escândalo de todos, na ordem, Edir Macedo, Valdomiro Santiago, Silas Malafaia, R. R. Soares e Estevam Hernandes foram listados como os pastores milionários do Brasil.
A notícia nos faz pensar que existem muitos cristianismos. E de que lado está o cristianismo, do lado dos ricos ou dos pobres? Os bens materiais nunca foram bem compreendidos na história do cristianismo. Ora, havia um desprezo pelo mundo, pela carne e pelas riquezas, ora, havia uma obsessão pela glória, pelas riquezas e pelos bens temporais. A Idade Média foi marcada por isso: Riqueza ao clero e miséria ao povo.
O cristianismo primitivo foi muito marcado pelo espírito de partilha, mas havia também uma expectativa escatológica: “Vamos partilhar nossos bens porque Jesus vai voltar!” Esta motivação para a fraternidade foi desparecendo com a institucionalização da Igreja. O renascimento proposto por Francisco de Assis e tantos, assim como a revolta de Lutero são provenientes desta dificuldade que a Igreja teve com os bens materiais.

Teologia da Libertação e Teologia da Prosperidade

Na atual América Latina, há duas vertentes do cristianismo contraditórias. Enquanto a teologia da libertação define a Igreja como “Igreja dos pobres”, a teologia da prosperidade proclama a bênção da riqueza.  Se a Igreja se definir como Igreja dos pobres, ela corre o risco de sustentar que se subsiste porque há pobres. Se a pobreza traz sofrimento, privação de bens necessários à vida, não poderá ser o ideal do cristianismo; se a Igreja se define como instituição dos ricos, então, privilegiará uma classe e se esquecerá de uma grande maioria.
 A bênção da riqueza na teologia da prosperidade é condicionada pela fé materializada na oferta que o fiel faz à Igreja. É uma posição excludente. Já a teologia da libertação quer a superação da pobreza, porém, estimula nas bases um preconceito com a riqueza. Então, a conclusão a que chegamos é que nem a riqueza (acúmulo de bens) e nem a pobreza (privação de bens) podem definir o cristianismo. A Igreja só sairia bem se se definisse como Igreja em favor do desenvolvimento da pessoa humana. E isso significa também a liberdade de expressão e a tolerância da diversidade.
O capitalismo no classifica como ricos e pobres, mas o ser humano é muito mais do que o econômico. O cristianismo tem de se posicionar melhor entre esses extremos. A afirmação de Jesus pesa muito: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Abundância de vida nos remete ao conceito shalom das Escrituras Judaicas, “plenitude de bens”. Portanto, não é ter bens em excesso, mas ter todos aqueles que são necessários para vivermos em paz. Esse parece ser o ideal do Evangelho, a Igreja não é dos ricos e nem dos pobres. O pobre não é um ideal, é uma condição provisória que se torna alvo da ação do cristão, para conduzi-los à plenitude dos bens.
Por outro lado, a riqueza (é o acúmulo irracional de bens), não é a finalidade da libertação, pois os recursos naturais são finitos, se não houver distribuição proporcional à necessidade de cada um, vai faltar para alguém. O consumismo não é um comportamento inteligente. A desigualdade socioeconômica é a causa da fome no mundo, disso todos sabem.

Igualdade social entre utopia e realidade

Concordamos que nem a pobreza e nem a riqueza são os ideais do ser cristão, mas devemos considerar, além disso, que a “igualdade” não pode ser entendida como todos terem os mesmos bens na mesma quantidade (um “igualitarismo”). Esta é uma igualdade irreal porque as pessoas possuem necessidades diferentes. Mas todos devem ter as mesmas oportunidades, os mesmos direitos e a extinção da barreira entre as classes. Continuaremos todos diferentes, mas com as mesmas oportunidades e poderes de nos tornarmos, irmos ou adquirimos em igualdade de chance os bens que precisamos para viver.
Outro problema que pode ser constatado com relação aos pastores milionários é a aquisição de bens sem pagamento de impostos, sem satisfação ao Estado e com prejuízos aos fiéis. Uns enriquecem às custas do empobrecimento dos outros. Isso é escândalo no cristianismo, sim! Ou a riqueza é para todos ou há opressão e exploração aí! E diante de tanta incoerência como podem esses cristãos obedecer ao mandato de Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (Mt 19, 21).
Nem de ricos e nem de pobres; a Igreja deve ser para todos. Se assim não for não será de Jesus, pode até ser cristã. Ela não pode nem conservar o status quo, pois justificará a existência de pobres e nem poderá ser capitalista, pois ao se focar na riqueza, promoverá a desigualdade social, porque incluirá apenas a classe daqueles que têm fé. Se quiser que existam Igrejas, que estejam a favor da pessoa humana!

*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.