quarta-feira, 29 de julho de 2015

Teologia e a fé do Próximo



TEÓLOGOS AGNÓSTICOS: A REFLEXÃO TEOLÓGICA
 SOBRE A FÉ ALHEIA

José Aristides da Silva Gamito*
1.   Introdução

A presente reflexão foi provocada por debates entre amigos sobre uma nova realidade em torno da teologia: As pessoas que estudam teologia sem fé.  A princípio o assunto traz consigo uma grande polêmica: Como pode alguém que não tem fé estudar teologia? Primeiramente, temos de analisar as razões que levam as pessoas estudarem a teologia.
O objetivo tradicional do estudo da teologia são as exigências para o exercício dos ministérios na Igreja. Neste caso, é uma teologia instrumental. Atualmente, várias Igrejas evangélicas têm oferecidos inúmeros cursos que têm atraído muita gente, poderíamos dizer que a busca pela teologia está em alta. Há um mercado de cursos de teologia. Em um segundo grupo, encontram-se pessoas que cursam teologia depois da aposentadoria ou após uma estabilidade econômica com o intuito de entender a fé. Uma teologia existencial.
Aparece um terceiro e polêmico grupo: Os da teologia agnóstica. São pessoas que buscam entender a fé alheia ou a fé que não professam mais. Eles poderiam estudar Ciências da Religião ou outra área, mas preferem a teologia porque querem entender uma fé específica: A cristã. Eles procuram entender, criticar e levantar reflexões sobre a cosmovisão cristã. O exemplo mais conhecido na mídia é Bart Ehrmann.
Se formos criticar os três grupos todos teriam pontos frágeis: A instrumentalização da teologia como mera exigência para exercer o ministério poderia acusada de reducionismo, assim como a teologia com fins de consolação ou autocompreensão. Pesam sobre todos os grupos possibilidades de críticas.  Cada um faz teologia a partir de um lugar concreto. Neste caso, vamos analisar o grupo dos teólogos agnósticos. A designação ‘teólogos agnósticos’ é provisória.

  1. A teologia como compreensão da fé alheia


Para compreender este novo posicionamento há que se distinguir ‘teologia como compreensão da própria fé’ de ‘teologia como compreensão da fé alheia’. Enquanto o objetivo tradicional da teologia se volta mais aos interesses pessoais e institucionais, a nova tendência confere fins sociais ao estudo da teologia, mas distinguindo-a de sociologia da religião, de filosofia da religião e até mesmo de ciências da religião.
Já houve uma mudança pouco criticada e hoje comum dentro da teologia voltada aos ministérios. Muitos teólogos deixaram de teologar para as instituições e passaram a teologar para a sociedade como um todo são exemplos Leonardo Boff, Rubem Alves, Hans Küng e outros. Não são teólogos agnósticos, são teólogos não-institucionais ou não somente institucionais. Rotular é sempre problemático. Salientamos apenas que há mudanças no objetivo de se fazer teologia levando em conta as circunstâncias de tempo e de espaço. De antemão, deve se avisar que o resultado de formas diferentes de teologar em algum momento tenderá a ser classificado como heresia. São riscos que formas novas de teologar trazem com elas.

As condições para a elaboração teológica

            Em Santo Anselmo encontramos a exigência fides quaerens intelectum.  A teologia tem como base a racionalidade porque procura compreender racionalmente a fé que se situa além da razão. Os conteúdos da Revelação são a matéria e o ponto de partida da reflexão teológica. Portanto, vincula-se o ato de teologar à exigência de uma fé pessoal:

Necessariamente, por exigência epistemológica, o teólogo é homem de fé; sem ela, pode ser um estudioso da religião, fazer estudo da evolução das práticas, conhecimentos e comportamentos religiosos, estudo dos ritos e suas diferentes significações segundo as culturas, estudo dos comportamentos humanos derivados das afirmações religiosas, elaboração de teorias e afirmações sobre as influências psicológicas dos comportamentos religiosos, estudo da evolução dos estudos bíblicos ou assemelhados, mas não fará teologia. Nela a fé é uma exigência (MANZATTO, 2013).

              A afirmação mais comum que se pode encontrar sobre as exigências para estudar teologia é de ter uma fé pessoal.  Este é o lugar comum eclesial no qual o teólogo inicia sua reflexão. A postura dos teólogos agnósticos tende teologar partir de outros lugares vizinhos à fé. É importante observar que a postura dos teólogos acadêmicos não se difere muito dos agnósticos. Há diversas universidades com doutores em teologia que formatam sua função de teólogo como uma profissão. Neste sentido, poder-se-ia dizer que há também um reducionismo da tarefa da teologia. Agrava-se mais a questão ainda quando estes teólogos são presunçosos e totalmente distantes do universo comum das pessoas.
Em um primeiro momento, então, faz-se necessário afirmar que teologia é reflexão sobre a fé e não é profissão de fé. A segunda atitude seria reservada à liturgia. Isso não impede que a etapa última do processo de reflexão teológica seja orante como defendeu Karl Rahner.

REFERÊNCIAS
MANZATTO, Antônio. A Teologia na Universidade.
Disponível em: