segunda-feira, 7 de maio de 2018

Filosofia da Educação


EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA: É POSSÍVEL SEPARAR AS DUAS COISAS?


José Aristides da Silva Gamito


            Quando se reivindica uma escola sem partido está se propondo a existência de uma educação sem ideologia. Isso é possível? Todo modelo de educação corresponde a uma visão de sociedade, de política e de valores humanos. Os modelos são históricos. Queremos dizer com isso que não há um modelo de educação desvinculado de um posicionamento ideológico ou cultural.
            O cidadão que se quer educar está inserido num determinado tempo, lugar e circunstância. A educação influencia a sociedade e é ao mesmo tempo influenciada pelos interesses da sociedade. Falar em escola sem ideologia é o mesmo que falar em objetividade científica ou neutralidade profissional. O que se tem de analisar é que quando alguém reivindica uma educação sem ideologia, temos de perguntar: “Sem qual ideologia?”. O mesmo se aplica aos apelos no Brasil por uma escola sem partido: “Sem qual partido?”. Se se tirarem as ideias de esquerda da escola, elas serão substituídas por ideias de direita, e vice-versa.
Muitos mal-entendidos ocorrem quanto a este assunto por uma questão de linguagem, muitos chamam de “ideologia” somente os posicionamentos de esquerda. Como se alguém dissesse suas ideias são “ideologia” e as minhas são “verdade”. Há certa ingenuidade ou má-fé nisso. Pois, tudo é ideologia! Ninguém se posiciona socialmente de modo neutro ou diretamente iluminado pela “sagrada verdade”.
            A única opção que temos é optarmos por uma escola dentro dos moldes da verdadeira democracia. Uma escola que comporte todas as ideologias e todos os partidos. Se a escola é um laboratório de aprendizagem da vida em sociedade, os estudantes precisam aprender a conviver com a diversidade de ideias e a compartilhar espaços com seus opositores. A escola deixa de ser ideal quando há hegemonia de uma ideologia ou partido. Porém, há um limite para ser destacado: Só não podemos tolerar aqueles posicionamentos que são autodestrutivos para a democracia. Porque se esses se instalarem, a escola será hegemonicamente dominada por uma única ideologia. Enquanto, a educação for plural, ela estará sadia.
            Portanto, não há educação sem ideologia. O que não podemos permitir na escola são posturas de uma democracia autofágica. Um problema semelhante acontece com a religião na escola. As pessoas que formam a escola têm religiões diversas, uma ou nenhuma. Não há neutralidade e a religião pode ser tratada e discutida na escola, o que se tem de manter é a postura de tolerância à diversidade. Neutralidade é uma quimera! De modo semelhante, muitos cristãos se posicionam agressivamente quando uma autoridade eclesiástica ou um grupo religioso assume uma postura partidária. Do mesmo modo, não há Igreja neutra ideologicamente ou politicamente. O que se precisa manter é a boa convivência! A respeito das ideologias o que queremos, acima de tudo, pautar é que tudo é ideologia, inclusive, a asserção de que “tudo é ideologia”. Posicionar-se politicamente é ideológico em qualquer sentido, mesmo quando se silencia.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Botocudos e puris


OS INDÍGENAS DA REGIÃO DO RIO DOCE: IDENTIFIDADE E CULTURA

THE INDIGENOUS PEOPLE OF THE REGION OF RIO DOCE: IDENTITY AND CULTURE

José Aristides da Silva Gamito[1]

Introdução
Puris no Vale de São Manoel em 1911.

Este breve artigo tem como principal referência o texto de Álvaro Silveira “Memórias Chorográphicas” publicada em 1921. O presente artigo surge como uma provocação às escolas de educação básica de Minas Gerais. O Dia do Índio, às vezes, é comemorado com reforço de estereótipos, com superficialidades, como se índios fossem apenas um “bicho exótico”. Ao levantarmos um pouco da identidade e dos costumes de dois povos indígenas da região do rio Doce, estamos abrindo caminhos para que os educadores conheçam mais estes povos e apliquem isso em sua prática pedagógica.
Neste texto, apresentamos algumas informações sobre a identidade e a cultura dos índios botocudos e puris e o buscamos a localização deles. Há que se observar que viviam outros puris em Minas Gerais além da região identificada por Álvaro Silveira.

1.    Os botocudos

Segundo Álvaro Silveira, no início do século XX a margem direita do rio Doce era habitada pelos índios botocudos. [2] Os indígenas chamados de botocudos eram formados por duas etnias falantes de língua macro-gê: Nakrehé e Gutkrak. Esses dois grupos se reuniram e formação os chamados borun/krenak. Eles são os últimos botocudos do leste de Minas Gerais.[3]
Na mata virgem, eles ainda preservavam seus costumes como andar nus e construir os kijeme, seus ranchos cobertos de folhas de palmeiras. Os mortos eram cremados sem nenhuma cerimônia fúnebre.[4]
As mulheres casadas utilizam o botoque no lábio inferior como sinal de compromisso. As casadas que deixassem se usá-los eram discriminadas. Tanto homens quanto mulheres utilizavam um brinco de madeira como adereço.
O casamento entre os botocudos não tinha cerimônia especial. O pretendente que já pudesse caçar e sustentar a mulher ia até o pai da moça e pedi o consentimento. De modo geral, os casamentos eram monogâmicos. Existia também a poligamia, mas a responsabilidade imposta ao marido era grande.
A dieta dos botocudos era à base de carne e de frutas. Comiam quase toda espécie de animal, inclusive cobras. Eles preparavam a carne assada. Tradicionalmente, caçavam com arco e flecha. A fruta mais apreciada por eles, segundo Álvaro Silveira, é a sapucaia (“aju”). O milho (“uati”) era alimento apreciado.[5]
Os números para os botocudos se limitavam às duas mãos. Isso significava que contavam até dez, além disso, era multidão. Os botocudos viviam em guerras contra os povos da margem esquerda do Rio Doce.[6]

2.    Os puris

            Ao sul do rio Doce habitavam os índios puris. Segundo Álvaro Silveira, eles habitavam as margens do rio São Manoel próximo da divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo. Naquela região havia no início do século XX uma aldeia com 40 indivíduos. Estavam lá desde o ano 1873.[7]
            A região onde viviam estes puris é o município de Mutum e região, conforme aponta Álvaro Silveiro, porque ele afirma que eles habitavam a parte litigiosa entre Minas Geras e Espírito Santo. 547-548.

Referências

SILVEIRA, Álvaro A. da. Memórias Chorográphicas. Volume I. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, 1921, p. 521-522.

PORTES, Edileila Maria Leite. Arte, Arte indígena, Arte Borum/Krenak: os imbricados caminhos para a compreensão da arte. Ars, ano 13, n. 25, 2001, p. 89-103.



[1] Bacharel e licenciado em Filosofia, bacharel livre em Teologia, especialista em Docência do Ensino Básico, do Ensino Superior em Língua Latina e Filologia Românica e mestre em Ciências das Religiões.
[2] SILVEIRA, Álvaro A. da. Memórias Chorográphicas. Volume I. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, 1921, p. 521-522.
[3] PORTES, Edileila Maria Leite. Arte, Arte indígena, Arte Borum/Krenak: os imbricados caminhos para a compreensão da arte. Ars, ano 13, n. 25, 2001, p. 89-103.
[4] SILVEIRA, 1921, p. 521-522.
[5] SILVEIRA, 1921, p. 522-526.
[6] SILVEIRA, 1921, p. 546.
[7] SILVEIRA, 1921, p. 547.