quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A VIOLÊNCIA ENTRE OS JOVENS BRASILEIROS



Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do mundo. São altos os índices de violência urbana, doméstica e familiar. O país tem índices de violência superiores às áreas de conflitos como Colômbia e a Palestina. O episódio do espancamento da empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, 32 anos, por cinco jovens da classe média provocou a indignação da sociedade. O crime ocorreu dia 24, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio Os agressores eram ricos, universitários e no grupo havia até estudante de Direito. Esse é um dos exemplos mais recentes da violência entre jovens da classe média. Em 1997, jovens ricos de Brasília mataram queimado, enquanto dormia, o índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos. Nos dois casos, os rapazes alegaram equívocos. Os do Rio pensaram que a agredida era prostituta. Os de Brasília acharam que o assassinado era mendigo.
Antes se ligava a questão da violência às condições sociais e econômicas dos indivíduos. Hoje o problema se generalizou e jovens ricos e pobres estão constantemente envolvidos com a violência. Todos os meios se tornaram espaços de prática de violência. Que vai desde uma agressão verbal entre familiares até uma segregação predatória e generalizada nas grandes cidades. A cidade se transformou em tribos que se estranham.
O cidadão está envolto de particularidades e critérios pessoais que definem o direito de viver. E não consegue mais reconhecer a sua semelhança com o próximo. Uma mesma espécie se estranha. A violência surge no interior humano, mas se propaga em cadeia. Há pressões sociais, econômicas e políticas sobre o jovem brasileiro. Há competitividade, pobreza, corrupção, estresse e redução do sentido da vida. Essas causas já são conhecidas como geradoras de violência. São apenas reações. E quantos aos jovens de classe média que tem uma economia estável? Onde estariam as causas da violência?
A idéia de homo hóminis lupus, o homem é o lobo do homem (Plauto 254-184), está fazendo sentido. O indivíduo fechado em seu egoísmo pode definir para si um conceito de homem e descartar os outros dessa classificação. Se a sociedade não regulamenta leis, não detém os males dessa guerra. Porém, a questão é mais profunda. Faz-se necessário refazer conceitos sobre a vida e uma cosmovisão completa. Somente a abertura ao outro totalmente outro, e não extensão do nosso egoísmo poderá salvar o homem de ser lobo de si. A ausência de sabedoria e arranjo da vida para nos remeter ao estado de “guerra de todos contra todos”.
O egocentrismo predatório nos ronda a todo tempo. Estamos pensando em fatos, mas se analisarmos toda estrutura de nossa sociedade, percebemos uma coletividade só em função da sobrevivência. Se os mais fortes não dependessem dos obséquios dos menores, não os tolerariam. Há entre nós uma justiça fictícia. Cristãos, juristas, humanistas se rendem à sedução do mal. E o mal é justamente a estranheza. O homem que estranha o outro e não consegue vê-lo pertencente à sua espécie. É na verdade, um ódio a si mesmo!
A falta de uma educação humanizante permite a jovens sentirem-se como únicos herdeiros da cidade, do Estado civilizado. Prostitutas, homossexuais, índios, mendigos e outros excluídos ficam invisíveis quando os césares da classe média passam. Não coloquemos a culpa só na miséria, a opulência desregrada também gera agressores.
Quem gerou os neonazistas, os skinheads, hardcores, punks? Inicialmente essas tribos urbanas surgem em reação à cultura dominante e depois apelam para violência. São alimentados por jovens pobres? Não são os poderosos que os geraram? São provas da complexidade da violência. Na estranheza que o homem tem do mundo e do outro, muitas vezes no seu arranjo existencial, ele se protege do tradicional agredindo. O que a sociedade brasileira fez do legado cristão? Ou nunca o tenha sido totalmente. Dizia André Guide: “É muito mais fácil liderar homens ao combate de guerra do que acalmá-los e dirigi-los para o paciente e doloroso parto da paz''. Optar pela paz é uma decisão custosa, mas vale a pena quando se assume a sacralidade da vida humana!