sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Polêmica: Cristianismo e comunismo


SE SOUBESSE A DISTÂNCIA QUE HÁ ENTRE CRISTIANISMO E COMUNISMO, VOCÊ CRUCIFICARIA JESUS UMA SEGUNDA VEZ

Por que alguns cristãos defenderam o comunismo na América Latina?


            Quando Jesus viveu não existia nem o cristianismo e muito menos o comunismo. Mas o que sustentou durante muito tempo a opção de alguns cristãos (leigos, clérigos e teólogos) pelo sistema comunista é a semelhança entre os ideais sociais, políticos e econômicos dos dois. Que o leitor esteja atento que estamos falando teoricamente do comunismo, não estamos tratando de Estados Totalitários!
            A relação entre cristianismo e comunismo parecerá estarrecedora para alguns cristãos porque conhecem apenas os significativos negativos que foram dados para o termo “comunismo”. Este termo é polissêmico assim como o termo cristianismo. Há ações positivas e negativas historicamente atribuídas aos dois sistemas. A diferença é que o comunismo enquanto sistema político concreto, adotado pelo Estado, teve uma história breve e foi confundido com Estados Totalitários e ditaduras socialistas. Confunde-se, muitas vezes também, comunismo com socialismo. É importante avisar para os radicais que cristianismo, comunismo e capitalismo todos têm defeitos!
            Um terceiro sentido conferido ao termo “comunismo” atualmente no Brasil é um guarda-chuva de política de esquerda sob o qual são postas as reivindicações das mais variadas minorias sociais. Portanto, não estamos falando de comunismo em sentido de “Estado totalitário, ditadura socialista” (1) e nem em sentido de “arcabouço de reivindicação política de minorias sociais”. Como o termo é polissêmico, ele pode ser conduzido para direções indesejadas em tempos de polêmica. Atualmente, comunismo é utilizado em redes sociais como sinônimo de “política de esquerda”. É um equívoco! A seguir, vamos comparar os princípios gerais do comunismo teórico com a moral do Evangelho.
            Teoricamente, o comunismo não interessa a quem está situado confortavelmente na sociedade. A teorização do comunismo surgiu a partir da Revolução Industrial porque a nova formatação capitalista trouxe a exploração do operário e muitas mazelas sociais. A decepção com o progresso tecnológico que não beneficiava a todos fez com que algumas pessoas pensassem numa sociedade igualitária. A teoria do comunismo sofreu muitas adaptações por isso não podemos falar de modo único.
            A nova ordem social teorizada pelo comunismo pretendia: a) Universalizar os meios de produção para toda a sociedade; b) Abolir a propriedade privada; c) Extinguir as desigualdades sociais tornando todos os bens comuns. Esses princípios exigiriam que fossem confiscados os bens particulares, tornando-os propriedade comum sob a tutela do Estado. Essas medidas teriam como consequências a reforma da posse da terra e da moradia, acesso à educação e iguais condições de trabalho para todos. Este é o comunismo enquanto utopia!
            A moral cristã do Evangelho opera em sentido semelhante: a) A distribuição dos bens com os pobres é uma recomendação de Jesus – “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me” (Mt 19,21); b) A utilização comum dos bens era uma prática cristã: “Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.” (At 2, 44-45). c) Não há distinção de classe social – “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
            Portanto, o cristianismo das origens tinha em comum com o comunismo a aspiração por uma comunidade onde os bens e as propriedades fossem para todos. A distinção entre classe seria superada pela igual dignidade de todos. São todos sistemas com princípios básicos comuns, sendo um religioso e outro materialista. Efetivamente, todos os dois são utópicos. Os grandes opositores desses sistemas são, evidentemente, os ricos! Quem tem muitas propriedades, lucros, riquezas, status, não quer se igualar aos outros e nem transferir seus bens e suas oportunidades para os mais pobres. Esses ideais de igualdade serão sempre odiados! E depois das experiências totalitárias do século XX, acrescentaram-se mais motivos para extinguir o comunismo.
            É bom saber que o que se odeia no comunismo não são somente as ideologias morais, a revolução armada, mas também o fim do acúmulo individual de riquezas, dos privilégios. Tanto o defensor quanto o opositor do comunismo o vêem com muita paixão. Os interesses financeiros e vantagens sociais estão acima das ideologias tanto de direita quanto de esquerda. A superação do egoísmo humano não é uma tarefa fácil, qualquer sistema pode falhar. O poder corrompe todo sistema. Todos os sistemas têm acertos e erros. Tanto capitalismo quanto socialismo já massacraram, mataram e cometeram barbaridades. A tomada de posição a favor ou contra qualquer um deles depende do lugar onde você se encontra na história!