segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Prosa no Sarau II


UMA NOVA ÁGORA EM TODA CIDADE

José Aristides da Silva Gamito

Ainda aprendemos o valor da presença quando alguém se ausenta definitivamente. Por que não valorizamos o tempo que temos com os outros? Partilhar o tempo é a face mais terna do cuidado. Em Atenas, na Antiga Grécia existia a Ágora. Era um mercado onde a cidade toda se reunia para colocar a conversa em dia. Ali também ventilavam as novas ideias. O filósofo Sócrates ensinou naquela praça. Paulo de Tarso também disseminou o cristianismo naquele lugar dos encontros. O que precisamos inaugurar em toda cidade é uma ágora. Precisamos de um lugar de encontro. Não temos o costume de nos encontrar. Apenas dividimos espaço no trabalho, nos esbarramos na igreja ou topamos na rua. Mas, encontro mesmo é coisa rara!
Que tal tirarmos um tempo para nos encontrar? Para jogar conversa fora, partilhar versos e canções. E saber de coisas boas da vida do outro. A fofoca não! Coisas boas! Vamos adotar a cultura do encontro. Quem sabe assim nos tornamos mais humanos e valorizamos a transitoriedade da vida?! Lembre-se de que o tempo é a face mais terna do cuidado, e não há cuidado sem encontro. Portanto, nos encontremos com a vida em versos, tons, movimentos, formas, texturas e cores! Celebremos a arte das artes: A vida.




Conceição de Ipanema, 26 de janeiro de 2019.



Prosa no Sarau I


O NASCIMENTO DA PALAVRA E DAS ARTES

José Aristides da Silva Gamito

No princípio havia somente o silêncio e as formas inertes. O abismo contemplava a possibilidade, mas nada cantava, nada dançava, nada compunha. A natureza não podia gemer seus ais e nem celebrar as suas alegrias. Mas até que um dia alguém disse um: “Faça-se a luz”. E tudo se iluminou. Um Hermes, o deus mensageiro, tomou a palavra e a disseminou nos quatro cantos do universo. Assim se fez festa.
Primeiro, nasceu a palavra. “No princípio era a Palavra”. Depois veio a arte. Mas quem veio primeiro? Já não sei exatamente. Quando se proferiu o primeiro sussurro, já existiam artes. Não podemos negar. Mas foi justamente a palavra que fez anunciar: Existe Arte! Depois disso, as luzes se acenderam, houve canto, dança poemas, pinturas, esculturas e letras. Não é que uma das coisas mais intrigantes do começo desta história é que as palavras se aninharam em rolos de pergaminhos, em amarrios de códices?!
Há muitos homens e mulheres da palavra: os profetas, os poetas, os radialistas. Assim como há muitas mulheres e homens da arte: escultores, pintores, desenhistas, cineastas. Há um deus da palavra, há um deus da arte. O lógos e a téchne, portanto, criaram o mundo. E eles podem transformar também o mundo. Para isso, basta você tomar seu lápis e numa folha qualquer desenhar um sol amarelo! De um pingo de tinta, de um verso, você pode viajar pelos continentes e se perder na imaginação. Abra, então, as cortinas do palco e deixe arte acontecer, deixe a palavra fluir. Bem-vindo!

Conceição de Ipanema, 15/12/2018 – 1º Sarau Cultural.