A
DIFUSÃO DA LÍNGUA LATINA NA ATUALIDADE
José Aristides da Silva Gamito
Com a retirada no latim da grade
curricular da educação básica em 1961, a maioria absoluta da população
escolarizada no Brasil perdeu totalmente o contato com a língua. Propor hoje o ensino do latim para as gerações
mais jovens é um desafio. A primeira pergunta que normalmente aparece é: Onde
se fala latim? Se disser que é uma língua morta haverá mais resistência ainda.
Mas o latim pode ser considerado uma língua morta?
Na verdade, o latim não é mais uma
língua nacional com falantes nativos que o pratiquem no cotidiano. Porém, temos
de considerar que é uma língua atuante e bem difundida, possuindo literatura
contemporânea e uso em algumas agremiações e mídias. Além de ser a base de toda
a cultura ocidental juntamente com a língua grega.
O português provém do latim, toda a
nossa estrutura lingüística e terminologias são latinas. Estudar o latim é
compreender a nossa cultura, a contribuição européia para a formação da identidade
nacional. Do mesmo modo que devemos conhecer tupi para aprofundar a nossa base
genuinamente brasileira. Assim como não posso deixar de mencionar a contribuição
africana com suas línguas e que são
pouco divulgadas.
Uso
na Igreja Católica
Durante muitos séculos o latim foi a
língua litúrgica do rito romano. Conservou-se também a tradição de redigir
nessa língua todos os documentos oficiais da Igreja. As inscrições nos templos,
o canto, as solenidades todas eram realizadas em latim. Por isso, era e
continua sendo disciplina obrigatória nos seminários e mosteiros.
O Concílio Vaticano II liberou as
celebrações litúrgicas nas línguas nacionais, mas o latim continua sendo a
língua oficial do Vaticano e possui uma academia específica, a Opus Fundatum Latinitas. Esta instituição
promove a língua através de publicações, concursos e diversas oportunidades de
prática. Dentre suas ações está Certamen
Vaticanum, um concurso que premia produções literárias em latim. Para orientar
o uso contemporâneo da língua a instituição editou o Lexicon Latinitatis Recentis, um dicionário de neologismos latinos
úteis para expressar coisas que não existiam no período clássico romano.
Em Roma, existe também a Accademia Vivarium Novum fundado pelo
latinista Luigi Miraglia que ensina, difunde e usa a língua.
Uso
do latim nas ciências naturais e humanas
A nomenclatura científica é
tradicionalmente escrita utilizando palavras latinas ou latinizadas. A
compreensão de textos científicos e jurídicos depende de uma noção prévia da
língua latina assim como da grega. O meio jurídico se utiliza muito de
expressões latinas.
Uso
nas mídias atuais
Na Finlândia, existe a Radiophonia Finnica Generalis que veicula
notícias em latim pela rádio Yle. Na
música, encontramos desde as canções tradicionais até versões de músicas atuais,
inclusive rap em latim. O coral Tyrtarion gravou muitas adaptações musicais de
textos clássicos. O músico Keith Massey criou versões latinas de canções
natalinas.
Na literatura, existem as
publicações oficiais do Vaticano, traduções de diversos latinistas pelo mundo
afora. As revistas Aduléscens e Iúvenis são duas publicações em latim
dirigidas ao público jovem.
Encontra-se o uso de latim até nas
redes sociais, exemplo é o twitter oficial do papa @Pontifex_In. Além do
crescente hábito dos estudantes de utilizarem as mídias sociais para
aperfeiçoar o conhecimento da língua.
Ensino
da língua latina
No Brasil, além de cursos formais
nos seminários e universidade são raros os cursos livres para o público em geral.
Mas existem materiais didáticos disponíveis em livrarias e na internet
suficientes para aprender a língua. O mais famoso é o curso Latina per se Illustrata que tem como
principal atração ser um ensino autointuitivo. O método de Orberg baseia-se na
aprendizagem natural da língua. A editora Assimil prima pelo ensino do latim a
partir de situações contemporâneas. A grande vantagem de se aprender a língua
atualmente é seu ensino inovador como língua viva.
Usuários
da língua latina
Embora, não temos notícia de falantes
nativos, mas podemos falar de falantes fluentes da língua como padre Reginald
Foster (ex-tradutor oficial do Vaticano), o italiano Lugi Miraglia, o espanhol
Álvaro Sanchez-Ostiz. São professores que dominam a língua e se propuserem a
oferecer cursos atraentes que ensinassem a língua como viva. Portanto, há
muitas motivações para aprender latim sem aquelas metodologias tradicionais e
pesadas.