QUAL O LUGAR IDEAL DO
CORPO?
José
Aristides da Silva Gamito
Se na Antiguidade e no Medievo cristão,
o corpo foi negado e vítima de um forte ascetismo, na contemporaneidade as
coisas não são diferentes. A herança cristã incutiu nas pessoas uma culpa por
ter corpo, por ter sexualidade. Era um extremo. Veio a Revolução Sexual
libertou o corpo da religião e, em seguida, submeteu-o à lógica do mercado. O
corpo deixou de ser fonte de pecado para ser fonte de prazer. E depois, tornou-se mercadoria. Estamos em
outro extremo.
A relação contemporânea com o corpo
trouxe um novo ascetismo. As pessoas voltaram a punir o corpo para dar-lhe uma
forma ideal, uma forma padrão. Este é o ascetismo imposto pelo mundo fitness. As pessoas, principalmente, as
mulheres, são submetidas a privações e pressões para que tenham um corpo “sarado”.
Em contraposição, surgem movimentos como body
positivity (positividade corporal), valorização de modelos plus size, para pedir um bastar nesta
ditadura do corpo-padrão.
Qual é o lugar ideal do corpo? Este sempre
foi e sempre será um desafio da nossa cultura ocidental. Já foi de negação e é
agora de supervalorização. O grande problema é a idealização do real. Quando se
cria uma imagem ideal e submete a natureza a obedecê-la e a se conformar com
ela, temos um problema. A religião faz isso, a estética faz isso. Não podemos
forçar todo mundo a ter um corpo malhado para ser aceito. E nem podemos
desaconselhar a pessoas a fazerem exercícios e a terem uma alimentação
saudável. Deixe o corpo no seu lugar. Precisamos recuperar esta medida:
Recuperar o lugar do corpo sem propagandear a obesidade, como ideal, seria
outro erro, e nem obrigar as pessoas a serem fitness. A regra é ter saúde. Vale a pena pensar!