segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Epistemologia do Engajamento Político


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O QUE É SER CRÍTICO?

EPISTEMOLOGIA DO ENGAJAMENTO POLÍTICO

José Aristides da Silva Gamito


            As pessoas politizadas, geralmente, se consideram críticas e inteligentes. Os constantes debates entre partidários “lulistas” e “bolsonaristas” nas redes sociais me fizeram propor a presente reflexão. Será que pessoas que fazem postagens e ataques veementes a seus opositores são verdadeiramente críticas?
            Etimologicamente, o termo grego kritikós significa “ser capaz de fazer julgamentos”. O verbo krinein quer “separar; decidir”. O que muitos cidadãos apaixonados por suas ideologias e opções partidárias não percebem é que toda crítica comporta uma autocrítica. A adesão a um ponto de vista não é absolutamente racional. O assentimento a uma crença possui uma base afetiva. E quanto mais se repetem as razões para se defender uma ideia contra os outros, mas afetivamente convencidos de sua verdade estará o indivíduo a ponto de não admitir incoerências.
            Quando chega o momento de criticar, ou seja, de julgar, a imparcialidade é o maior desafio.  No caso das opções partidárias, a racionalidade dos argumentos se soma a uma carga emocional. Os extremismos ocorrem justamente quando as convicções têm mais bases emotivas do que racionais. A inflação das emoções gera o ódio ao opositor. Então, o indivíduo pensa de seu oponente: “Que idiota! Como pode defender tal ideia! Tal candidato!”. Ele deixa de perceber que ele e o opositor têm razões equivalentes para permanecer do lado que estão.
            O lugar do qual julgamos interfere bastante nas nossas decisões. O histórico individual, as referências de valores, as necessidades materiais e simbólicas, tudo contribui para as nossas opções. O extremista não admite as falhas de sua opção. Só as vê no opositor. A autocrítica ajuda o indivíduo a se situar diante de suas preferências e perceber que a opção está muito além de razões, mas envolve emoções e interesses.
            Bolsonaristas têm razões para votar em Bolsonaro. Lulistas têm razões para votar em Lula. E outros nos demais candidatos. São boas razões? Cada indivíduo fará suas considerações. Grupos, classes defenderão essas razões. As escolhas serão menos racionais quando os grupos se fecham e não ouvem as razões alheias. O ódio, o extremismo político e o rotular o opositor de “idiota” não configuram uma prática sadia de fazer política.
            Propor um equilíbrio nessas relações é pouco eficaz porque esta crítica pressupõe critérios que nem todo mundo quer seguir. Mas um pouco de respeito é fundamental! Nas redes sociais, basta dizer o que pensa e pronto! Não há compromisso com a resposta do outro. É bastante contraditório pensar que o outro tem uma opção diferente porque não é inteligente ou têm falha de caráter. Talvez uma boa dose de filosofia e de escolarização traga um pouco de lucidez ao debate.