O
QUE É SER CRÍTICO?
EPISTEMOLOGIA
DO ENGAJAMENTO POLÍTICO
José Aristides
da Silva Gamito
As
pessoas politizadas, geralmente, se consideram críticas e inteligentes. Os
constantes debates entre partidários “lulistas” e “bolsonaristas” nas redes
sociais me fizeram propor a presente reflexão. Será que pessoas que fazem
postagens e ataques veementes a seus opositores são verdadeiramente críticas?
Etimologicamente,
o termo grego kritikós significa “ser
capaz de fazer julgamentos”. O verbo krinein
quer “separar; decidir”. O que muitos cidadãos apaixonados por suas ideologias
e opções partidárias não percebem é que toda crítica comporta uma autocrítica.
A adesão a um ponto de vista não é absolutamente racional. O assentimento a uma
crença possui uma base afetiva. E quanto mais se repetem as razões para se
defender uma ideia contra os outros, mas afetivamente convencidos de sua
verdade estará o indivíduo a ponto de não admitir incoerências.
Quando
chega o momento de criticar, ou seja, de julgar, a imparcialidade é o maior
desafio. No caso das opções partidárias,
a racionalidade dos argumentos se soma a uma carga emocional. Os extremismos
ocorrem justamente quando as convicções têm mais bases emotivas do que
racionais. A inflação das emoções gera o ódio ao opositor. Então, o indivíduo
pensa de seu oponente: “Que idiota! Como pode defender tal ideia! Tal
candidato!”. Ele deixa de perceber que ele e o opositor têm razões equivalentes
para permanecer do lado que estão.
O
lugar do qual julgamos interfere bastante nas nossas decisões. O histórico
individual, as referências de valores, as necessidades materiais e simbólicas,
tudo contribui para as nossas opções. O extremista não admite as falhas de sua
opção. Só as vê no opositor. A autocrítica ajuda o indivíduo a se situar diante
de suas preferências e perceber que a opção está muito além de razões, mas
envolve emoções e interesses.
Bolsonaristas
têm razões para votar em Bolsonaro. Lulistas têm razões para votar em Lula. E
outros nos demais candidatos. São boas razões? Cada indivíduo fará suas
considerações. Grupos, classes defenderão essas razões. As escolhas serão menos
racionais quando os grupos se fecham e não ouvem as razões alheias. O ódio, o
extremismo político e o rotular o opositor de “idiota” não configuram uma
prática sadia de fazer política.
Propor
um equilíbrio nessas relações é pouco eficaz porque esta crítica pressupõe
critérios que nem todo mundo quer seguir. Mas um pouco de respeito é
fundamental! Nas redes sociais, basta dizer o que pensa e pronto! Não há
compromisso com a resposta do outro. É bastante contraditório pensar que o
outro tem uma opção diferente porque não é inteligente ou têm falha de caráter.
Talvez uma boa dose de filosofia e de escolarização traga um pouco de lucidez
ao debate.