EDUCAÇÃO
E IDEOLOGIA: É POSSÍVEL SEPARAR AS DUAS COISAS?
José
Aristides da Silva Gamito
Quando
se reivindica uma escola sem partido está se propondo a existência de uma
educação sem ideologia. Isso é possível? Todo modelo de educação corresponde a
uma visão de sociedade, de política e de valores humanos. Os modelos são
históricos. Queremos dizer com isso que não há um modelo de educação
desvinculado de um posicionamento ideológico ou cultural.
O
cidadão que se quer educar está inserido num determinado tempo, lugar e
circunstância. A educação influencia a sociedade e é ao mesmo tempo
influenciada pelos interesses da sociedade. Falar em escola sem ideologia é o
mesmo que falar em objetividade científica ou neutralidade profissional. O que
se tem de analisar é que quando alguém reivindica uma educação sem ideologia,
temos de perguntar: “Sem qual ideologia?”. O mesmo se aplica aos apelos no
Brasil por uma escola sem partido: “Sem qual partido?”. Se se tirarem as ideias
de esquerda da escola, elas serão substituídas por ideias de direita, e
vice-versa.
Muitos
mal-entendidos ocorrem quanto a este assunto por uma questão de linguagem,
muitos chamam de “ideologia” somente os posicionamentos de esquerda. Como se
alguém dissesse suas ideias são “ideologia” e as minhas são “verdade”. Há certa
ingenuidade ou má-fé nisso. Pois, tudo é ideologia! Ninguém se posiciona
socialmente de modo neutro ou diretamente iluminado pela “sagrada verdade”.
A
única opção que temos é optarmos por uma escola dentro dos moldes da verdadeira
democracia. Uma escola que comporte todas as ideologias e todos os partidos. Se
a escola é um laboratório de aprendizagem da vida em sociedade, os estudantes
precisam aprender a conviver com a diversidade de ideias e a compartilhar
espaços com seus opositores. A escola deixa de ser ideal quando há hegemonia de
uma ideologia ou partido. Porém, há um limite para ser destacado: Só não podemos
tolerar aqueles posicionamentos que são autodestrutivos para a democracia. Porque
se esses se instalarem, a escola será hegemonicamente dominada por uma única
ideologia. Enquanto, a educação for plural, ela estará sadia.
Portanto,
não há educação sem ideologia. O que não podemos permitir na escola são
posturas de uma democracia autofágica. Um problema semelhante acontece com a
religião na escola. As pessoas que formam a escola têm religiões diversas, uma
ou nenhuma. Não há neutralidade e a religião pode ser tratada e discutida na
escola, o que se tem de manter é a postura de tolerância à diversidade.
Neutralidade é uma quimera! De modo semelhante, muitos cristãos se posicionam
agressivamente quando uma autoridade eclesiástica ou um grupo religioso assume
uma postura partidária. Do mesmo modo, não há Igreja neutra ideologicamente ou
politicamente. O que se precisa manter é a boa convivência! A respeito das
ideologias o que queremos, acima de tudo, pautar é que tudo é ideologia,
inclusive, a asserção de que “tudo é ideologia”. Posicionar-se politicamente é
ideológico em qualquer sentido, mesmo quando se silencia.