terça-feira, 17 de setembro de 2019

Agricultores se tornam lideranças comunitárias


A Revolução da Leitura Popular da Bíblia nas Comunidades Eclesiais de Base de Vermelho Velho (MG)

José Aristides da Silva Gamito

Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica se reconciliou com a sua realidade na América Latina. Algumas significativas transformações pastorais ocorreram em vários países latino-americanos. O relato a seguir é um caso que se insere neste amplo contexto de renovação conciliar. Na Zona da Mata Mineira, especificamente na diocese de Caratinga, desenvolveu-se uma prática eclesial que se centrava na leitura popular da Bíblia que empoderava lideranças rurais para atuarem na dinamização das comunidades católicas.
A principal revolução operada nesta fase foi a mudança da Bíblia de mãos. Antes uma leitura sistemática da Bíblia ficava reservada aos clérigos. Mas quando vários leigos foram incentivados a ler a Bíblia, eles se despertaram para outros tipos de leituras do mundo, incluindo, a sócio-política. Na diocese de Caratinga, os protagonistas da popularização da leitura bíblica foram os sacramentinos Alípio Jacintho da Costa e João Resende.
Em Vermelho Velho, tudo aconteceu a partir da década de 50. Sigo relatos orais de antigas lideranças, sendo um deles meu pai, Aristides Antônio da Silva (foto). Naquele período, Alípio e João Resende organizaram uma semana bíblica. Era um período de quase quinze dias de estudo da Bíblia e de pontos de apologética. Cerca de 15 trabalhadores rurais compareceram. Depois de uma visão geral sobre a Bíblia, estes homens realizaram uma missão de formar comunidades eclesiais. O núcleo inicial era estabelecer um lugar de culto e organizar uma equipe que realizasse os cultos dominicais. Foram estes pioneiros: Joaquim Costa Perázio, Aristides Antônio da Silva, Agenor Lucas Filho e José Genuíno de Paula, dentre outros.
Durante este período foi fundada a maioria das comunidades eclesiais da Paróquia São Francisco de Assis, de Vermelho Velho, como São José do Vista Alegre, São Geraldo do Cafezal, Fundaça, São Sebastião do Rochedo. Os agricultores passaram exercer uma forte liderança religiosa e social nestas comunidades. Além do dado religioso, a mudança de hábito na vida destes homens foi notável: passaram a ler mais, a se interessar pelos assuntos comunitários. Esta abertura de horizontes permitiu que eles percebessem a necessidade de mudar o espaço onde moravam. Todas estas mudanças foram operadas a partir da descoberta da leitura, especificamente, da Bíblia.

Para uma leitura especializada deste movimento, leia:

GAMITO, J. A. DA S. Hábito de leitura da Bíblia: Um legado da Reforma Protestante e o surgimento do Mobon na Diocese de Caratinga (MG). Sacrilegens , v. 14, n. 2, p. 65-74, 5 set. 2017.

1 comentários:

Unknown disse...

Parabéns meu amigo muito bom vou ler mais