José
Aristides da Silva Gamito
Foto: BBC. |
Nos tempos atuais, falar de política
parece mais uma questão de preferência afetiva por uma determinada posição
ideológica do que uma opção pela verdade. Embora, cada um dos pólos direita/esquerda
queira estar com a verdade. A verdade
está longo disso. Portanto, falar de certo ou errado nestes debates acalorados
depende de equilíbrio e de autocrítica.
Particularmente, não acredito em nenhuma
ideologia política salvadora, libertadora. Apenas confio mais naquelas que são
capazes de dialogar e de incluir maior número de pessoas como beneficiárias dos
bens que a política deve proporcionar a todos. Deveria haver menos polarização
política e mais absorção de pontos positivos e comuns. A rivalidade empobrece
as relações. A colaboração mútua entre os políticos deveria ser uma prática comum,
mas, é claro que, a ambição do controle do poder impede isso.
Há muitas conquistas sociais dos
governos FHC, Lula e Dilma que não podem ser reduzidos a questões ideológicas.
A rotulação de posturas ou de medidas políticas de um adversário político
totalmente como ideologia é sem sentido. Uma insistência em “passar o país a
limpo” pode significar reformas de modo predatório. Ao longo da nossa jovem
democracia, o país foi ampliando o conceito de direitos humanos, direitos
sociais, igualdade. Essas contribuições vieram de diferentes segmentos sociais
e políticos. E são valores compartilhados pelas grandes democracias. Não é
propriedade da esquerda.
O politicamente correto, a ênfase na
diversidade de gênero e outras reivindicações do direito das pessoas incomodam
os mais conservadores. Essas reivindicações culturais e sociais provocam,
exigem espaço. Às vezes, extrapolam na forma de reivindicar. Mas os contrários
também o fazem. E qualquer cristão conservador tem o direito de achar que não
deveria ser bem assim. Acho que em ambas partes faltam o diálogo e a definição
de espaços, de procedimentos de convivência mútua.
Porém, o que mais temo é que a “demonização”
do socialismo leve a rotulação preconceituosa e precipitada das políticas
públicas e de tantas conquistas dos brasileiros. Toda transição tem seus
riscos. O governo Bolsonaro vai precisar de sabedoria e não tem outra forma de
fazer, sem dialogar com a sociedade organizada. Nesta era, temo o esquecimento
do discurso sobre o pobre, mesmo com o risco eleitoreiro e populista do
petismo, foram estabelecidos meios de ouvir e de promover o pobre. Isso não
mérito exclusivo do petismo, estas aberturas começam com o governo FHC.
Se a categoria do “pobre” enquanto
discurso reconhecido pelo Estado for extinta, muitos outros espaços sociais, as
igrejas, tudo pode subestimar qualquer apelo em favor de políticas
igualitárias. Na era pós-socialista, estes discursos foram bastante esquecidos,
foram utilizados mais como reforço ideológico para o populismo. Este é o grande
risco do programa de desmonte do “socialismo” (socialismo este que não acredito
que exista no Brasil como foi enfatizado nesta campanha eleitoral). Reafirmo
isto porque a defesa do pobre e do marginalizado não é propriedade do PT e nem
de qualquer partido de esquerda. Este discurso anti-socialismo poder se tornar
uma desculpa para a não-inclusão social que já é desejada latentemente por
muitos grupos deste país. Fiquemos atentos!