terça-feira, 26 de janeiro de 2021

“EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA E A TENHAM EM ABUNDÂNCIA” (Jo 10,10): O ECO PERDIDO EM MEIO À PANDEMIA

 


José Aristides da Silva Gamito

 

Espero que a reflexão que proponho a seguir seja suficiente para que cristãos católicos e cristãos evangélicos se convençam de vez  sobre a obrigação moral coletiva de se precaver contra a transmissão da covid-19. Primeiramente, é preciso ficar claro que nenhum posicionamento partidário pode ser mais importante do que a preservação da vida. Não importa o modo como você imagina que devam ser as políticas de enfrentamento à pandemia, ou se é a favor ou contra, mas, uma posição deve ser consenso de todos os cidadãos: devemos nos proteger e colaborar para que o ciclo de transmissão do vírus termine. O imperativo desse dever moral surge do processo natural de contágio de doenças.

Segundo, não se trata de uma preferência pessoal, é uma obrigação coletiva. Nós vivemos numa sociedade e nossas ações individuais afetam a vida dos outros, principalmente, daqueles mais vulneráveis. Portanto, fazer um esforço individual e renunciar alguns hábitos em favor do coletivo é a forma de patriotismo que mais precisamos neste momento. Os cuidados de prevenção de qualquer doença exigem sacrifícios pessoais. Pensar contrário disso é imprudente, é irracional!

Se você professa a fé cristã não pode estar alheio ao dever moral de cuidar da vida. Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Se você quer razões bíblicas específicas, consulte o código sanitário do Antigo Testamento. Levítico 13 prescreve o isolamento social para evitar contágio de lepra por 14 dias (Lev 13, 2-5) e inclui o uso de uma proteção da parte inferior do rosto (Lev 13, 45). Usar a prudência para evitar que uma doença se espalhe não é imposição política do século XXI, a humanidade sempre fez isso. E há fundamentos bíblicos suficientes a favor dos cuidados para que não reste dúvida a nenhum cristão.

As ações genuinamente cristãs, independente de hábitos e de preferências partidárias individuais, devem ser coerentes com a defesa da vida. Isso exige sacrifício individual como suportar a máscara, repetir hábitos de higiene e abrir mão de grandes reuniões, de festas e de viagens de férias. Vivemos uma espécie de anestesia diante da pandemia. Há milhares de católicos e evangélicos que frequentam as igrejas semanalmente e que não se sentem responsáveis pelo encerramento do ciclo de contágio do coronavírus. Primeiro, eles não se importam em serem contaminados e assumem o risco de um agravamento da doença; se testam positivo, andam criminosamente desprotegidos contaminando novas pessoas. Muitas dessas pessoas estão voluntariamente se tornando vetores de transmissão do vírus e gerando, por consequência, mortes de pessoas vulneráveis.

Esses hábitos contumazes soam muito egoístas. As pessoas não querem abrir mão do conforto e de parte da liberdade cotidiana por um bem maior. Lembre-se de que isso não é definitivo e se o fizermos quanto antes, mas cedo voltaremos à normalidade, inclusive, à recuperação da economia. São restrições transitórias. A sensação de perda de liberdade não permite a essas pessoas pensarem no bem coletivo. Quando alguém não está disposto a colaborar e quer transferir a responsabilidade para os outros, está construído o espaço perfeito para a recepção de qualquer discurso de negação e de subestimação da ciência, mesmo que aquele cidadão não tenha conhecimento especializado para entender minuciosamente questões de infectologia e de ciência em geral.

Em síntese, é um dever moral inegável de todos os cristãos tomarem seus cuidados de prevenção, envolvendo a si e aos outros, visto que todos os fundamentos bíblicos do Antigo e do Novo Testamento são favoráveis à saúde e à vida. E não será por motivos ideológicos ou partidários, ou por indiferença pessoal, que se tornará uma exceção. De onde saiu esse cristianismo contra vida? Se a religião não for favorável nem à manutenção da vida para que outra coisa ela servirá?!