sábado, 10 de setembro de 2011

Filosofias


TÓPICOS ESPECIAIS EM FILOSOFIA[1]

José Aristides da Silva Gamito

I - Filosofia da Mente
II - Filosofia da Educação
III - Filosofia Política

Introdução

            Abordaremos nesta conferência três importantes subdivisões da Filosofia: Mente, educação e política. Partiremos dos estudos sobre a mente de um ponto de vista filosófico para depois nos determos nos fundamentos da educação e da política dentro da filosofia.

I - Filosofia da Mente
A filosofia da mente é um ramo da filosofia que estuda a natureza da mente, os estados, funções e propriedades mentais, a consciência e suas relações com o corpo físico, principalmente com o cérebro. Neste sentido, seu estudo envolve o modo de ser da mente, a consciência, o autoconhecimento, a percepção, a introspecção.
            As principais questões propostas pela filosofia da mente são:

ü  Qual a relação entre mente e corpo?
ü  A mente é uma entidade física?
ü  É possível verbalizar os estados mentais?

Dentro dos problemas abordados por esta subdivisão da filosofia sobressai-se a relação entre mente e corpo. Há duas tendências na tentativa de resolução do problema: Monismo e dualismo. Na antiguidade, Platão e Aristóteles são os primeiros representantes do dualismo. Mas é o filósofo Descartes quem irá formular com precisão esta distinção entre corpo e mente.

O problema mente-cérebro
O termo mente
Etimologicamente, mens, mentis significa “pensar, conhecer, entender”. Os gregos a chamavam de nous, noos com o sentido de “intelecto, entendimento”. E também psyché. As palavras alma, espírito, mente não se reduzem a cérebro, mas foram na história usadas para designar estados mentais. Termos usados: Mens, nous, pneuma, ruah, nephesh.

Dualismo
            Platão defende um dualismo explícito que chega a argumentar em favor da transmigração da alma e afirma a existência da alma. As coisas são cópias de uma realidade pré-existente. Já Aristóteles postula um pneuma, presentes nos seres vivos que não é contraposto ao mundo material e corporal. Em toda Idade Média, o dualismo foi predominante. Descartes utiliza as expressões res cogitans e res extensa para falar sobre a mente e o corpo. O pensamento é diferente do corpo. O dualismo pode ser sustentado de dois modos. Pode-se considerar que a mente é uma substância independente. Ou que é um conjunto de propriedades distintas do cérebro, que não podem reduzidas ao cérebro, mas que não constituem uma substância independente.

Monismo
O monismo é a vertente que sustenta que corpo e mente não são entidades ontologicamente distintas. Existem filósofos defensores desta solução para o problema mente-corpo: Parmênides (século V a. C.) e Spinoza (século XVII). Os fisicistas sustentam que somente existe aquilo que é físico. Neste caso, a mente é reduzida a uma entidade física. Já os idealistas julgam que a mente é tudo que existe e que o mundo externo é uma ilusão criada por ela. Dentre o fisicismo está o behaviorismo.

O dualismo cristão
Na perspectiva bíblica cristã, corpo, alma e espírito constituem a totalidade que é o ser humano (1 Ts 5,28). Na compreensão judaica também, corpo (feito de barro), alma (vida) e espírito (sopro divino, imortal) são constitutivos de um mesmo todo. Apesar de haver mais tarde na história do cristianismo um dualismo acirrado.

II - Filosofia da Educação
            Toda concepção de educação implica necessariamente uma concepção de homem. Acompanharemos, a seguir, a visão dos principais pensadores sobre a formação do homem.

Sócrates
            O método de educação de Sócrates não pode ser pensado separadamente de seu método de filosofar: A maiêutica. Os fins de sua visão educacional são éticos. O homem almejado por esse modelo de educação é aquele disposto para a justiça, para o amor e para a virtude. A ignorância é a causa dos vícios e de todos os males.  O homem é definido pelo seu intelecto.
            A metodologia socrática supõe que todos já possuem em sua alma o saber. A função do mestre é provocar o parto de ideias.

Platão
            A visão de educação em Platão exige primeiramente um exame da teoria das formas. O mundo sensível é apenas um aspecto do mundo real. O conhecimento se dá pelo contato repetido com um objeto até formamos uma ideia geral do que ele é. A ignorância é um esquecimento, quem procura agora saber, em um determinado tempo, soube. Platão chama este fenômeno de anamnese.

Aristóteles
            Este filósofo procurou entender o funcionamento do raciocínio como base do processo cognitivo. Através da classificação das ciências, o pensador abrange o pensar, o agir e o fazer. Sua visão educacional quer atingir o homem como um todo. O conhecimento deve ser buscado pela inteligência.

Baruch Spinoza
            Spinoza é importante para a discussão em torno da educação por privilegiar a singularidade humana. O homem possui um desejo de conservar a si mesmo como singular. Os afetos são os modos de pensar as coisas.

Immanuel Kant
            A liberdade e a moralidade são as fundadoras da educação. A finalidade da educação é justamente a consecução da liberdade por meio da universalização do saber. Educar a razão é adquirir autonomia.

Georg Friedrich Hegel
            Hegel foca seu pensamento no absoluto. Para ele, portanto, educar o homem é ordená-lo, discipliná-lo segundo a razão. Este ordenamento acontece dentro da sociedade.

Karl Marx
            Marx pensa a educação como parte da superestrutura e que foi por muito usada como forma de controle social pelas classes dominantes. Na sua visão a educação deveria ser igualitária. Educar o homem seria fazê-lo consciente de sua classe.

III - Filosofia Política
                        Primeiramente, devemos lembrar que filosofia política é a disciplina filosófica na qual se discute como a sociedade deve estar organizada. Há duas tendências nas concepções políticas: Realista e utópica.
            Há muitos preconceitos em relação à política. “Arendt estabelece duas categorias de preconceitos contra a política: no âmbito internacional – o medo de um governo mundial totalitário e violento; no âmbito local ou interno – a política é reduzida a interesses mesquinhos, particularistas e à corrupção.”
                        Para se compreender a política, Francis propõe-nos a imaginar como seríamos sem ela. Ainda segundo Wolff (2003), a vida humana pode acontecer a partir das três possibilidades que se seguem:
a)      Em comunidade, organizada pela existência de uma instância externa à sociedade (o Estado, por exemplo), cuja função seria a efetivação e a manutenção da unidade da sociedade. A política, neste caso, seria coercitiva e o poder estaria localizado fora da sociedade, mas agindo sobre ela.
b)      Isolada, como a maioria dos animais, talvez em pequenos grupos ou famílias. Essa condição seria praticamente impossível.
c)      Em comunidade, mas sem a necessidade da política. A vida transcorreria em harmonia, sem diferenças, sem conflitos, nem confrontos, sem a necessidade de leis ou limites.
Segundo Wolff apenas 2 sociedades conseguiriam viver o ideal da política: A sociedade ateniense e os índios brasileiros.

O modelo ateniense
            Os atenienses desenvolveram a noção de esfera pública com o começo da democracia. Nas reformas de Sólon e de Clístenes, consolida-se uma forma de governo com a representação da vontade do povo: O conselho (boulé) era composto por 500 representantes das classes existentes e subdividido em 10 comissões (pritanias) de 50 membros. Ele recolhia as propostas de leis a serem votadas na ekklesía.

O modelo indígena
            Os europeus afirmavam sobre os índios: “Os indígenas não têm política, não têm Estado, não têm leis – espantavam-se os colonizadores.” E mais, eram “sociedades sem escrita; sem Estado; sem mercado e sem história.” Em grupos como os tupis-guaranis, funcionava um tipo de autogoverno.
            O chefe indígena tinha função de árbitro, de conciliador.  Ele precisava usar a retórica para manter a ordem só que seu discurso se baseava no passado.

O modelo maquiavélico
            Maquiavel chocou porque abordou o tema da política considerando o lado egoísta do ser humano. A sua intenção é dar instruções práticas em “O Príncipe”. O pensador desenvolve um estudo sobre o poder e na sua definição ele é entendido como “como correlação de forças, fundada no antagonismo que se estabelece em função dos desejos de comando e opressão, por um lado, e liberdade, por outro, pelos quais se formam as relações sociais.”
            Existia uma ética própria para política. Algumas atitudes e valores individuais têm pesos diferentes para atitude do monarca, pois ele tem de pensar em seus súditos.  Por exemplo, a generosidade excessiva pode arruinar as finanças do Estado. A sobriedade garantiria gestos de nobreza do governante.
“O agir pressupõe a compreensão da natureza humana, assim entendida por Maquiavel: os homens buscam quem lhes proporcione vantagens, melhorias.”

REFERÊNCIAS

MASLIN, Keith. An introduction of philosophy of mind.  Cambrige: MPG Books Ltd., 2001.

TEXEIRA, João de Fernandes. O que é filosofia da mente. Editora Brasiliense, 1994.

VV. Filosofia. Curitiba: SEED-PR, 2006.


[1] Aulas de Filosofia ministradas no bacharelado de Filosofia Organizacional do Instituto de Educação Superior do Espírito Santo (IESES)/Faculdade de Ciências da Bahia (FACIBA), polo de Caratinga, 2011.

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