POR
QUE ME EXONEREI DO MEU CARGO EFETIVO DE PROFESSOR DA REDE ESTADUAL DE MINAS
GERAIS
Quase um ano
depois de ter me efetivado como professor de filosofia na rede estadual de
educação de Minas Gerais, eu pedi exoneração no dia 13/05/2014. Muitos colegas
e amigos ficaram se perguntando sobre a razão, então, exponho abaixo os motivos
para essa decisão um tanto radical.
- A recepção da filosofia no Ensino Médio é negativa. Primeiramente, ela ocupa um espaço mínimo na grade curricular. Ainda é considerado um conhecimento marginal. O sistema público de ensino não dá as bases para a aprendizagem da filosofia: Ler e interpretar bem.
- A escola tornou-se um espaço de violência. A ausência da família na escola e a fragilidade da autoridade da instituição escolar estão transformando a relação professor/aluno em uma ficção didática. A aprendizagem move-se para o último plano e cabe ao professor, como principal missão, garantir a disciplina. Educação moral se aprende em casa.
- As licenciaturas não preparam o professor para o cotidiano da sala de aula, o sistema educacional muito menos. Os novos professores que tomaram posse no último concurso de Minas Gerais jamais foram convocados para uma capacitação objetiva, específica. A burocracia e as cobranças são frequentes, mas o Estado pouco oferece para a motivação e formação do professor iniciante.
- A desmotivação dos professores é contagiante. Em reuniões e em encontros particulares, só há reclamações sobre a profissão. Sim, ela está desprestigiada. Mas se desde os veteranos até os novatos isso acontece, a classe não atrairá novos profissionais. Na boca de muitos docentes, cada período de aula é uma batalha. Não me conformo que tenhamos de passar a vida toda encarando o trabalho assim!
- O investimento do professor em material para as aulas é alto. Não há livros para todos os alunos, os equipamentos de multimídia da escola são insuficientes para tanta demanda, competindo com tanta tecnologia nas mãos dos adolescentes e o professor tendo de se virar com giz, xerox e eslaides. Se quisesse ter tudo em mãos o investimento teria de ser pessoal.
- O salário é alvo de reclamação geral. Mas eu deixaria a questão financeira em segundo plano, se os alunos fossem gentis e humanos, se os pais participassem da vida da escola, se o sistema educacional tratasse o professor como parceiro e não como súdito. Como professor se tornou uma profissão de risco e de alto estresse não há razões para se conformar com o baixo salário.
Por
essas razões decidi investir em outra profissão. Não desisti definitivamente
de ser professor, posso atuar, se a situação favorecer um bom desempenho da
minha função de professor. O respeito e a dedicação que tenho pela filosofia me
fizeram revoltar ao me deparar com tantos adolescentes indisciplinados e alheios à
aula, à escola, ao professor.
O
fator decisivo foi o desrespeito ao professor, a falta de humanidade. Muitos
deles se diziam cristãos e me acusavam de ser ateu. Simplesmente, porque não
compreendiam a criticidade da filosofia. Eu nunca me declarei ateu. Além de uma
imaturidade de tantos adolescentes que nem descobriram porque estão na escola e
que estão nas salas de aulas perturbando quem quer aprender. Definitivamente,
estamos educando para a liberdade sem responsabilidade. Insistir nesse trabalho
seria incoerente da minha parte. Cursei bacharelado e licenciatura em filosofia
porque considero esse conhecimento fundamental para a vida do homem. Não foi só
um diploma!
Indigna-me
muito mais quando este problema da indisciplina, culpa da família, é
transferido para o professor. Já fui advertido pelo mau comportamento de alunos
como se eu fosse responsável pelos valores que eles carregam. Professor é
diferente de pai. Concluo, se não há quem quer aprender, não há razões para
ensinar. Sou grato aos colegas da escola onde trabalhei e aos alunos aplicados
que me deram satisfação em ensinar, desejo-lhes boa sorte!
JOSÉ
ARISTIDES DA SILVA GAMITO
Professor de Filosofia
joaristides@gmail.com
joaristides@gmail.com
0 comentários:
Postar um comentário