quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Violência religiosa


 

CHARLIE HEBDO E O DEUS CAÇADOR DE INFIÉIS

O número do jornal francês Charlie Hebdo de janeiro de 2016 em memória dos atentados contra os cartunistas do semanário no ano passado traz uma charge provocativa na capa: O desenho de um deus armado com os dizeres “Um ano depois: o assassino continua solto”. Esse tipo de humor satírico com a religião provoca rejeição por parte da comunidade religiosa. Todos se sentem ofendidos. É claro! Liberdade de expressão tem limites. Criticar o fanatismo religioso deveria ser diferente de ofender o sentimento religioso das pessoas.
Porém, proponho uma reflexão sobre esse sentimento de indignação diante da violência por motivos religiosos. O erro das religiões, principalmente das monoteístas, é racionalizar, rotular deus demais. É um deus que não ri, não faz humor, porém, manda fazer guerra, manda extorquir o dízimo do pobre. Que grande contradição!  As pessoas dizem que com Deus não se brinca. É verdade! Mais grave do que brincar é matar, controlar a liberdade, manipular o conhecimento da realidade, agir desonestamente para tirar o dinheiro das pessoas.
Temos de ter cuidado com o zelo religioso. O zelo em excesso vira vício, e nesse caso da religião, esse vício é o radicalismo. Todos os monoteísmos tiveram ou têm suas fases e vertentes fundamentalistas. No Brasil, nós nos orgulhamos de não ter violência religiosa, mas isso não está se mostrando verdadeiro. Algumas ramificações cristãs de orientação pentecostal têm promovido claramente a discriminação de religiões afrobrasileiras. Um grande patrocinador do radicalismo é a ignorância quanto menos se conhece a religião alheia mais preconceito se tem dela.
Outro fator que alimenta o fanatismo é uma ideia única de verdade. O fiel se prende na visão de mundo de sua religião, com as cores de suas lentes pinta a realidade. Ele julga a cosmovisão alheia, mas nunca a experimentou, nunca admitiu que o mundo é plural. Creio que o verdadeiro zelo pela religião levaria o fiel a abrir mão de alguns princípios religiosos para poder praticar o amor ao próximo e o respeito a Deus. Precisamos desbanalizar o nome de Deus, tornar-nos menos intérpretes de sua vontade. As religiões têm se mostrado péssimas intérpretes da vontade de Deus. E nos convencer que o respeito ao próximo está acima de nossas ideias de estimação.

Se Charlie Hebdo está certo? Não vou julgar o mérito. Mas que as religiões deveriam refletir sobre essa situação, deveriam seriamente. Não é legítimo promover a religião pela violência física e nem pela violência psíquica/social como fazem as instituições religiosas ocidentais.

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