A
PROIBIÇÃO VETEROTESTAMENTÁRIA DO USO DE TATUAGENS
Tatuagem da múmia de Ukok (fronteira da Rússia com a Mongólia, China) de 2.500 atrás; |
Os cristãos
frequentemente perguntam sobre a proibição veterotestamentária do uso de
tatuagens. Em Levítico 19, 28 diz: “Não deveis fazer tatuagem em vós”. A Torá contém inúmeras proibições e todas nascem
a partir de uma necessidade ou motivação específica daquele tempo, daquela
cultura. A aplicação irrestrita de todas essas normas à sociedade contemporânea
pode gerar algum desconforto visto que nem todas são mais compatíveis com a
cultura moderna ocidental ou não possuímos mais um contexto adequado para a sua
recepção.
Esta aplicabilidade das
proibições da Torá terá diversas
compreensões. Tudo dependerá da intenção do leitor. As leituras
fundamentalistas tenderão em aceitá-las irrestritamente. Porém, as leituras
críticas, que levam em consideração a história, a cultura, o tempo, considerarão
algumas praticáveis e outras impraticáveis. Se a leitura bíblica for sempre
normativa, ignorando o gênero literário e as motivações culturais, tudo será
uma questão de transpor tudo daquele tempo para hoje sem nenhuma reflexão.
Por fim, vamos ao ponto
específico do Levítico 19. Todo este capítulo trata de normas comportamentais
para a identificação do povo de Israel como adorador do deus Yahweh. A insistência do autor é na
diferenciação do povo de Israel dos seus vizinhos que adoravam outros deuses. No
versículo 28, há a proibição de não aplicar golpes na cabeça por causa dos
mortos e nem fazer marcas sobre o corpo. Eram costumes dos povos vizinhos.
Os israelitas estavam
localizados entre os cananeus e os egípcios. A lei mosaica procurava
diferenciá-los dos povos vizinhos para afirmar a unicidade do deus Yahweh. Segundo descobertas
arqueológicas, as tatuagens no Egito eram exclusivas das mulheres. Era sinal de
fertilidade, de sorte e de status. Os cananeus faziam tatuagens de seus deuses.
Essas tatuagens eram marcas na pele e não pinturas. Marcar ou cortar a pele era
uma forma de evocar o poder dos deuses. Era a forma de mostrar a pertença a um
deus específico. [1]
No Levítico 19, 28
aparece a palavra קַעֲקַע (qa’aqa) que tem
o sentido de “marca, incisão”.[2]
Neste sentido, difere muito das tatuagens modernas. Sim. A proibição permanece.
Mas o contexto era exclusivo para marcas de pertencimento aos deuses pagãos.
Não diz respeito a uma proibição geral das tatuagens. É uma norma específica! Os
leitores que insistem na proibição poderão recorrer à teologia paulina do
corpo. Mas são textos com motivações diferentes.
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