O PROTOCONSERVADORISMO: A VERDADEIRA TRADIÇÃO
O Sínodo da Amazônia, dependendo de suas conclusões, será um novo divisor
de águas na história da Igreja no Brasil. A polarização política das últimas
eleições não havia afetado tanto a relação entre os católicos quanto agora com este
evento. Apesar de haver uma acusação de que a CNBB seria de esquerda, porém,
como não houve nenhum pronunciamento oficial do órgão, reinou certa
neutralidade nas eleições de 2019. Porém, ao longo do primeiro ano de mandato
do governo Bolsonaro, os católicos de direita têm encarado as críticas ao
projeto governista por parte de alguns setores eclesiais como uma opção pela
esquerda. Esta mútua rotulação tende sempre a fragmentar o tecido eclesial. Todo
mundo “ladra” e quando se percebe “a caravana já passou”! O prejuízo é para
todos. A opção é o diálogo, mas parece que ninguém está a fim de fazê-lo.
A mãe de todos os desentendimentos são as simplificações e as
generalizações. Há grupos que querem que a Igreja seja de direita, há grupos
que querem que ela seja de esquerda. Há aqueles que simulam uma neutralidade,
mas no fundo querem que ela mantenha o status
quo. Dentro deste debate corre-se o risco de se esquecer de Cristo e do
Evangelho. O Evangelho possui uma dupla dimensão espiritual e social. Neste ponto,
se quisessem, ou se as vozes mais críticas tivessem humildade, poderia haver
uma síntese enriquecedora. Mas, o que ocorre é que todos dois lados querem sequestrar
Cristo a seu bel-prazer!
A agenda direitista católica precisa aprender que o Evangelho inclui, de
fato, uma atenção pelos pobres. A agenda esquerdista católica precisa entender
que a atuação social da Igreja não pode ser reduzida meramente a um projeto
partidário. O Reino de Deus no olhar do Novo Testamento inclui uma
transformação psíquica, espiritual e social dos discípulos. Porém, no alto da
soberba das novas vozes disputantes, essas pessoas acham que somente o outro
lado precisa aprender. Então, começa o xingamento entre direita e esquerda!
Além do reequilíbrio da dupla dimensão do Evangelho, há necessidade de
se fazer uma crítica sobre o verdadeiro conservadorismo que deve ser defendido.
As vozes mais críticas contra a CNBB, o papa e o Sínodo da Amazônia,
geralmente, defendem um conservadorismo de tradições tardias que remontam ao
máximo ao período tridentino. Contudo, o conservadorismo que deveria ser
reivindicado ninguém o faz: o do protoconservadorismo.
Com esta expressão, refiro-me ao retorno às tradições eclesiais das eras
apostólica e sub-apostólica. A Igreja Primitiva é o protótipo de toda igreja.
Ela era simples, com poucos símbolos, poucas tradições e unia a dupla dimensão
do Evangelho. Esta simplicidade que remonta aos apóstolos ninguém está a fim de
defender. O secundário tomou o espaço do fundamental. E todos passaram a
reivindicar a verdadeira Igreja para o seu lado político. Se fizessem isso com
respeito, ainda poderíamos considerá-los, mas estes debates têm decido o nível
ao padrão anticristão. E continua a maior de todas as incoerências do
cristianismo ou da Igreja: usar violência contra o irmão de fé para defender “Cristo”!