Hoje
é dia de São Francisco de Assis. A identidade que o imaginário católico tem
deste santo é a de um católico humilde, pobre e admirador da natureza. Uma
figura pacata e inocente! Mas, na verdade, Francisco foi muito mais do que
isso. Ele foi um reformador interno da Igreja Católica medieval. Mesmo antes
dos reformadores protestantes, ele já tinha alertado a Igreja a recuperar o
evangelho como guia de sua prática. Depois de muitos séculos, aparece um papa
que retoma o nome e a proposta daquele Francisco medieval.
Quando
falamos de cristianismo deveríamos sempre empregar o plural “cristianismos”. As
atitudes incompreendidas dos dois franciscos nos alertam para dois tipos de
cristianismos conflitantes. Existe um modelo eclesiológico forte, triunfante,
que exalta os interesses da instituição acima do carisma evangélico. Este modelo
quer dominar a esfera política, a moral, os costumes e diluir qualquer
diversidade religiosa. Porém, esta tarefa muitas vezes faz sobrepor o poder ao
carisma. Como resultado de sua aplicação, temos mais Igreja, menos evangelho.
Os
franciscos parecem representar um modelo eclesiológico fraco,
servidor, que põe o carisma evangélico acima das necessidades e dos deveres
institucionais. Ele retoma o Cristo sem a camada institucional que a tradição
eclesial construiu. Este Cristo “cru”, “nu”, interpela a amar o próximo sem
distinção de perfil moral, de credo, de etnia ou de posição política. É um
modelo que incomoda a quem vive exaltando a Igreja pela Igreja. Ele é compassivo
demais! Os defensores do modelo forte não digerem bem esta abertura ao Cristo
nu porque ela é inclusiva e alcança muitos “indesejáveis” da sociedade.
Pensando
para além de categorias do enfrentamento do tipo teologia conservadora versus progressista,
faz-se necessário apresentar um cristianismo que ponha em equilíbrio poder e
carisma. Não faz sentido um cristianismo contra ou apesar do evangelho.
Voltemos a ouvir o Cristo dos franciscos! Ou o cristianismo faz isso ou se
consolida como um sistema totalitário violento como as demais ideologias da
história.
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