domingo, 27 de dezembro de 2020

O tradicionalismo e a extrema-direita

 

ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O TRADICIONALISMO SEGUNDO

BENJAMIN TEITELBAUM

 


Segundo a análise de Benjamin Teitelbaum, tradicionalismo é uma escola eclética espiritual e filosófica de alguns séculos. O tradicionalista entende que a melhor vida é a do passado. Então, procura retroceder no tempo para encontrar conceitos, valores e costumes para pautar sua vida. Os tradicionalistas da extrema-direita rejeitam modernidade. A modernidade é centrada na ideia de progresso e na liberdade e igualdade entre os seres humanos. Os tradicionalistas são contrários a tudo que deriva dessa premissa.

Eles não lidam com a ideia de mudanças no tempo e acreditam em verdades transcendentes. São contrários a possibilidade de progresso, defendem apenas estilos de vida. Em termos políticos, são contrários ao conceito moderno de Estado. É interessante que, apesar de defensores de crenças cristãs, podem ser até anticristãos em alguns aspectos. São mais favoráveis a uma religião hegemônica e predominante. Segundo Teitelbaum, eles elogiavam até alguns aspectos do islamismo. O professor relaciona o movimento a René Guénon. Seu conceito de Tradição era eclético.

Teitelbaum afilia a ideologia de Donald Trump/ Steve Bannon, Jair Bolsonaro/Olavo de Carvalho ao Tradicionalismo. Em síntese, eis algumas características apontadas pelo pesquisador e às quais faço algumas aplicações:

 

1.      O Tradicionalismo quer restaurar uma ordem e uma hierarquia cujo topo é representando por cristãos brancos, heterossexuais. Portanto, é antifeminista, pró-racista, diminuidor do espaço das minorias;

2.      É antiprogressista - o Tradicionalismo quer regredir a sociedade a alguns séculos antes e quer retoma a moral cristã medieval e a hegemonia do cristianismo;

3.      É cético em relação à ciência e por isso desestimula a pesquisa;

4.      O anticientificismo possibilita a adesão a teorias conspiratórias, inclusive, dissemina desinformações sobre a pandemia;

5.      O Tradicionalismo difere do fascismo e do nazismo porque esses eram futuristas e modernistas;

6.      Ele tem um programa de destruição das grandes organizações modernas como ONU, OMS, e uma transferência de culpa para o congresso e STF (em âmbito nacional);

7.      Ele crê ilusoriamente que todas as grandes instituições e regimes estão a favor do fantasma do comunismo, daí a paranoia com a China;

8.      Segue uma lógica de destruição, mas não têm um projeto de substituição.

9.      E acrescento, apesar do entusiasmo de alguns tradicionalistas extremistas com o neoliberalismo. Eles se atrapalham nesta agenda. No fundo, estão mais preocupados com a segurança econômica de quem está no topo. Não há a crença no progresso!

 

O interessante desta análise que ela difere do discurso comum no Brasil que identifica a extrema-direita bolsonarista ao fascismo.

 

Referência:

 

TEITELBAUM, Benjamim. The Return of Traditionalism and the Rise of the Populist Right. Penguin, 2020.