ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O
TRADICIONALISMO SEGUNDO
BENJAMIN TEITELBAUM
Segundo
a análise de Benjamin Teitelbaum, tradicionalismo é uma escola eclética
espiritual e filosófica de alguns séculos. O tradicionalista entende que a
melhor vida é a do passado. Então, procura retroceder no tempo para encontrar
conceitos, valores e costumes para pautar sua vida. Os tradicionalistas da
extrema-direita rejeitam modernidade. A modernidade é centrada na ideia de
progresso e na liberdade e igualdade entre os seres humanos. Os tradicionalistas
são contrários a tudo que deriva dessa premissa.
Eles
não lidam com a ideia de mudanças no tempo e acreditam em verdades
transcendentes. São contrários a possibilidade de progresso, defendem apenas
estilos de vida. Em termos políticos, são contrários ao conceito moderno de
Estado. É interessante que, apesar de defensores de crenças cristãs, podem ser
até anticristãos em alguns aspectos. São mais favoráveis a uma religião
hegemônica e predominante. Segundo Teitelbaum, eles elogiavam até alguns
aspectos do islamismo. O professor relaciona o movimento a René Guénon. Seu conceito
de Tradição era eclético.
Teitelbaum afilia a ideologia de Donald Trump/
Steve Bannon, Jair Bolsonaro/Olavo de Carvalho ao Tradicionalismo. Em síntese,
eis algumas características apontadas pelo pesquisador e às quais faço algumas
aplicações:
1. O
Tradicionalismo quer restaurar uma ordem e uma hierarquia cujo topo é
representando por cristãos brancos, heterossexuais. Portanto, é antifeminista,
pró-racista, diminuidor do espaço das minorias;
2.
É antiprogressista - o Tradicionalismo
quer regredir a sociedade a alguns séculos antes e quer retoma a moral cristã
medieval e a hegemonia do cristianismo;
3.
É cético em relação à ciência e por isso
desestimula a pesquisa;
4.
O anticientificismo possibilita a adesão
a teorias conspiratórias, inclusive, dissemina desinformações sobre a pandemia;
5.
O Tradicionalismo difere do fascismo e
do nazismo porque esses eram futuristas e modernistas;
6.
Ele tem um programa de destruição das
grandes organizações modernas como ONU, OMS, e uma transferência de culpa para
o congresso e STF (em âmbito nacional);
7.
Ele crê ilusoriamente que todas as
grandes instituições e regimes estão a favor do fantasma do comunismo, daí a
paranoia com a China;
8.
Segue uma lógica de destruição, mas não
têm um projeto de substituição.
9.
E acrescento, apesar do entusiasmo de
alguns tradicionalistas extremistas com o neoliberalismo. Eles se atrapalham
nesta agenda. No fundo, estão mais preocupados com a segurança econômica de
quem está no topo. Não há a crença no progresso!
O
interessante desta análise que ela difere do discurso comum no Brasil que
identifica a extrema-direita bolsonarista ao fascismo.
Referência:
TEITELBAUM,
Benjamim. The Return of Traditionalism
and the Rise of the Populist Right. Penguin, 2020.
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