O PEQUENO CONTESTADO E O DISTRITO DE SÃO BARNABÉ
José Aristides da Silva Gamito
A história de Conceição
de Ipanema está vinculada a um acontecimento de grande pesa na história
mineira: o Contestado. As divisas entre os estados de Minas Gerais e do Espírito
Santo ficaram indefinidas por bastante tempo, inclusive na região onde
atualmente são os municípios de Conceição de Ipanema, Mutum e Lajinha. A falta
de um consenso gerou uma disputa entre os dois estados. Houve conflito maior
denominado Contestado que envolveu as cidades de Barra de São Francisco e de
Mantena. Esse é o mais documentado. Mas, situação semelhante ocorreu em
Conceição de Ipanema. Quando se fala em Contestado, temos de distinguir também
o conflito entre Paraná e Santa Catarina ocorrido entre outubro de 1912 e
agosto de 1916.
Portanto, estamos
tratando do Contestado mineiro-capixaba, de modo mais geral.
O Contestado foi
um conflito que começou por volta de 1935, quando o Estado de Minas Gerais
invadiu as fronteiras capixabas com o objetivo de tomar posse das ricas regiões
do norte do Estado, além do desejo de chegar ao mar, visto que Minas Gerais é
um estado central. O conflito começou na Serra dos Aimorés e desceu até chegar
à região de Barra de São Francisco que, anteriormente, era um distrito da
cidade de São Mateus-ES. Caso passassem por Barra de São Francisco (na época,
São Sebastião), não teriam dificuldade para realizar um sonho antigo dos
mineiros, ter um porto de mar (FAGUNDES, 2018, p. 12-13).
O recorte dessa exposição
é o que poderíamos chamar de Pequeno Contestado, isto é, dos limites do
município de Manhuaçu com os municípios capixaba. Dentro dessa área estavam
Conceição de Ipanema, Mutum e Lajinha. Há dois jornais da época que registrou o
desenvolvimento dos fatos: O Manhuassu e Leste Mineiro. Em 12 de
outubro de 1902, um texto do jornal O
Manhuassu reivindicava as terras do Contestado para Minas Gerais. Destaca-se
nessa área o papel do distrito de São Barnabé. Trata-se do povoado mais antigo
de Conceição de Ipanema e que fazia parte de Mutum, sendo distrito de 1906 a
1915.
A situação gerava insatisfação por causa da insegurança
jurídica que se instaurou na região. Os dois estados estavam legislando em
duplicidade sobre o mesmo território. Muitos produtores acabavam pagando
impostos em Minas Gerais e no Espírito Santo. Esses conflitos se acirravam
porque havia lideranças nas localidades que estavam divididas entre os
interesses dos dois estados. Em 1902, os fazendeiros da região tiveram que
pagar impostos para o município de Rio Pardo. Mas a cobrança foi feita também
pela câmara de Manhuaçu (AN, 1902, p. 1).
Para garantir o território, as autoridades do Espirito Santo
começaram a interferir administrativamente na região e identificaram um ponto
estratégico para assegurar a posse da região. A solução era organizar o poder
local. Em março de 1906, foi criado o distrito de São Barnabé para defender os
interesses capixabas diante de Ipanema que era defensora de Minas Gerais. Foi
mentor dessa criação o padre Luiz Evaristo Villa. Em 1911, Minas, por sua vez,
emancipou Ipanema para barrar a expansão capixaba. No ano seguinte, Espírito
Santo emancipou Mutum com o nome de Marechal Hermes para impor uma divisa entre
os estados (OLIVEIRA, 2010, p. 22).
Em janeiro de 2014, o coronel João do Calhau protagonizou o
conflito mais violento do Pequeno Contestado. Ele saiu com tropa armada de
Ipanema e foi conquistando as localidades que ainda tinham lideranças leais aos
capixabas. Seus homens passaram por Conceição de Ipanema, Chalé, Lajinha do
Chalé, Mutum e chegaram a Aimorés. A maior resistência era liderada pelo
coronel Osório Ribeiro de Oliveira, de Mutum. Para evitar mortes, este acabou
cedendo. Segundo o jornal o Monitor de 1915, coronel Calhau retirou os arquivos
do distrito de São Barnabé e os transferiu para Ipanema. O gesto representa o
fim do domínio da capixaba (MOREIRA, 2018, p. 142).
Em 30 de novembro de 2014, a questão da zona litigiosa foi
resolvida por um conselho arbitral e o território de Mutum foi devolvido para
Minas Gerais, inclusive, o distrito de São Barnabé. No final daquele ano, ainda
houve contestação da decisão por parte do Espírito Santo. No entanto, em 1926,
foi celebrado um acordo político entre as lideranças políticas locais sob a
mediação do coronel Calhau. Esse ficou conhecido como Acordo de Chalé (IPANEMA,
1926). O gesto pôs fim às insatisfações. Mas a situação acabou pacificada,
ficando ainda, a parte do Contestado de Mantena e Barra do São Francisco.
Referências
AN.
Hemeroteca Digital Brasil. Jornal: Leste
Mineiro. Villa José Pedro, ano 1, número 21. 23 mar. 1913.
FAGUNDES,
Tiago Viana. Memória oral do contestado entre Espírito Santo e Minas Gerais:
um olhar sobre a participação de barra de são Francisco e Mantena. Dissertação
de Mestrado. Faculdade Vale do Cricaré, São Mateus, 2018.