PASTORES RICOS, PADRES
FAMOSOS... E O POVO NA MISÉRIA
José Aristides da Silva Gamito*
Introdução
Nos últimos dias, houve muita
repercussão na mídia com a divulgação do ranking
dos pastores mais ricos do Brasil pela Revista Forbes. Para o escândalo de
todos, na ordem, Edir Macedo, Valdomiro Santiago, Silas Malafaia, R. R. Soares
e Estevam Hernandes foram listados como os pastores milionários do Brasil.
A notícia nos faz pensar que existem
muitos cristianismos. E de que lado está o cristianismo, do lado dos ricos ou
dos pobres? Os bens materiais nunca foram bem compreendidos na história do
cristianismo. Ora, havia um desprezo pelo mundo, pela carne e pelas riquezas,
ora, havia uma obsessão pela glória, pelas riquezas e pelos bens temporais. A
Idade Média foi marcada por isso: Riqueza ao clero e miséria ao povo.
O cristianismo primitivo foi muito
marcado pelo espírito de partilha, mas havia também uma expectativa
escatológica: “Vamos partilhar nossos bens porque Jesus vai voltar!” Esta
motivação para a fraternidade foi desparecendo com a institucionalização da
Igreja. O renascimento proposto por Francisco de Assis e tantos, assim como a
revolta de Lutero são provenientes desta dificuldade que a Igreja teve com os
bens materiais.
Teologia da Libertação e Teologia da Prosperidade
Na atual América Latina, há duas
vertentes do cristianismo contraditórias. Enquanto a teologia da libertação
define a Igreja como “Igreja dos pobres”, a teologia da prosperidade proclama a
bênção da riqueza. Se a Igreja se
definir como Igreja dos pobres, ela corre o risco de sustentar que se subsiste
porque há pobres. Se a pobreza traz sofrimento, privação de bens necessários à
vida, não poderá ser o ideal do cristianismo; se a Igreja se define como
instituição dos ricos, então, privilegiará uma classe e se esquecerá de uma
grande maioria.
A bênção da riqueza na teologia da
prosperidade é condicionada pela fé materializada na oferta que o fiel faz à
Igreja. É uma posição excludente. Já a teologia da libertação quer a superação
da pobreza, porém, estimula nas bases um preconceito com a riqueza. Então, a conclusão
a que chegamos é que nem a riqueza (acúmulo de bens) e nem a pobreza (privação
de bens) podem definir o cristianismo. A Igreja só sairia bem se se definisse
como Igreja em favor do desenvolvimento da pessoa humana. E isso significa
também a liberdade de expressão e a tolerância da diversidade.
O capitalismo no classifica como ricos
e pobres, mas o ser humano é muito mais do que o econômico. O cristianismo tem
de se posicionar melhor entre esses extremos. A afirmação de Jesus pesa muito: “Eu
vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Abundância
de vida nos remete ao conceito shalom das
Escrituras Judaicas, “plenitude de bens”. Portanto, não é ter bens em excesso,
mas ter todos aqueles que são necessários para vivermos em paz. Esse parece ser
o ideal do Evangelho, a Igreja não é dos ricos e nem dos pobres. O pobre não é
um ideal, é uma condição provisória que se torna alvo da ação do cristão, para
conduzi-los à plenitude dos bens.
Por outro lado, a riqueza (é o acúmulo irracional
de bens), não é a finalidade da libertação, pois os recursos naturais são
finitos, se não houver distribuição proporcional à necessidade de cada um, vai
faltar para alguém. O consumismo não é um comportamento inteligente. A
desigualdade socioeconômica é a causa da fome no mundo, disso todos sabem.
Igualdade social entre utopia e realidade
Concordamos que nem a pobreza e nem a
riqueza são os ideais do ser cristão, mas devemos considerar, além disso, que a
“igualdade” não pode ser entendida como todos terem os mesmos bens na mesma
quantidade (um “igualitarismo”). Esta é uma igualdade irreal porque as pessoas
possuem necessidades diferentes. Mas todos devem ter as mesmas oportunidades,
os mesmos direitos e a extinção da barreira entre as classes. Continuaremos
todos diferentes, mas com as mesmas oportunidades e poderes de nos tornarmos,
irmos ou adquirimos em igualdade de chance os bens que precisamos para viver.
Outro problema que pode ser constatado
com relação aos pastores milionários é a aquisição de bens sem pagamento de
impostos, sem satisfação ao Estado e com prejuízos aos fiéis. Uns enriquecem às
custas do empobrecimento dos outros. Isso é escândalo no cristianismo, sim! Ou
a riqueza é para todos ou há opressão e exploração aí! E diante de tanta
incoerência como podem esses cristãos obedecer ao mandato de Jesus: “Se queres ser perfeito, vai,
vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e
segue-me.” (Mt 19, 21).
Nem de ricos e nem de pobres; a Igreja
deve ser para todos. Se assim não for não será de Jesus, pode até ser cristã.
Ela não pode nem conservar o status quo,
pois justificará a existência de pobres e nem poderá ser capitalista, pois ao
se focar na riqueza, promoverá a desigualdade social, porque incluirá apenas a
classe daqueles que têm fé. Se quiser que existam Igrejas, que estejam a favor
da pessoa humana!
*Bacharel e licenciado em Filosofia e
especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.