domingo, 20 de janeiro de 2013

Riqueza e pobreza no cristianismo



PASTORES RICOS, PADRES FAMOSOS... E O POVO NA MISÉRIA


José Aristides da Silva Gamito*

Introdução

Nos últimos dias, houve muita repercussão na mídia com a divulgação do ranking dos pastores mais ricos do Brasil pela Revista Forbes. Para o escândalo de todos, na ordem, Edir Macedo, Valdomiro Santiago, Silas Malafaia, R. R. Soares e Estevam Hernandes foram listados como os pastores milionários do Brasil.
A notícia nos faz pensar que existem muitos cristianismos. E de que lado está o cristianismo, do lado dos ricos ou dos pobres? Os bens materiais nunca foram bem compreendidos na história do cristianismo. Ora, havia um desprezo pelo mundo, pela carne e pelas riquezas, ora, havia uma obsessão pela glória, pelas riquezas e pelos bens temporais. A Idade Média foi marcada por isso: Riqueza ao clero e miséria ao povo.
O cristianismo primitivo foi muito marcado pelo espírito de partilha, mas havia também uma expectativa escatológica: “Vamos partilhar nossos bens porque Jesus vai voltar!” Esta motivação para a fraternidade foi desparecendo com a institucionalização da Igreja. O renascimento proposto por Francisco de Assis e tantos, assim como a revolta de Lutero são provenientes desta dificuldade que a Igreja teve com os bens materiais.

Teologia da Libertação e Teologia da Prosperidade

Na atual América Latina, há duas vertentes do cristianismo contraditórias. Enquanto a teologia da libertação define a Igreja como “Igreja dos pobres”, a teologia da prosperidade proclama a bênção da riqueza.  Se a Igreja se definir como Igreja dos pobres, ela corre o risco de sustentar que se subsiste porque há pobres. Se a pobreza traz sofrimento, privação de bens necessários à vida, não poderá ser o ideal do cristianismo; se a Igreja se define como instituição dos ricos, então, privilegiará uma classe e se esquecerá de uma grande maioria.
 A bênção da riqueza na teologia da prosperidade é condicionada pela fé materializada na oferta que o fiel faz à Igreja. É uma posição excludente. Já a teologia da libertação quer a superação da pobreza, porém, estimula nas bases um preconceito com a riqueza. Então, a conclusão a que chegamos é que nem a riqueza (acúmulo de bens) e nem a pobreza (privação de bens) podem definir o cristianismo. A Igreja só sairia bem se se definisse como Igreja em favor do desenvolvimento da pessoa humana. E isso significa também a liberdade de expressão e a tolerância da diversidade.
O capitalismo no classifica como ricos e pobres, mas o ser humano é muito mais do que o econômico. O cristianismo tem de se posicionar melhor entre esses extremos. A afirmação de Jesus pesa muito: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Abundância de vida nos remete ao conceito shalom das Escrituras Judaicas, “plenitude de bens”. Portanto, não é ter bens em excesso, mas ter todos aqueles que são necessários para vivermos em paz. Esse parece ser o ideal do Evangelho, a Igreja não é dos ricos e nem dos pobres. O pobre não é um ideal, é uma condição provisória que se torna alvo da ação do cristão, para conduzi-los à plenitude dos bens.
Por outro lado, a riqueza (é o acúmulo irracional de bens), não é a finalidade da libertação, pois os recursos naturais são finitos, se não houver distribuição proporcional à necessidade de cada um, vai faltar para alguém. O consumismo não é um comportamento inteligente. A desigualdade socioeconômica é a causa da fome no mundo, disso todos sabem.

Igualdade social entre utopia e realidade

Concordamos que nem a pobreza e nem a riqueza são os ideais do ser cristão, mas devemos considerar, além disso, que a “igualdade” não pode ser entendida como todos terem os mesmos bens na mesma quantidade (um “igualitarismo”). Esta é uma igualdade irreal porque as pessoas possuem necessidades diferentes. Mas todos devem ter as mesmas oportunidades, os mesmos direitos e a extinção da barreira entre as classes. Continuaremos todos diferentes, mas com as mesmas oportunidades e poderes de nos tornarmos, irmos ou adquirimos em igualdade de chance os bens que precisamos para viver.
Outro problema que pode ser constatado com relação aos pastores milionários é a aquisição de bens sem pagamento de impostos, sem satisfação ao Estado e com prejuízos aos fiéis. Uns enriquecem às custas do empobrecimento dos outros. Isso é escândalo no cristianismo, sim! Ou a riqueza é para todos ou há opressão e exploração aí! E diante de tanta incoerência como podem esses cristãos obedecer ao mandato de Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (Mt 19, 21).
Nem de ricos e nem de pobres; a Igreja deve ser para todos. Se assim não for não será de Jesus, pode até ser cristã. Ela não pode nem conservar o status quo, pois justificará a existência de pobres e nem poderá ser capitalista, pois ao se focar na riqueza, promoverá a desigualdade social, porque incluirá apenas a classe daqueles que têm fé. Se quiser que existam Igrejas, que estejam a favor da pessoa humana!

*Bacharel e licenciado em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e do Superior.


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