Em todas as eleições nos
deparamos com cidadãos que acreditam que determinado partido ou
candidato está mais em conformidade com a vontade de Deus do que
outros. Nessas eleições, evangélicos preferiram votar em Mariana
ou Pastor Everaldo simplesmente por serem da mesma orientação
religiosa.
Entre os católicos, os
conservadores apostaram em Aécio por causa de sua imagem de pai de
família, católico e devoto de Nossa Senhora. Os progressistas
votaram em Dilma por causa dos programas sociais. A abertura para
discutir o tema do aborto, por exemplo, trouxe muita rejeição para
Dilma. A orientação religiosa tem muito peso na hora de votar,
independentemente da qualidade do plano de governo.
A questão que levantamos
neste artigo é que uma religião patrocinar algum partido ou
candidato e incentivar seus seguidores a votar nele é muito
arriscado. Se considerarmos os valores cristãos, podemos até dar um
palpite sobre qual plano de governo se aproxima mais desse ideal. Mas
ainda será uma solução muito arbitrária porque movimentos e
grupos cristãos diferentes consideram questões diferentes como
prioridade de um governo de orientação cristã.
Outro aspecto que se deve
analisar é o desvirtuamento dos planos de governo. Se uma Igreja ou
autoridade religiosa aposta todas as fichas no candidato X, exaltando
seu plano de governo, e se esse candidato se corrompe, a autoridade
religiosa perde muita credibilidade.
Portanto, na democracia
nem religião, nem mídia devem patrocinar ideologicamente partidos.
O papel da mídia é informar. Se quer se engajar politicamente que
cumpra seu papel. O objetivo da religião é orientar moralmente,
então, faça isso. Cada instituição deve cumprir o seu papel. Já
o engajamento político partidário é função específica dos
partidos. É este o princípio da nossa democracia.
O alinhamento entre
religião e ideologia política é uma direção muito perigosa. O
nome de Deus ainda é uma senha que abre milhões de cérebros para a
aceitação de uma ideologia. Temos testemunhos tristes na História.
Quando a Igreja se aliou ao Império Romano a partir do século IV só
vimos a desmoralização dos cristãos. Mais tarde, o mesmo se deu
com os setores conservadores da Igreja que apoiaram as ditaduras na
América Latina.
Se cada instituição se
contiver em desempenhar o seu papel dentro da sociedade, a democracia
ganhará muito com isso. Por outro lado, as ideias defendidas até
agora não pretendem engessar a participação política dos
cristãos. Aliás, defendemos o contrário, o cristão deve analisar,
tomar posição e intervir nos rumos da política. Mas sem essa
identificação radical entre Igreja e partido.
0 comentários:
Postar um comentário