QUANDO
CESSA A VIDA, DE FATO?
A definição de que a morte é o cessar
da respiração e da circulação, da atividade cerebral está se tornando algo
impreciso. Cientistas têm descoberto processos físicos que continuam depois da
morte. Pesquisadores da Universidade de Washington descobriram genes, que
codificam proteínas necessárias para a continuação da vida, vivos e agindo até
48 horas após a morte do organismo[1].
Em artigos publicados este mês no BioRxiv[2][3],
uma equipe liderada pelos cientistas Peter Noble e Alex Pozhitkov discutiu
sobre o despertar repentino de genes em peixes-zebra (Danio rerio) e ratos (Mus
musculus) mortos recentemente. Em organismos vivos, a atividade dos genes é
certa; constantemente, as células estão ativas para conservar a vida. Mas em
cadáver isso não é esperado.
Os cientistas observaram 548 genes de
peixe-zebra e 515 genes de rato entrando em atividade após a morte dos
indivíduos. Eles mediram isso observando o nível de mRNA, dados mensageiros
para transformar genes em proteínas nas células. Esse processo ativo continuou
até 24 horas após a morte.
Os genes acordados após a morte
geralmente estão associados ao câncer e ao desenvolvimento fetal. Esses últimos
cessam suas atividades após o nascimento. O que parece ocorrer é que quando o organismo
percebe a morte, inicia-se uma batalha em nível celular para recuperar a vida.
Portanto, a morte parece ser um processo que começa antes dela mesma, assim
como a vida continua depois da morte em âmbito micro.
Os mistérios que envolvem a linha tênue
entre vida e morte ainda estão longe de serem totalmente desvendados, mas
poderemos que a morte não é exatamente o que pensamos. Com isso não estamos
falando de imortalidade ou de ressurreição, temas esperados, mas que teremos
maior compreensão e surpresas desses fenômenos.
Há alguns anos sugeri a colegas a
estruturação de uma “Filosofia da Morte” justamente para debater o conceito que
temos atualmente de morte e revisá-lo. E já anunciava que a morte é um processo
que se inicia antes do último suspiro e continua além desse momento até agora
oficial para definir o limite da vida.
[1] TAYAG, Yasmin. Newly descovered
genes Will makes us rethink what time of death really means. Disponível em: https://www.inverse.com/article/17355-newly-discovered-genes-will-make-us-rethink-what-time-of-death-really-means.
Acesso em 27 jun. 2016.
[2] POZHITKOV, Alex et alii.
Thanatotranscriptome: genes actively Express after organism death. BioRxiv,
2016. Disponível em: http://biorxiv.org/content/early/2016/06/11/058305.
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