O CONCEITO ARISTOTÉLICO DE VIRTUDE E AS CAMPANHAS ELEITORAIS
José
Aristides da Silva Gamito[1]
As campanhas
eleitorais nas pequenas cidades, onde a proximidade entre candidatos e
eleitores é maior, geram fortes embates. Nessa época, todo cidadão discute
sobre política. Mas qual é o conceito de política presente nesses confrontos?
Para muitos “política”
é unicamente sinônimo de período eleitoral. Para esses cidadãos política
acontece somente de quatro em quatro anos. O cidadão se esquece dos problemas
do município durante anos e retoma seu senso
crítico provisório para alavancar a campanha de seu candidato como se a
mera mudança de administrador resolvesse todos os problemas. O seu discurso
crítico é apenas um oportunismo. Carece de compromisso com a mudança efetiva.
Além disso, a
concorrência eleitoral gira em torno de graves problemas morais. O eleitor
negocia sua consciência com o candidato, vende seu voto e estimula seu
candidato a concorrer de modo desleal para vencer a eleição. Ou seja, os
valores morais entram em recesso nessa época!
Nessas cidades,
entende-se concorrência eleitoral de forma muito primitiva. Parece uma desleal
corrida desportiva. Quebram-se regras, incitam-se ao ódio ao adversário, fazem
todo tipo de provocação e desrespeito ao adversário. E o mais curioso é que
quem é do grupo chancela essas atitudes como se fossem válidas, como se não
fossem graves contradições morais. Até mesmo os valores religiosos são
interrompidos! Pessoas profundamente cristãs acham isso normal!
Fora do período de
eleições, muitos desses cidadãos que se envolvem diretamente com a política
partidária, principalmente, aqueles que são funcionários públicos se posicionam
de modo duvidoso. Justamente, esses que deveriam no exercício de suas funções
desenvolverem uma cultura política honesta e justa, eles são ora coniventes,
ora hostis.
O cidadão que diz que
tudo que seu partido faz é certo é conivente, e o que diz que o que tudo que o
adversário faz é errado é hostil. Essa é uma figura perigosa porque ela muda de
opinião rápido e mistura verdade com interesse. É muito conveniente!
Esses mesmos tipos de
cidadãos são aqueles que em período eleitoral agridem as pessoas nas ruas,
fazem baixarias nas redes sociais, espalham mentiras para trazer vantagens para
seu candidato. Em suma, temos inúmeros exemplos de que falta ao povo educação
política!
Aristóteles dizia que
virtude é a justa medida. Eu diria que o eleitor virtuoso está entre a
conivência e a hostilidade. Ele está a certa distância das vontades de seu
candidato, não aplaude o erro, não fecha os olhos aos deslizes dele, é crítico.
Porém, a maior qualidade deste é reconhecer qualidades no adversário e não trapacear
o jogo democrático. O candidato ou eleitor sabotadores são os piores tipos na
política. São aqueles que acham que vale fazer baixaria, descer o nível,
provocar, xingar o adversário. São tipos assim que buzinam, soltam fogos de
artifícios perto da casa dos outros, colocam som alto nas ruas para provocar,
xingam o adversário de “fumo” e repetem se não for do nosso lado “pode chorar”.
Cada lugar tem suas frases típicas!
Enquanto, existir
essa conivência entre candidatos e eleitores, esse pacto pela sabotagem da
democracia, pela corrupção generalizada, não construiremos uma política honesta
e justa. Segundo Aristóteles, política e ética são indissociáveis. Somente homens
éticos podem ser verdadeiros políticos! O problema é que os malvados dos
políticos desonestos usam também esses discursos sensatos para enganar o povo!
A seguir, alistamos
algumas atitudes em período eleitoral e pós-eleitoral que as pessoas acham
normal, mas são atitudes imorais: a) Comprar voto com dinheiro ou promessa de
vantagens individuais; b) Difamar o adversário para diminuir sua imagem; c)
Fazer denúncias e críticas somente em época de eleições (isso é hipocrisia); d)
Pressionar psicologicamente o eleitor para arrancar votos; e) Provocar o
adversário com xingamentos, constrangimentos, principalmente, via redes
sociais; f) Perseguir o adversário depois das eleições como revanchismo. São atitudes
desumanas, anticristãs, imorais.
Os cidadãos que se
prestam a este tipo de concorrência trapaceira são grandes empecilhos para
mudança política que os cidadãos de bem pretendem! Período eleitoral não é época de guerra civil,
deveria ser o tempo que os cidadãos deveriam mais se reunir para discutir o
melhor para a cidade. Mas como a educação política nossa é atrasada, continuam
esses hábitos, e o pior é que são incentivados. Quem pensar diferente nunca
será eleito para um cargo política.
[1]
Professor de Filosofia, teólogo, jornalista, especializando em Língua Latina e mestrando
em Ciências das Religiões. Residente em Conceição de Ipanema. E-mail:
joaristides@gmail.com.