terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ética e Eleições


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O CONCEITO ARISTOTÉLICO DE VIRTUDE E AS CAMPANHAS ELEITORAIS

José Aristides da Silva Gamito[1]


As campanhas eleitorais nas pequenas cidades, onde a proximidade entre candidatos e eleitores é maior, geram fortes embates. Nessa época, todo cidadão discute sobre política. Mas qual é o conceito de política presente nesses confrontos?
Para muitos “política” é unicamente sinônimo de período eleitoral. Para esses cidadãos política acontece somente de quatro em quatro anos. O cidadão se esquece dos problemas do município durante anos e retoma seu senso crítico provisório para alavancar a campanha de seu candidato como se a mera mudança de administrador resolvesse todos os problemas. O seu discurso crítico é apenas um oportunismo. Carece de compromisso com a mudança efetiva.
Além disso, a concorrência eleitoral gira em torno de graves problemas morais. O eleitor negocia sua consciência com o candidato, vende seu voto e estimula seu candidato a concorrer de modo desleal para vencer a eleição. Ou seja, os valores morais entram em recesso nessa época!
Nessas cidades, entende-se concorrência eleitoral de forma muito primitiva. Parece uma desleal corrida desportiva. Quebram-se regras, incitam-se ao ódio ao adversário, fazem todo tipo de provocação e desrespeito ao adversário. E o mais curioso é que quem é do grupo chancela essas atitudes como se fossem válidas, como se não fossem graves contradições morais. Até mesmo os valores religiosos são interrompidos! Pessoas profundamente cristãs acham isso normal!
Fora do período de eleições, muitos desses cidadãos que se envolvem diretamente com a política partidária, principalmente, aqueles que são funcionários públicos se posicionam de modo duvidoso. Justamente, esses que deveriam no exercício de suas funções desenvolverem uma cultura política honesta e justa, eles são ora coniventes, ora hostis.
O cidadão que diz que tudo que seu partido faz é certo é conivente, e o que diz que o que tudo que o adversário faz é errado é hostil. Essa é uma figura perigosa porque ela muda de opinião rápido e mistura verdade com interesse. É muito conveniente!
Esses mesmos tipos de cidadãos são aqueles que em período eleitoral agridem as pessoas nas ruas, fazem baixarias nas redes sociais, espalham mentiras para trazer vantagens para seu candidato. Em suma, temos inúmeros exemplos de que falta ao povo educação política!
Aristóteles dizia que virtude é a justa medida. Eu diria que o eleitor virtuoso está entre a conivência e a hostilidade. Ele está a certa distância das vontades de seu candidato, não aplaude o erro, não fecha os olhos aos deslizes dele, é crítico. Porém, a maior qualidade deste é reconhecer qualidades no adversário e não trapacear o jogo democrático. O candidato ou eleitor sabotadores são os piores tipos na política. São aqueles que acham que vale fazer baixaria, descer o nível, provocar, xingar o adversário. São tipos assim que buzinam, soltam fogos de artifícios perto da casa dos outros, colocam som alto nas ruas para provocar, xingam o adversário de “fumo” e repetem se não for do nosso lado “pode chorar”. Cada lugar tem suas frases típicas!
Enquanto, existir essa conivência entre candidatos e eleitores, esse pacto pela sabotagem da democracia, pela corrupção generalizada, não construiremos uma política honesta e justa. Segundo Aristóteles, política e ética são indissociáveis. Somente homens éticos podem ser verdadeiros políticos! O problema é que os malvados dos políticos desonestos usam também esses discursos sensatos para enganar o povo!
A seguir, alistamos algumas atitudes em período eleitoral e pós-eleitoral que as pessoas acham normal, mas são atitudes imorais: a) Comprar voto com dinheiro ou promessa de vantagens individuais; b) Difamar o adversário para diminuir sua imagem; c) Fazer denúncias e críticas somente em época de eleições (isso é hipocrisia); d) Pressionar psicologicamente o eleitor para arrancar votos; e) Provocar o adversário com xingamentos, constrangimentos, principalmente, via redes sociais; f) Perseguir o adversário depois das eleições como revanchismo. São atitudes desumanas, anticristãs, imorais.
Os cidadãos que se prestam a este tipo de concorrência trapaceira são grandes empecilhos para mudança política que os cidadãos de bem pretendem!  Período eleitoral não é época de guerra civil, deveria ser o tempo que os cidadãos deveriam mais se reunir para discutir o melhor para a cidade. Mas como a educação política nossa é atrasada, continuam esses hábitos, e o pior é que são incentivados. Quem pensar diferente nunca será eleito para um cargo política.




[1] Professor de Filosofia, teólogo, jornalista, especializando em Língua Latina e mestrando em Ciências das Religiões. Residente em Conceição de Ipanema. E-mail: joaristides@gmail.com.

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