ENTRE A FORÇA E A COMPAIXÃO
José
Aristides da Silva Gamito
A
história moral do Ocidente nos mostra dois ideais de vida que são marcados,
consequentemente, por dois princípios básicos: A força e a compaixão. A força é
a virtude que se encarnou na sociedade grega, principalmente, aquela do período
homérico. Ela está encarnada também nos grandes impérios. Trata-se de um modo
de viver impulsionado pelos instintos da raiva, da busca pela derrota do
destino, da entrega às lutas sangrentas, à procura pela honra (timé) e pela glória (kléos). As virtudes dos heróis homéricos
da Ilíada e da Odisseia são exemplos deste modo de viver. O herói grego e
romano que é celebrado pelos seus feitos na guerra e recordado com ereção de
estátuas.
O
homem belicoso que aposta sua ação na força predominou nessas sociedades
marcadas pelo ideal da guerra e do destino traçado. É um modelo que se contrasta
com a compaixão que vem das tradições cristã e budista. A negação da honra, da
glória e da violência está implícita nesses sistemas morais. Apesar de cristãos
e budistas terem compreensões distintas da virtude da compaixão, eles
representam juntos o antagonismo da moral da força. A moral da compaixão
considera a sensibilidade do outro na ação. É uma virtude que exige a razão,
mas não se sustenta nela. O sentir do próximo é a referência para avaliarmos o
que é moral ou não. Antes de agir, o homem compassivo avalia as consequências
da sua ação sobre a sensibilidade do outro. A moral da força considera, por
outro lado, somente o bem-estar do “eu”.
Estamos
falando disso não porque se trata de uma história das ideias, esses ideiais
estão imbricados no nosso cotidiano. É presente! Se considerarmos o Brasil como
um país majoritariamente cristão, impacta-nos a defesa constante nas redes
sociais e em posições partidárias de um cristianismo baseado na força. A força
é um corpo estranho à moral cristã. Os apelos partidários à execução sumária de
bandidos, o discurso impiedoso pró-aborto, o menosprezo das minorias como
indígenas e quilombolas, mostram um recurso à moral da força. Além disso, uma
parcela da sociedade que se afirma como indignada com a situação do país,
apresenta-se como guardiã da moral cristã, mas uma moral carente de
fraternidade e de compaixão.
A
entrega ao discurso de ódio e de violência não resolve o problema de uma
sociedade. Quando se dá a violência como resposta à violência automaticamente o
mal aumenta e o bem diminui. Esta parece ser uma lógica difícil de ser
compreendida por aqueles que cultuam a violência no seu interior! O mandamento
do amor soa pesado para muita gente. Os defensores da replicação do ódio pensam
que a compaixão incute politicamente a impunidade do culpado, do criminoso. A
reeducação para a compaixão é a necessidade urgente dos cristãos da nossa
sociedade. Está em vias de institucionalização um cristianismo apesar de Cristo
ou mesmo contra Cristo! Parafraseando Deuteronômio 19, 30, entre “a força e a
compaixão; escolhe, pois, a compaixão”.
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