domingo, 15 de novembro de 2009

Criação e Evolução

TÓPICOS DE EVOLUÇÃO HUMANA

1. Introdução

Quando estudamos a origem da vida e do homem nos deparamos com um problema. A nossa sociedade foi educada durante muitos séculos com a ideia de criação. Quase todas as religiões possuem um mito de criação. No caso do Ocidente, o mito judaico-cristão é o mais influente. Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que 90% da população acreditam em um Deus criador, sendo 45% acreditam que o evento ocorreu exatamente como o Gênesis descreve[1]. A verdade no senso comum é condicionada pelo meio cultural.

No Brasil, muitas escolas ensinam a evolução junto com a criação. Mas o evolucionismo é somente uma teoria entre outras. No fim das aulas de biologia, todo mundo volta para seu mundo criacionista. As evidências científicas são trocadas pela literatura bíblica. As instituições de educação presbiterianas, adventistas e batistas assumem a postura criacionista em sala de aula. Apenas as escolas católicas separam ciência e religião[2].

2. A origem do homem

Algumas observações devem ser feitas antes de tratar do assunto. A criação não é uma teoria, é um mito. Uma teoria é uma hipótese testada. Um mito é um arranjo simbólico que um povo faz para responder uma pergunta fundamental para a vida numa época. As duas visões são frutos de época e de métodos, de propósitos diferentes. É inviável uma comparação. Mas é válido ao tratar da evolução partir do chão cultural dos alunos. E na maioria dos casos é a criação judaico-cristã.

Uma escola séria, enraizada nos valores democráticos do século XXI, não poder negar a teoria da evolução a seus alunos. Nem é ético confrontá-la tomando partido pela criação. Mesmo com o direito de manifestação religiosa que todos têm, porque evolução não é religião e nem criação é ciência.

3. Cosmogonias

Dentro das cosmogonias, pode se perceber a origem da humanidade. O cristianismo, o judaísmo e islamismo têm o mesmo mito de criação como fonte. Nem todas as religiões usam exatamente a noção de “criação” para explicar a origem. Algumas cosmogonias:

a) Cosmogonia brâmane:

A visão bramânica do mundo e sua aplicação à vida estão descritas no livro do Manusmristi (Código de Manu), elaborado entre os anos 200 a.C. e 200 da era cristã, embora também contenha material muito mais antigo. Manu é o pai original da espécie humana. O livro trata inicialmente da criação do mundo e da ordem dos brâmanes; depois, do governo e de seus deveres, das leis, das castas, dos atos de expiação e, finalmente, da reencarnação e da redenção. Segundo as leis de Manu, os brâmanes são senhores de tudo que existe no mundo.[3]

b) Cosmogonia iorubá:

Na mitologia de Iorubá, o processo de criação envolve várias divindades. Uma das versões dessa mitologia diz que Olorum – Senhor Deus Universal – criou primeiramente todos os Orixás (divindades) para habitar Orun (o Céu, mundo espiritual), com o objetivo de usá-los como auxiliares para executar todas as tarefas que estariam relacionadas com a própria criação e o posterior governo do mundo. Então, Olorum encarregou Obatalá de criar o mundo; mas este, com pressa, não rendeu a Bará os tributos devidos e, durante sua caminhada, parou para beber vinho de palmeira e, embriagando-se, adormeceu. Oduduá, a Divina Senhora, foi ao encontro de Obatalá e, ao vê-lo adormecido, pegou os elementos da criação e começou a formação física da terra. Ela mandou que cinco galinhas d’angola começassem a ciscar a terra, espalhando-a, dando assim origem aos continentes. Oduduá soltou então os pombos brancos - símbolo de Oxalá – e assim nasceram os céus. De um camaleão fez surgir o fogo e, com caracóis, ela criou o mar.[4]

c) Cosmogonia tupi:

A cosmogonia Tupi afirma que o homem é o som que ficou em pé. Tupã, o Grande Som, cria o tupi pelo som, e o som toma forma humana. O que sustenta o homem em pé é a flauta criada por Tupã, e que produz os sete sons, sendo que o último é o silêncio. Os guaranis também harmonizam a energia vital através dos sons vocálicos.[5]

O budismo não explicitamente um mito de criação. O espiritismo tende a acompanhar a ciência. Em todos os casos apresentados, um deus dá origem ao homem. E tudo acontece num tempo remoto e inacessível, mas que, contraditoriamente, é conhecido pela tradição. Portanto, a segurança está numa tradição oral ou escrita, antiga e sem uma testemunha palpável.

As cosmogonias representam um tipo de conhecimento totalmente diverso da ciência. Não pode ser ensinado e confiado com status de teoria científica. Existe a Teoria do Design Inteligente que tenta concilia ciência e religião, mesmo assim, não é solução legítima para o problema da antropogênese.

4. A evolução humana

As principais mudanças para o surgimento do homem são: a) Postura bípede; b) Habilidade manual; c) Capacidade craniana; d) Mandíbula de dentes/fala; e) Comportamento grupal.

O antropólogo Richard Wrangham defende que além dessas habilidades o ato de comer alimentos cozidos foi decisivo. Portanto, há um conjunto de procedimento que distanciou o homem do outros hominídeos.[6]

A linha de tempo da evolução humana:

70 milhões: Surgem os primatas.

24 milhões: Surgem os hominídeos.

8 milhões: Separação entre macacos e hominídeos na África.

5 milhões: Gênero Australopithecus.

2. milhões: Gênero Homo. Surgimento do Homo habilis. Ferramentas.

1,5 milhão: Espécie Homo erectus.

800 mil: H. heidelbergensis.

200 mil: H. sapiens.

200 a 12 mil: H. sapiensis idaltu; H. floresiensis; H. neanderthalensis.

150 mil: Ferramenta, fogo, linguagem, sociedade.

5. Considerações filosóficas

A seguir, a apresentação de duas considerações sobre a verdade. Existem muitas repostas para um mesmo problema. Mas com a soma de esforços e transformações culturais as explicações vão evoluindo. As respostas atuais merecem mais atenção do que as respostas mais antigas. Não que a contemporaneidade de uma teoria seja critério de verdade. A avaliação deve se fundamentar nas evidências.

É necessário das respostas sincrônicas para as questões, ou seja, responder questões do século XXI pelo conhecimento do século, e não se pretender a um passado que não diz respeito ao presente. Os criacionistas têm uma resposta anacrônica aos problemas do mundo.[7] A verdade é um processo, não pode estagnar.



[2] Revista Veja, edição 2099, 11 fev. 2009, pp. 84-87.

[4] Ibidem.

[7] Aqui foi usado: Sincrônico com o sentido de “respostas atualizada” e anacrônico “resposta defasada”.

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