domingo, 9 de novembro de 2014

Reflexões sobre ateísmo

ATEOFOBIA. O QUE É ISSO?



Sou de família de tradição católica, tenho formação teológica, mas minha perspectiva religiosa é agnóstica. Não posso deixar de refletir sobre um tema muito importante e em alta na sociedade contemporânea: Ter ou não ter fé. Em tempos atrás, muitos católicos de boa índole faziam o sinal da cruz quando se pronunciava a palavra 'ateu'. Ou seja, ateu era sinônimo de diabo. Sempre as grandes religiões, mesmo nos momentos históricos de maiores imoralidades, insistiram em menosprezar os ateus. E muito mais, condená-los ao inferno, considerando a crença superior à descrença.
Mantenho-me sempre em diálogo com crentes e não-crentes. Mas é uma tarefa muito difícil convencer uma pessoa muito religiosa a respeitar um ateu ou um agnóstico. No meio religioso reina a ditadura da crença, paradoxalmente dentre aqueles que defendem a democracia.
Aceitar ou não a condição religiosa ou não-religiosa do outro é uma questão de ética. O sentido da vida não é dado e nem revelado sobrenaturalmente. Ele é construído pelo homem dentro do espaço e do tempo. Com isso queremos dizer que as religiões são históricas. Portanto, cada pessoa tem uma experiência de vida. Circunstâncias diferentes levam pessoas a caminhos diferentes. Além dessa herança, existe o poder de decisão, de crer ou não crer.
Com a expressão "sem Deus não somos nada" as pessoas de fé consideram e apresentam todas as razões possíveis de que não crer é terrível, como se fosse impossível um ateu ser bom, feliz e bem realizado. O sentido da vida está muito além da crença e cada pessoa ou grupo desenvolve suas razões para estar no mundo.
O que o crente não percebe é que tanto pessoas de fé quanto ateus são felizes e são infelizes. Depende da vida de cada um e a moralidade é um atributo da razão. Todo homem é racional e está ao seu alcance construir o sentido da vida e optar pelo bem independente de ter fé.
Quando pessoas perdem oportunidade de construir uma boa amizade para discutir preferências sobre fé, eu me lembro da aposta de Pascal: "Se você acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho infinito; se você acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda finita; se você não acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho finito; se você não acredita em Deus e estiver errado, você terá uma perda infinita." Apesar de discordar da insinuação dessa aposta pacaliana, usei o texto para ilustrar que a fé é uma aposta no presente em algo que só pode ser provado no futuro totalmente desconhecido. É uma decisão pessoal. Não há garantias, apesar de insistir o crente que há.
No caso das religiões ditas reveladas é mais difícil aceitar os argumentos da não-existência de Deus porque o crente sustenta que o próprio Deus se revelou e que há um livro sagrado que é testemunho disso. Essa é a fé que ele professa. Histórica também. Mas será assim tão difícil continuar crendo, mas respeitando os que não crêem? Por que essa tentação em estabelecer uma ditadura da fé?
No mundo contemporâneo há espaço para todos e todas as razões são ouvidas. O que não podemos é sermos coniventes com a intolerância. Nunca devemos ser intolerantes a não ser com a intolerância. Nós seres humanos somos uma espécie que é definida pela sua racionalidade (Homo sapiens) e não pela opção de fé. Enfim, respeito é bom e todos gostam. Seria tão bom que crentes respeitassem ateus e ateus respeitassem crentes. Porque, no fundo, todos têm teto de vidro. Somos todos mortais e finitos demais para perdermos tanto tempo em condenar os outros.

 

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