ATEOFOBIA.
O QUE É ISSO?
Sou de família de tradição
católica, tenho formação teológica, mas minha perspectiva
religiosa é agnóstica. Não posso deixar de refletir sobre um tema
muito importante e em alta na sociedade contemporânea: Ter ou não
ter fé. Em tempos atrás, muitos católicos de boa índole faziam o
sinal da cruz quando se pronunciava a palavra 'ateu'. Ou seja, ateu
era sinônimo de diabo. Sempre as grandes religiões, mesmo nos
momentos históricos de maiores imoralidades, insistiram em
menosprezar os ateus. E muito mais, condená-los ao inferno,
considerando a crença superior à descrença.
Mantenho-me sempre em
diálogo com crentes e não-crentes. Mas é uma tarefa muito difícil
convencer uma pessoa muito religiosa a respeitar um ateu ou um
agnóstico. No meio religioso reina a ditadura da crença,
paradoxalmente dentre aqueles que defendem a democracia.
Aceitar ou não a condição
religiosa ou não-religiosa do outro é uma questão de ética. O
sentido da vida não é dado e nem revelado sobrenaturalmente. Ele é
construído pelo homem dentro do espaço e do tempo. Com isso
queremos dizer que as religiões são históricas. Portanto, cada
pessoa tem uma experiência de vida. Circunstâncias diferentes levam
pessoas a caminhos diferentes. Além dessa herança, existe o poder
de decisão, de crer ou não crer.
Com a expressão "sem
Deus não somos nada" as pessoas de fé consideram e apresentam
todas as razões possíveis de que não crer é terrível, como se
fosse impossível um ateu ser bom, feliz e bem realizado. O sentido
da vida está muito além da crença e cada pessoa ou grupo
desenvolve suas razões para estar no mundo.
O que o crente não
percebe é que tanto pessoas de fé quanto ateus são felizes e são
infelizes. Depende da vida de cada um e a moralidade é um atributo
da razão. Todo homem é racional e está ao seu alcance construir o
sentido da vida e optar pelo bem independente de ter fé.
Quando pessoas perdem
oportunidade de construir uma boa amizade para discutir preferências
sobre fé, eu me lembro da aposta de Pascal: "Se
você acredita em Deus e estiver certo, você terá um ganho
infinito; se você acredita em Deus e estiver errado, você terá uma
perda finita; se você não acredita em Deus e estiver certo, você
terá um ganho finito; se você não acredita em Deus e estiver
errado, você terá uma perda infinita." Apesar de discordar da
insinuação dessa aposta pacaliana, usei o texto para ilustrar que a
fé é uma aposta no presente em algo que só pode ser provado no
futuro totalmente desconhecido. É uma decisão pessoal. Não há
garantias, apesar de insistir o crente que há.
No
caso das religiões ditas reveladas é mais difícil aceitar os
argumentos da não-existência de Deus porque o crente sustenta que o
próprio Deus se revelou e que há um livro sagrado que é testemunho
disso. Essa é a fé que ele professa. Histórica também. Mas será
assim tão difícil continuar crendo, mas respeitando os que não
crêem? Por que essa tentação em estabelecer uma ditadura da fé?
No
mundo contemporâneo há espaço para todos e todas as razões são
ouvidas. O que não podemos é sermos coniventes com a intolerância.
Nunca devemos ser intolerantes a não ser com a intolerância. Nós
seres humanos somos uma espécie que é definida pela sua
racionalidade (Homo sapiens)
e não pela opção de fé. Enfim, respeito é bom e todos gostam.
Seria tão bom que crentes respeitassem ateus e ateus respeitassem
crentes. Porque, no fundo, todos têm teto de vidro. Somos todos
mortais e finitos demais para perdermos tanto tempo em condenar os
outros.
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