sábado, 26 de dezembro de 2015

Latim



A DIFUSÃO DA LÍNGUA LATINA NA ATUALIDADE

José Aristides da Silva Gamito

            Com a retirada no latim da grade curricular da educação básica em 1961, a maioria absoluta da população escolarizada no Brasil perdeu totalmente o contato com a língua.  Propor hoje o ensino do latim para as gerações mais jovens é um desafio. A primeira pergunta que normalmente aparece é: Onde se fala latim? Se disser que é uma língua morta haverá mais resistência ainda. Mas o latim pode ser considerado uma língua morta?
            Na verdade, o latim não é mais uma língua nacional com falantes nativos que o pratiquem no cotidiano. Porém, temos de considerar que é uma língua atuante e bem difundida, possuindo literatura contemporânea e uso em algumas agremiações e mídias. Além de ser a base de toda a cultura ocidental juntamente com a língua grega.
            O português provém do latim, toda a nossa estrutura lingüística e terminologias são latinas. Estudar o latim é compreender a nossa cultura, a contribuição européia para a formação da identidade nacional. Do mesmo modo que devemos conhecer tupi para aprofundar a nossa base genuinamente brasileira. Assim como não posso deixar de mencionar a contribuição africana com suas línguas e que  são pouco divulgadas.

Uso na Igreja Católica
            Durante muitos séculos o latim foi a língua litúrgica do rito romano. Conservou-se também a tradição de redigir nessa língua todos os documentos oficiais da Igreja. As inscrições nos templos, o canto, as solenidades todas eram realizadas em latim. Por isso, era e continua sendo disciplina obrigatória nos seminários e mosteiros.
            O Concílio Vaticano II liberou as celebrações litúrgicas nas línguas nacionais, mas o latim continua sendo a língua oficial do Vaticano e possui uma academia específica, a Opus Fundatum Latinitas. Esta instituição promove a língua através de publicações, concursos e diversas oportunidades de prática. Dentre suas ações está Certamen Vaticanum, um concurso que premia produções literárias em latim. Para orientar o uso contemporâneo da língua a instituição editou o Lexicon Latinitatis Recentis, um dicionário de neologismos latinos úteis para expressar coisas que não existiam no período clássico romano.
            Em Roma, existe também a Accademia Vivarium Novum fundado pelo latinista Luigi Miraglia que ensina, difunde e usa a língua.

Uso do latim nas ciências naturais e humanas
            A nomenclatura científica é tradicionalmente escrita utilizando palavras latinas ou latinizadas. A compreensão de textos científicos e jurídicos depende de uma noção prévia da língua latina assim como da grega. O meio jurídico se utiliza muito de expressões latinas.

Uso nas mídias atuais
            Na Finlândia, existe a Radiophonia Finnica Generalis que veicula notícias em latim pela rádio Yle.  Na música, encontramos desde as canções tradicionais até versões de músicas atuais, inclusive rap em latim. O coral Tyrtarion gravou muitas adaptações musicais de textos clássicos. O músico Keith Massey criou versões latinas de canções natalinas.
            Na literatura, existem as publicações oficiais do Vaticano, traduções de diversos latinistas pelo mundo afora. As revistas Aduléscens e Iúvenis são duas publicações em latim dirigidas ao público jovem.
            Encontra-se o uso de latim até nas redes sociais, exemplo é o twitter oficial do papa @Pontifex_In. Além do crescente hábito dos estudantes de utilizarem as mídias sociais para aperfeiçoar o conhecimento da língua.

Ensino da língua latina
            No Brasil, além de cursos formais nos seminários e universidade são raros os cursos livres para o público em geral. Mas existem materiais didáticos disponíveis em livrarias e na internet suficientes para aprender a língua. O mais famoso é o curso Latina per se Illustrata que tem como principal atração ser um ensino autointuitivo. O método de Orberg baseia-se na aprendizagem natural da língua. A editora Assimil prima pelo ensino do latim a partir de situações contemporâneas. A grande vantagem de se aprender a língua atualmente é seu ensino inovador como língua viva.

Usuários da língua latina
            Embora, não temos notícia de falantes nativos, mas podemos falar de falantes fluentes da língua como padre Reginald Foster (ex-tradutor oficial do Vaticano), o italiano Lugi Miraglia, o espanhol Álvaro Sanchez-Ostiz. São professores que dominam a língua e se propuserem a oferecer cursos atraentes que ensinassem a língua como viva. Portanto, há muitas motivações para aprender latim sem aquelas metodologias tradicionais e pesadas.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Tradução Latina



PRO VOCATIÓNIBUS ORÁTIO

Dómine messis et Pastor gregis, invitaméntum tuum forte et suave in áuribus nostris resonáre fac: “Veni et séquere me!”
Spíritum tuum nobis infunde, ut sapiéntiam ad viam vidéndam atque magninimitátem ad vocem tuam sequéndam nobis det.
Dómine, propter opíficum penúria, messis non perdatur.
Communitátis nostras ad missionem excita. Vitam nostram servítium esse doce.
Quos, Regno se totum dare volunt in  consecrata et religiosa vita, róbora.
Dómine, propter pastórum penúriam, gregis ne péreat.
Fidelitátem episcopórum, praesbyterórum minstrórumque sústine. Seminarístis nostris perseverántiam concede.
Iúvenum nostrórum corda, ad pastorale Ecclésiae tuae ministérium, éxcita.
Dómine messis et Pastor gregis, ad pópuli tui servítium voca nos.
Maria, Mater Ecclesiae, ministrórum Evangélii protótypa, ad respondendum “Fiat” nos ádjuva. Ámen.

Tradução da Oração Vocacional (CNBB – 1983). Tradução de José Aristides da Silva Gamito (2001) e Reginaldo Fernandes (2015). Revisão: Mons. Raul Motta de Oliveira.


 Publicado em: MOTTA DE OLIVEIRA, Dóminus Radulphus. Celebratio Eucharistica in Solemnitate Jesu Christi universórum Regis. Ubaporangae: Dioecesis Caratingensis, 2015.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Onomástica

REGASTE DOS SOBRENOMES ORIGINAIS: UM DESAFIO DAS FAMÍLAS DE IMIGRANTES

Introdução
Desde que cheguei a Conceição de Ipanema (MG) o que mais me chamou a atenção foi a quantidade de descendentes de alemães, espanhóis e italianos que existem no município. Como sempre gostei de aprender línguas e ler sobre onomástica, decidi a enumerar os sobrenomes, seus significados e suas histórias. Já escrevi neste blog sobre muitos deles.
Hoje em conversa com um membro da família Louback no facebook, resolvi pesquisar sobre esse sobrenome, o que constatei é que muitas famílias perderam a grafia e a pronúncia original de seus sobrenomes. Louback não é Louback!

A grafia original de Louback
Louback é uma grafia estranha ao alemão porque apresentam combinações vocálicas e consonantais inexistentes ou raras na língua. Segundo o blog “História de Friburgo”[1] a outra grafia deste nome é Laubach. Este, sim, tem características da língua alemã! Portanto, insisto na tese de que a grafia original de Loback é algo como Laubach.
Armindo L. Muller corrobora essa tese ao afirmar: “Só para citar alguns exemplos: Gradwohl virou Gratival; Bröder virou Breder, Gundacker se transformou em Condack; Schwab foi alterado para Schuabb; Laubach é hoje Louback e assim por diante.”[2] O site Hermsdorff concorda.[3]
Se pesquisarmos sobre Laubach, o site House of Names[4] diz que Lauch significa “padeiro”, uma forma medieval. A família surgiu na região da Baixa Saxônia.
Segundo os autores do site, o sobrenome tem muitas variações como Leiber e Leibnitz. Os primeiros registros se encontram nos nomes de Hans Laybel (Nickolsberg, 1414) e de Peter Loeubling (Reutlingen, 1390).
No Brasil, há informações de que a família Laubach, hoje Louback, entrou no país através de Nova Friburgo através de Johannes Werner Laubach por volta de 1779.[5]
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Pronúncia: Laubach soa ˈlaʊbax.




[1] http://historiadefriburgo.blogspot.com.br/2011/04/chegada-dos-colonos-vila-de-nova.html
[2] http://www.djoaovi.com.br/index.php?cmd=section:imigrantes_alemaes
[3] http://www.hermsdorff.net/site/index.php/artigos/historias-e-antepassados/18-hermsdorff-grafia-e-significado-do-nome
[4] https://www.houseofnames.com/laubach-family-crest
[5] http://emmerich-afe.org/wp-content/uploads/2012/07/Os_alemaes_pioneiros_Nova_Friburgo.pdf

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Ética e relativismo

            O IMPERATIVO ÉTICO E AS PRIORIDADES AXIOLÓGICAS

José Aristides da Silva Gamito[1]
Resumo
Proposta de definição de um minimum ético para estabelecer o discurso democrático dentro de uma sociedade plural e relativista. A ética é fundamentada pela intangibilidade da vida e a partir desse princípio pela demarcação de prioridades morais.

Palavras-chave: Ética, pluralidade, relativismo, minimum moral.

1.  Introdução
            Ao longo das minhas reflexões sobre ética sempre me questionei sobre que proposições podem ser afirmadas como universalmente verdadeiras e válidas diante de tanto relativismo gnosiológico e moral. Mesmo que alguém esvaziasse toda universalidade metafísica, gnosiológica e moral, nós precisaríamos defender um minimum dogmático para fundamentar esse discurso. Dentre todos os campos da filosofia, o único que sobreviveria a todo relativismo considero ser a ética.
            Portanto, todo discurso precisa de fundamento para se constituir, seja ele relativista ou não. Descartes afirma como certeza fundamental da razão a existência. Portanto, a verdade mínima a que posso reduzir toda minha dúvida é o fato de existir. O sum cartesiano poderia soar como vivo na perspectiva da nossa reflexão. Mas já o cogito precisaria abranger o pensamento, o sentido e impulsos de vida.

2.  As fundamentações do imperativo ético

            Se todas as verdades são relativas o que me assegurará o direito de afirmar tal proposição? Em última instância, e como instância fundadora, o fato de eu estar vivo. A vida é condição ontológica e o direito de se expressar como vivente o ponto de partida para todo discurso ético. Se imaginarmos uma sociedade plural, relativista, porém, intolerante, perceberemos como será difícil propor um discurso democrático, considerando a pluralidade, sem estabelecer um fundamento que sustente determinada proposta ética.
            Portanto, o vivo é a condição fundadora da ética. Do seu núcleo surge um imperativo ético que sustenta todo discurso social e filosófico: “Não matarás”. Esse imperativo é um dogma, aliás, o único dogma, porque deve sobreviver a qualquer desmoronamento de valores de propostas morais. A afirmação nos lembra a tradição do decálogo bíblico (“Non occides”), porém, a proposta nossa é totalmente laica.
Esse ‘não matarás’ pode representar a morte física de fato, empírica, mas também a morte no sentido conceitual, quando há a abstração, a mera conceituação e abstração do outro a um protocolo, número ou planilha burocrática, como normalmente os sistemas de ensino encaram. Assim o rosto como olhar, assume a dimensão de apenas um número de matrícula ou um nome na lista de chamada, ou como no caso do professor alguém que precisa ser suportado, por dominar determinada área do conhecimento. A abstração e burocratização do olhar do outro é um tipo grave de morte que inviabiliza a verdadeira educação entre sujeitos (RODRIGUES, 2012, p.67).

            A expressão “não matarás” inclui um conjunto de privações ao ser vivente, que vai desde provocar sofrimento, causar dor até a aniquilação total da vida. É uma ética trans-humana. Envolve todos os seres vivos, e mais, inclui toda a ambiência que é o reino da vida. Portanto, “não matarás” significa não causar nenhum tipo de dor, sofrimento ou privação da possibilidade de viver porque aquele que vive precisa estar em condição de debater, dar razões de sua condição de vivente. Vencer pelo assassinato é uma covardia moral que rebaixar o ator daquela ação.
            Portanto, viver é o dogma fundante de todo discurso e ele é anunciado pelo imperativo ético “não matarás”. Sem essa condição fundamental não existe qualquer discurso sobre valores morais, diante de toda arbitrariedade e intolerância é necessário permitir pelo menos viver, antes de dar as razões sobre qualquer posicionamento ou qualquer ação.
           
3.  A condição de vivente e de proponente do homem

            A partir da condição ontológico-ética do vivo, podemos falar de duas características do homem, ele é res vivens e res proponens (em analogia à filosofia cartesiana). A sua condição fundamental é viver, em sentido pleno, e poder se comunicar, dizer, propor considerações sobre o mundo. Toda a sua atividade na história foi propor cultura, simbolismo, normas, discursos, modelos de sociedade. Ele propõe enquanto constrói o mundo, desenvolve tecnologias (ações) e propõe enquanto pensa, cria discursos, atribui valores ao mundo (reflexões).

E citando Etienne Féron, “o Dizer é a instância original em que se tece a comunicação”. Dizer é sentir-se humano. É constituir-se como uma passividade expositiva, como vulnerabilidade e não como casulo. Essa humanização está na capacidade de sentir o humano no Outro e perceber a capacidade “ser-para-o-outro” e não ser um ser para si mesmo. Assim a visage é um apelo que diz e por isso reintegra e reafirma a sua condição de humano ao suplicar o “não matarás” (RODRIGUES, 2012, p.69).

            Podemos dar mais um passo no sentido de uma ética mínima. Seus valores inegociáveis precisam ser pelo menos: Estar vivo e poder se expressar. Isso constitui o núcleo do imperativo ético.

4.  As prioridades éticas

            O homem como proponente cria uma variedade de valores. E cada pessoa segundo sua inteligência, aptidão e interesse se ocupa de alguma atividade ou área do saber, chegamos a um momento que estamos fragmentados, desconectados. Mas socialmente temos vínculos, interferências múltiplas.
            O mundo contemporâneo, múltiplo, complexo e veloz, se depara com algumas contradições morais. A desigualdade social, a fome, o terrorismo, o tráfico de droga são esquecidos e postos em segundo plano. Bilhões são investidos no entretenimento e conforto de uma minoria, sendo que há maioria que não tem acesso nem ao básico para sobreviver e se expressar.
            Portanto, o que propomos é que se o fundamento da ética é a condição de vivente, é prioridade moral todo valor em torno da preservação e da otimização da vida. Os investimentos em mídia, lazer, moda, entretenimento, construções e meios de transportes luxuosos só deveriam existir quando tivéssemos garantido as necessidades básicas.
            Primeiro, eu preciso assegurar a vida, ter alimento, saúde. Depois de eu manter as necessidades básicas de sobrevivência de todos é que eu estou autorizado eticamente a invistir nas estruturas de bem-estar, lazer, arte, entretenimento. Porém, nenhum projeto moderno foi capaz de institucionalizar a igualdade econômica e social porque as ações são realizadas de modo isolado e, além disso, não há consenso sobre prioridades éticas. O que predomina é a prioridade de interesses.

5.  A importância da demarcação de um mínimo ético e de prioridades morais

            O ser humano portador da condição sagrada de vivente corre o risco de ser tragado e convertido em mera abstração dentro da multivocidade dos discursos que propõem verdades. Muitos sistemas de valores nascem do capricho de um determinado indivíduo e ganham grandes proporções porque se mistificam e tomam o status de irrenunciável. Por exemplo, colecionar figurinhas pode passar de um hobby para se tornar uma experiência que invade todos os campos da vida de um indivíduo.
            Assim nos perdemos nessa variedade de discursos e de propostas de “vida boa” e não adotamos critérios para selecionar prioridades. O que é prioridade, ver meu filme preferido ou socorrer pessoas atingidas por barragens? Por ataques terroristas? A noção de prioridade ética evoca a dimensão social do homem, supera seu individualismo.
            Os discursos sugam a atenção e o tempo de vida do homem. As religiões, as filosofias, as produções artísticas e tantas outras atividades tornam o mundo mágico e desconsideram o sofrimento que pede justiça. Por outro lado, ao definir prioridades éticas é necessário trabalhar a comunicação, o diálogo racional dentro do espaço democrático para evitar que pseudo-prioridades agridam mais uma vez a individualidade. Convocar indivíduos em prol de uma causa social não significa instrumentalizá-los e destruir suas individualidades.
            O risco de perder o foco no momento de selecionar as prioridades éticas é grande e constante. O homem tem uma tendência em institucionalizar as suas idéias de estimação, cria entidades, teorias, normas, tendência. Portanto, o “não matarás” é princípio dogmático que orienta todo o processo.

6.  Considerações finais

     Em suma, o imperativo ético determina que as ações individuais e sociais são pautadas num discurso considerado consensualmente como verdadeiro. O “não matarás” é a primeira verdade ética e o princípio fundador de toda a ética. As suas raízes estão na ontologia: O homem é um ser vivente e sem a condição de vivente não possível propor qualquer filosofia ou saber.
     Como vivemos bombardeados de propostas éticas, precisamos selecionar nossas ações a partir do dogma da intangibilidade vital. Toda ação tanto na esfera individual ou do Estado precisa seguir prioridades. O critério das prioridades é investir primeiro em ações que asseguram a vida.
     A saciedade das necessidades biológicas e materiais estão em primeiro lugar. Nesse sentido, a fome e a miséria no mundo constituem um escândalo ético. Enquanto alguns esbanjam na vida luxuosa, outros não têm acesso às condições básicas de sobrevivência.
  

REFERÊNCIAS
RODRIGUES, Ricardo Antônio. O rosto do outro é letra. In: Revista Litteris, nº 10, setembro de 2012.

LÉVINAS, Emanuel. Humanismo do outro homem. Petrópolis: Vozes, 1993.
           



[1] Professor de Filosofia no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário / ITEOFIC e no Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA), Caratinga (MG), Secretário Municipal da Educação de Conceição de Ipanema – MG. E-mail: joaristides@gmail.com.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Poder e Misericórida II

VATICANO: EVANGELHO E DISPUTA DE PODER


         O Sínodo dos Bispos que acontece em outubro de 2015 teve de conviver com três situações embaraçosas: A declaração do padre polonês Krszytof Charamsa, a carta dos 13 cardeais e a notícia falsa de que o papa teria um tumor no cérebro.
         Como o sínodo trataria de questões fundamentais sobre a família nos tempos atuais, parece que houve algumas tentativas de intimidação contra o papa Francisco e aqueles bispos que defendem uma acolhida mais misericordiosa aos fiéis católicos.
         O que mais nos impressiona é como alguns ministros da Igreja conseguem conciliar os valores de fraternidade, de gratuidade, de misericórdia, tão caros ao Evangelho com uma disputa de poder tão desleal. Tentar impor ideias ou defender doutrinas faltando com a caridade evangélica é muito contraditório, pouco humano, menos cidadão e nada cristão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Poder e Misericórdia

AS MANOBRAS DOS CLÉRIGOS CONSERVADORES: O ESCÂNDALO CONTRA A MISERICÓRDIA EVANGÉLICA

Crédito: Corriere della Sera.
Os esforços do papa Francisco e a tarefa do Sínodo dos Bispos de outubro de 2015 que deveriam trazer mudanças significativas para a atuação pastoral da Igreja parecem se perder. Segundo o jornal italiano Corriere della Sera um novo Vatileaks tenta desestabilizar o pontificado de Francisco.
Uma carta reservada ao papa foi publicada nessa segunda-feira, 12 de outubro, pelo vaticanista Sandro Magister. Esse é o ponto de partida que nos faz acreditar que as velhas teorias conspiratórias no Vaticano existem. Na carta, 13 cardeais conservadores questionam as intenções do Sínodo e afirmam que a comunhão dos recasados é inegociável.
Porém, para piorar a carta parece ter sido alterada e a intenção de divulgá-la é passar a imagem de que o Sínodo é guerra de ideologias. Os autores dessas jogadas empobrecem a imagem da Igreja. Ultimamente, o papa tem insistido tanto na misericórdia, mas em torno da cúpula da Igreja se vê são disputas de poder, manobras politiqueiras. Os próprios bispos conservadores se fecham à misericórdia evangélica na tentativa preservar doutrinas equivocadas historicamente.
Toda doutrina por mais que tenha sido difundida há séculos, mas se contraria o espírito do Evangelho precisa ser superada. Mas parece que para muitos clérigos é mais importante preservar a estrutura a todo custo do que se abrir à acolhida do ser humano.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Teologia e a fé do Próximo



TEÓLOGOS AGNÓSTICOS: A REFLEXÃO TEOLÓGICA
 SOBRE A FÉ ALHEIA

José Aristides da Silva Gamito*
1.   Introdução

A presente reflexão foi provocada por debates entre amigos sobre uma nova realidade em torno da teologia: As pessoas que estudam teologia sem fé.  A princípio o assunto traz consigo uma grande polêmica: Como pode alguém que não tem fé estudar teologia? Primeiramente, temos de analisar as razões que levam as pessoas estudarem a teologia.
O objetivo tradicional do estudo da teologia são as exigências para o exercício dos ministérios na Igreja. Neste caso, é uma teologia instrumental. Atualmente, várias Igrejas evangélicas têm oferecidos inúmeros cursos que têm atraído muita gente, poderíamos dizer que a busca pela teologia está em alta. Há um mercado de cursos de teologia. Em um segundo grupo, encontram-se pessoas que cursam teologia depois da aposentadoria ou após uma estabilidade econômica com o intuito de entender a fé. Uma teologia existencial.
Aparece um terceiro e polêmico grupo: Os da teologia agnóstica. São pessoas que buscam entender a fé alheia ou a fé que não professam mais. Eles poderiam estudar Ciências da Religião ou outra área, mas preferem a teologia porque querem entender uma fé específica: A cristã. Eles procuram entender, criticar e levantar reflexões sobre a cosmovisão cristã. O exemplo mais conhecido na mídia é Bart Ehrmann.
Se formos criticar os três grupos todos teriam pontos frágeis: A instrumentalização da teologia como mera exigência para exercer o ministério poderia acusada de reducionismo, assim como a teologia com fins de consolação ou autocompreensão. Pesam sobre todos os grupos possibilidades de críticas.  Cada um faz teologia a partir de um lugar concreto. Neste caso, vamos analisar o grupo dos teólogos agnósticos. A designação ‘teólogos agnósticos’ é provisória.

  1. A teologia como compreensão da fé alheia


Para compreender este novo posicionamento há que se distinguir ‘teologia como compreensão da própria fé’ de ‘teologia como compreensão da fé alheia’. Enquanto o objetivo tradicional da teologia se volta mais aos interesses pessoais e institucionais, a nova tendência confere fins sociais ao estudo da teologia, mas distinguindo-a de sociologia da religião, de filosofia da religião e até mesmo de ciências da religião.
Já houve uma mudança pouco criticada e hoje comum dentro da teologia voltada aos ministérios. Muitos teólogos deixaram de teologar para as instituições e passaram a teologar para a sociedade como um todo são exemplos Leonardo Boff, Rubem Alves, Hans Küng e outros. Não são teólogos agnósticos, são teólogos não-institucionais ou não somente institucionais. Rotular é sempre problemático. Salientamos apenas que há mudanças no objetivo de se fazer teologia levando em conta as circunstâncias de tempo e de espaço. De antemão, deve se avisar que o resultado de formas diferentes de teologar em algum momento tenderá a ser classificado como heresia. São riscos que formas novas de teologar trazem com elas.

As condições para a elaboração teológica

            Em Santo Anselmo encontramos a exigência fides quaerens intelectum.  A teologia tem como base a racionalidade porque procura compreender racionalmente a fé que se situa além da razão. Os conteúdos da Revelação são a matéria e o ponto de partida da reflexão teológica. Portanto, vincula-se o ato de teologar à exigência de uma fé pessoal:

Necessariamente, por exigência epistemológica, o teólogo é homem de fé; sem ela, pode ser um estudioso da religião, fazer estudo da evolução das práticas, conhecimentos e comportamentos religiosos, estudo dos ritos e suas diferentes significações segundo as culturas, estudo dos comportamentos humanos derivados das afirmações religiosas, elaboração de teorias e afirmações sobre as influências psicológicas dos comportamentos religiosos, estudo da evolução dos estudos bíblicos ou assemelhados, mas não fará teologia. Nela a fé é uma exigência (MANZATTO, 2013).

              A afirmação mais comum que se pode encontrar sobre as exigências para estudar teologia é de ter uma fé pessoal.  Este é o lugar comum eclesial no qual o teólogo inicia sua reflexão. A postura dos teólogos agnósticos tende teologar partir de outros lugares vizinhos à fé. É importante observar que a postura dos teólogos acadêmicos não se difere muito dos agnósticos. Há diversas universidades com doutores em teologia que formatam sua função de teólogo como uma profissão. Neste sentido, poder-se-ia dizer que há também um reducionismo da tarefa da teologia. Agrava-se mais a questão ainda quando estes teólogos são presunçosos e totalmente distantes do universo comum das pessoas.
Em um primeiro momento, então, faz-se necessário afirmar que teologia é reflexão sobre a fé e não é profissão de fé. A segunda atitude seria reservada à liturgia. Isso não impede que a etapa última do processo de reflexão teológica seja orante como defendeu Karl Rahner.

REFERÊNCIAS
MANZATTO, Antônio. A Teologia na Universidade.
Disponível em: