TEÓLOGOS AGNÓSTICOS: A
REFLEXÃO TEOLÓGICA
SOBRE A FÉ ALHEIA
José Aristides da Silva Gamito*
1. Introdução
A
presente reflexão foi provocada por debates entre amigos sobre uma nova
realidade em torno da teologia: As pessoas que estudam teologia sem fé. A princípio o assunto traz consigo uma grande
polêmica: Como pode alguém que não tem fé estudar teologia? Primeiramente,
temos de analisar as razões que levam as pessoas estudarem a teologia.
O
objetivo tradicional do estudo da teologia são as exigências para o exercício
dos ministérios na Igreja. Neste caso, é uma teologia instrumental. Atualmente, várias Igrejas evangélicas têm
oferecidos inúmeros cursos que têm atraído muita gente, poderíamos dizer que a
busca pela teologia está em alta. Há um mercado de cursos de teologia. Em um
segundo grupo, encontram-se pessoas que cursam teologia depois da aposentadoria
ou após uma estabilidade econômica com o intuito de entender a fé. Uma teologia existencial.
Aparece
um terceiro e polêmico grupo: Os da teologia
agnóstica. São pessoas que buscam entender a fé alheia ou a fé que não
professam mais. Eles poderiam estudar Ciências da Religião ou outra área, mas
preferem a teologia porque querem entender uma fé específica: A cristã. Eles
procuram entender, criticar e levantar reflexões sobre a cosmovisão cristã. O
exemplo mais conhecido na mídia é Bart Ehrmann.
Se
formos criticar os três grupos todos teriam pontos frágeis: A
instrumentalização da teologia como mera exigência para exercer o ministério
poderia acusada de reducionismo, assim como a teologia com fins de consolação
ou autocompreensão. Pesam sobre todos os grupos possibilidades de críticas. Cada um faz teologia a partir de um lugar
concreto. Neste caso, vamos analisar o grupo dos teólogos agnósticos. A
designação ‘teólogos agnósticos’ é provisória.
- A teologia como compreensão da fé alheia
Para
compreender este novo posicionamento há que se distinguir ‘teologia como
compreensão da própria fé’ de ‘teologia como compreensão da fé alheia’.
Enquanto o objetivo tradicional da teologia se volta mais aos interesses pessoais
e institucionais, a nova tendência confere fins sociais ao estudo da teologia,
mas distinguindo-a de sociologia da religião, de filosofia da religião e até
mesmo de ciências da religião.
Já
houve uma mudança pouco criticada e hoje comum dentro da teologia voltada aos
ministérios. Muitos teólogos deixaram de teologar para as instituições e
passaram a teologar para a sociedade como um todo são exemplos Leonardo Boff,
Rubem Alves, Hans Küng e outros. Não são teólogos agnósticos, são teólogos
não-institucionais ou não somente institucionais. Rotular é sempre
problemático. Salientamos apenas que há mudanças no objetivo de se fazer
teologia levando em conta as circunstâncias de tempo e de espaço. De antemão,
deve se avisar que o resultado de formas diferentes de teologar em algum
momento tenderá a ser classificado como heresia. São riscos que formas novas de
teologar trazem com elas.
As condições para a elaboração teológica
Em Santo Anselmo encontramos a
exigência fides quaerens intelectum. A teologia tem como base a racionalidade
porque procura compreender racionalmente a fé que se situa além da razão. Os
conteúdos da Revelação são a matéria e o ponto de partida da reflexão
teológica. Portanto, vincula-se o ato de teologar à exigência de uma fé
pessoal:
Necessariamente,
por exigência epistemológica, o teólogo é homem de fé; sem ela, pode ser um
estudioso da religião, fazer estudo da evolução das práticas, conhecimentos e
comportamentos religiosos, estudo dos ritos e suas diferentes significações
segundo as culturas, estudo dos comportamentos humanos derivados das afirmações
religiosas, elaboração de teorias e afirmações sobre as influências
psicológicas dos comportamentos religiosos, estudo da evolução dos estudos
bíblicos ou assemelhados, mas não fará teologia. Nela a fé é uma exigência
(MANZATTO, 2013).
A afirmação mais comum que se pode
encontrar sobre as exigências para estudar teologia é de ter uma fé pessoal. Este é o lugar comum eclesial no qual o
teólogo inicia sua reflexão. A postura dos teólogos agnósticos tende teologar partir
de outros lugares vizinhos à fé. É importante observar que a postura dos
teólogos acadêmicos não se difere muito dos agnósticos. Há diversas
universidades com doutores em teologia que formatam sua função de teólogo como
uma profissão. Neste sentido, poder-se-ia dizer que há também um reducionismo
da tarefa da teologia. Agrava-se mais a questão ainda quando estes teólogos são
presunçosos e totalmente distantes do universo comum das pessoas.
Em um primeiro momento, então, faz-se
necessário afirmar que teologia é reflexão sobre a fé e não é profissão de fé.
A segunda atitude seria reservada à liturgia. Isso não impede que a etapa
última do processo de reflexão teológica seja orante como defendeu Karl Rahner.
REFERÊNCIAS
MANZATTO, Antônio. A Teologia na Universidade.
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