UMA CONFISSÃO DE FÉ PROVISÓRIA
PARA UM NOVO TEMPO
José Aristides da Silva Gamito
Introdução
Na obra “Discurso do Método”, o filósofo
Descartes chamou de Moral Provisória um conjunto de princípios morais para
direção da vida prática que ele considerou prioritário e urgente enquanto examinava
cuidadosamente quais seriam os verdadeiros e perenes valores de sua filosofia.
Hoje também no mundo de profunda mudança, nós que nos acostumamos com velhos
princípios, nem sempre paramos para analisar se nosso decálogo está obsoleto ou
não.
Parando para refletir sobre quais os valores
principais que persigo em 2016, percebo que são bem diferentes de tudo aquilo
que recebi da moral judaico-cristã da minha família e da minha igreja. Se, a
exemplo da moral provisória cartesiana, eu fosse também reescrever minha
confissão fé “provisória”, talvez eu teria diante de mim alguns valores a serem
cultivados no mundo atual.
Prioridade ética
Indico quatro principais valores éticos que
considero imprescindíveis para a repaginação moral de qualquer cidadão do
século XXI:
1º)
Ter consciência de unidade com o Universo: “Tudo que afeta a
parte, afeta o todo”. Isso significa que o valor mais sagrado a ser cultivado
pelo homem é a consciência de que ele está integrado ao todo, ao conservar ou
destruir a parte, assim também o faz ao todo. Ele tem habilidades notáveis
entre as espécies, mas isso não faz dele superior à natureza.
2º)
Sofrer é a condição de igualdade entre nós e a quase totalidade dos seres
vivos. “Do mesmo modo que não queremos a dor para nós mesmos,
não a queiramos para os outros”. Isso inclui respeitar todos os seres vivos,
superando preconceitos, discriminações, agressões físicas e morte a todos os
homens e animais. Sofrer significa muito mais do que machucar, é não incomodar,
constranger, atrapalhar o bem-estar do outro.
3º)
A condição de fragilidade e de pertença nos obriga à cooperação. O
fato de sermos parte de um todo, de sermos sensíveis, dependentes e provisórios
nos mergulha na necessidade de compreensão mútua e de cooperação. Sem essa
integração não persistirá a vida no planeta. A compaixão salvará o mundo. Ela
deveria ser proclamada a mais excelsa das religiões. Sem compreensão não há
cooperação. A cooperação extirpará os extremos de nossas diferenças e tornará
nossos fardos existenciais e materiais mais leves.
4º)
Admitir que o sentido da vida é construído coletivamente.
Isso significa que sempre e em todo lugar haverá diferentes visões de mundo. Portanto,
“verdades” sempre vão coexistir, cabe a nós aceitá-las. A construção de
verdades, de dogmas e de sentidos é permanente. Assim precisamos aprender a
conviver com incertezas. Isso nos trará mais tolerância, nos instigará a
pesquisar mais, nos abrigará a aceitar
novidades que tornarão nosso mundo melhor.
Considerações sobre esses
princípios
Esses quatro princípios nos ajudariam a
superar o nosso egoísmo de espécie. Aquela sensação de supremacia que nos
autoriza a destruir a natureza e a não entendermos que somos parte dela. Eles
revelam a nossa condição de igualdade com todos os animais, as plantas e os
ecossistemas. E põem o princípio de não causar dor como imperativo ético de
nosso sistema de valores.
Resultam dos dois primeiros princípios o
dever de cooperação entre os seres humanos e da conservação de relações sadias
e a relativizações das verdades que motivam a guerra, a discriminação e
fomentam ódio. Tudo isso nos impede de viver bem em casa, na sociedade, no
mundo. E nem sistema deveria ser proibido todo valor que traz a infelicidade e
a intolerância, principalmente, aqueles religiosos petrificados que servem para
promover o ódio do que a paz. Uma religião que faz isso, é inútil!
FELIZ 2017! QUE SEJAMOS MELHORES!
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