A
revelação de mensagens de integrantes da Operação Lava Jato pelo site The Intercepet nos obrigam a fazer uma
dolorosa reflexão sobre o que entendemos como justiça. Onde se perdeu nosso
senso de justiça? Estamos polarizados demais. Vemos dois tipos de reação às
revelações do site: Os lulistas lavaram a alma com o aparecimento de provas do
envolvimento parcial do juiz Sérgio Moro no processo do ex-presidente Lula; os
bolsonaristas menosprezaram as informações e passaram a atacar fonte
jornalística, criminalizando-a. Como avaliar melhor esses extremismos? Esta é a
motivação inicial deste texto, mas quero abordar dois tratamentos que temos
dado à criminalidade e como temos alterado nosso senso de justiça.
Uma
questão que tem me chamado a atenção desde a polarização política que antecedeu
as eleições presidenciais é a maneira como o brasileiro entende justiça. Primeiramente,
não se pode falar de justiça de modo universal e imparcial. O ódio que as
pessoas desenvolveram contra os políticos investigados pela Lava Jato foi tão
grande que elas já condenaram todos de antemão, principalmente, se forem do PT.
Quanto aos criminosos da violência comum de rua, dos assaltantes, dos sequestradores,
dos traficantes, a população também está cheia e indignada. A criminalidade da
corrupção política e dos demais crimes gerou em todo mundo uma indignação no
nível do ódio.
Muitas
pessoas passaram a atacar os direitos humanos e a defenderem linchamento,
justiça com as próprias mãos e pena de morte. Por um lado, a indignação é
legítima porque nos afundamos em um lamaçal de impunidade que não se resolve
nunca. Mas por outro, a indignação faz as pessoas apelarem para métodos
não-civilizados de combate ao crime. O conceito reducionista de direitos
humanos é perigoso. A máxima maquiavélica prevalece: Os fins justificam os
meios. Para extirpar a violência, podemos utilizar qualquer meio, inclusive,
assumindo o risco de punição e de extermínio de pessoas inocentes.
No
caso dos vazamentos das mensagens dos procuradores, há duas reações
complicadas. A primeira. Quem
deseja ver o PT derrotado a todo custo, não se importa com a acusação de
imparcialidade do juiz. O desejo era condenar o Lula a qualquer custo. A segunda. Novamente, os fins
justificam os meios: O Lula é corrupto, para tirar um corrupto de circulação,
podemos usar qualquer meio para julgá-lo. O senso de justiça está perdido e
entrelaçado com a militância política. Agora a reação dos petistas é
irresponsável. Se a Lava Jato foi parcial, não pode contribuir em nada com o
país, vamos acabar com ela? Este é um problema. O momento é do Estado agir com
responsabilidade, investigar, punir e aperfeiçoar o combate à corrupção.
O
senso de justiça dos brasileiros está afetado pela indignação. Mas se você
converte a sua indignação em ódio, você se converte em um justiceiro. O
justiceiro confunde justiça com vingança. Para este, os fins justificam os
meios. E quando a militância política, de todos os lados, entra neste campo, a
justiça está fadada ao fracasso. Este desequilíbrio traz o risco de perdermos o
que mais queremos: a moralização do país. Resume bem este risco a famosa
expressão “jogar a água da bacia com a criança e tudo”.
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