sábado, 25 de abril de 2009

CRÍTICA SOBRE A IDEIA DE PROVIDÊNCIA


A imagem humana de Deus versus a imagem divina do homem

J. Aristides da Silva Gamito

O seguinte fato é uma experiência pessoal que me levou a refletir sobre a imagem de Deus que as pessoas ainda têm. Dia 1º de setembro, minha esposa Joana Regina Gamito Silva teve um aborto espontâneo. Meu primeiro filho, ainda um embrião, não resistiu a uma hemorragia intra-uterina. Durante aquela semana, todas as pessoas que nos visitavam ou com as quais eu me deparava na rua, querendo nos consolar, justificavam o fato.

Então, observando e classificando a explicação de cada uma, resolvi refletir sobre a experiência. Fui ouvindo as pessoas e anotando numa folha e no decurso de 15 dias, das pessoas que nos deram uma palavra de consolo, 95% disseram que era a vontade de Deus. Elas associaram um fato espontâneo, sem causas constatadas por médicos, com significado trágico, a uma determinação divina.

A imagem de Deus que uma pessoa tem, interfere diretamente na sua visão de mundo. Muitas pessoas de fé confundem a sublimidade divina com uma arbitrariedade ou tirania de Deus sobre a vida dos seres humanos. Estabelece-se, então, uma relação moral no contato humano-divino. Neste processo, o homem (servo) se torna marionete e Deus (senhor) ganha uma carga moral. Tal visão parece proceder de uma incapacidade de assimilação da imagem de Deus dos evangelhos. Os adeptos do pentecostalismo tendem a incompatibilizar o Deus do Antigo Testamento com o Deus do Novo Testamento. A saída seria reaprender a ler os livros sagrados.

Porém, mais do que debater a participação de Deus na vida terrestre, seria descobrir novas atitudes diante das tragédias.  Por exemplo, abrir-se à visão de Deus como pura gratuidade, a-moralidade. Diante das tragédias evitáveis devemos ter a disposição de assumir nossa irresponsabilidade. E diante nas inevitáveis, fazer silêncio, não racionalizar. Talvez estes 95% precisem desenvolver uma atitude sapiencial diante dos fatos. E aprenderem a não tomar o nome de Deus (a pessoa) em vão! Este mandamento precisa ser revisitado pelos cristãos de hoje.

Vivemos uma época de muitos ruídos e pouca comunicação. A tarefa dos crentes do século presente talvez seja aprender a se calar, pois viciaram no abuso das palavras. O segredo da vida está além das palavras. A sabedoria está em se contentar com os fatos sem respostas. O silêncio e a suspensão de juízo nos amadurecem muito mais para o mistério. Para que um dia a fé que temos não leve mais a confundir a imagem que temos de Deus com a imagem que Deus tem de nós.



1 comentários:

Unknown disse...

Gostei do texto. Nao tenho mais palavras. Tudo de bom pra vc e sua familia!