segunda-feira, 27 de abril de 2009

O FANTASMA DA FELICIDADE


J. Aristides da Silva Gamito

 

A busca pela felicidade já se torna a obsessão de nossa época. Existe uma infinidade de propostas de como alcançá-la. Muitos profissionais se ocupam e lucram com a venda de livros e DVDs que prometem uma felicidade pronta entrega. Antes de tudo, as pessoas não examinam, de fato, qual é a felicidade e se esse conceito é relativo ou não. Os gregos antigos se preocuparam em definir o que era essa busca. Atualmente ninguém quer saber os seus fundamentos, quer encontrá-la a todo custo.

Muitas pessoas se decepcionam por considerarem que a felicidade é uma questão de almejar. E acabam se tornando ansiosas e frustradas por não encontram tal estado de espírito que a receita dizia. A famosa Lei da Atração, tal em voga hoje, é um dessas ilusórias busca de felicidade. O desejo do homem não tornará o seu mundo fantástico, errôneo em realização.

A felicidade como se define por aí é um engano, não corresponde à realidade. A vida é gratuita, não feita de concessões. Não basta praticar tal técnica para alcançar a felicidade. O único modo que sobra para se definir a felicidade é o de ser simplesmente uma maturidade interior que aceite e ame a transitoriedade da existência. E aceita que ninguém encontrará o paraíso, pois a vida é constituída da graça e tragédia. Querer renunciar esses predicativos vale a renunciar a vida no que ela tem de mais cru e concreto.

Os defensores de “O Segredo” afirmam que quanto mais deseja algo, mais real ele se torna. Eu diria que muitos se afundam na depressão e no pessimismo por causa disso. Quanto mais se move em direção de um desejo, mais se distancia de seu eu real e ao mesmo tempo o objeto do desejo se distancia em relação a ele, e por conseqüência, se afasta de quem o quer. Desejar não pode constituir um êxodo de si para um eu volitivo. Talvez o grande segredo da felicidade, que não é um segredo, por ser tão notório, não se concretize por causa do eu fantástico que perseguimos.

A felicidade possível não cabe numa fórmula por estar entregue à gratuidade da vida. E esta é uma soma de possibilidades, de esforço e de desejo. O resultado é o mais surpreendente possível. O conselho é desejar, mas amar todo o resultado que vier. Isso é felicidade, o resto é um refúgio que confia que a vida é negociação, é mercantil!


A felicidade não está no prazer de tomar Coca-cola, mas no fundamento último de poder ter prazer de realizar isso. Quem se estaciona na primeira fórmula finge ser feliz.