A FORÇA DO ESTADO PARALELO E O DESAFIO À SEGURANÇA PÚBLICA
José Aristides da Silva Gamito
As ondas de ataques acontecidos durante esta semana no Rio de Janeiro reforçam a ideia de que o Estado Paralelo tem muita força. Quando um poder clandestino começa a competir com o poder oficial, as vias de solução e de combate são bastante drásticas. Porque estão em conflito dentro de um mesmo território um regime democrático e um regime anárquico. A população inocente acaba sendo vítima das investidas contra o Estado. E nem o Estado pode responder sem antes separar inocentes e culpados. Os bandidos mascaram e infiltram no meio de pessoas que não devem nada à justiça.
A violência que muitas capitais brasileiras sofrem é resultado de décadas de descuidos no planejamento urbano, no investimento em políticas sociais e da ausência do Estado. A força de controle ideológico e financeiro de traficantes substituiu essa falta do Estado. Por isso, muitas vezes a população acaba sendo conivente com os bandidos. Isso agrava mais ainda quando a polícia tem de tomar medidas drásticas e acaba matando inocentes. As “balas perdidas” são um ponto negativo nesta luta. A polícia perde parte do apoio dos civis inocentes. Além disso, há abordagens inadequadas e efetuadas por policiais despreparados que acabam por ceifar vidas inocentes.
As capitais durante muito tempo não souberam acomodar a população que já tinham e aquela que receberam através do êxodo rural. Os grandes centros cresceram e empurraram as pessoas para as periferias. O Estado era apenas visível nesse centro. Atualmente, os bandidos que surgiram nas periferias fazem o movimento contrário. Eles comprimem os grandes centros através de arrastões, incêndios de ônibus e perturbação da ordem pública. Além de dominarem as favelas, estendem seus tentáculos até as áreas elitizadas. Se o Estado não reagir vai se tornar refém do medo e do caos gerados por quem quer ordem em seu território e anarquia no território alheio.
Em parte, o investimento lento e estratégico que deveria manter a população em segurança foi parar nos bolsos de muitos políticos bandidos. Temos de ter cuidado para não estigmatizar a população das favelas. Pois se alguém lá tem culpa pelo terror, os outros lá da política têm também a culpa pelo descaso e pela corrupção. Sempre existiram “bandidos de centros” e “bandidos de periferias”. Não podemos deixar a culpa só para um lado.
A gente sempre torce para ser verdade a expressão “O Rio de Janeiro continua lindo”. Um país que pretende sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo teve a sua imagem bastante prejudicada esta semana. E muito mais grave, a paz e muitas vidas inocentes foram retiradas. Na internet, um usuário chegou a se perguntar qual situação seria mais complexa a do Rio ou da Faixa de Gaza.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
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