A ORIGEM E AS FACES DO MAL: O DILEMA DE EPICURO PERMANECE ABERTO
José Aristides da Silva Gamito
Diante de tanta violência e sofrimento, que acompanhamos pelos noticiários nos últimos dias, retornamos a uma antiga questão do ser humano: Qual a origem do mal? Por que há o sofrimento? Muitas respostas já foram dadas a este problema quase insolúvel. Há muitas teorias sensatas, mas todas incompletas. O primeiro a se deparar formalmente com este questionamento foi Epicuro (341-270 a. C.). O filósofo se perguntava se era compatível a existência de um deus bom com a presença do mal no mundo. Então, ele lança o famoso dilema: “Deus quer impedir o mal e não consegue? Então, ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer? Então, ele é malévolo. Ele é capaz e quer? Donde, então, o mal?”
A partir de então, vários pensadores tentaram resolver este beco sem saída. Agostinho (354-430 d. C.) defendeu que o mal é resultado da liberdade humana e não da vontade de Deus. A primeira fase de preocupação com o problema foi religiosa. Séculos mais tarde, os marxistas descobriram os aspectos sócio-econômicos como fatores decisivos nas escolhas morais. Freud trouxe consigo a ideia de que muitas de nossas ações são inconscientes. Com a descoberta da genética, muitas tendências tidas como más são atribuídas a genes.
O dilema de Epicuro, apesar de ter atualmente um foco mais humano e histórico, continua sem solução. Seriam forças inconscientes, seriam os genes ou seriam o ambiente e o tipo de educação que nos fazem agir de uma forma ou de outra? A única afirmação que podemos fazer é que o mal é multifacetário e não tem raízes no Além, está aí dentro e entre nós. O que nos parece mais sensato é partir do pressuposto de que não devemos buscar teorias mirabolantes sobre o mal, antes devemos é ganhar tempo combatendo-o e amenizando o sofrimento das pessoas.
O filme Tropa de Elite 2 nos sugere uma presença bilateral do mal em nosso país. A corrupção está dentro da sociedade, tanto no meio dos traficantes, quanto no meio dos representantes do Estado: A polícia e os políticos. Uma primeira habilidade exigida é separar o “joio” do “trigo”. Uma tarefa nada fácil. Alguns dizem que as pessoas se corrompem porque são pobres; mas e aqueles que se corrompem por que são ricos? No meio de tanta incerteza, a educação e a atuação eficiente e responsável do Estado, sem dúvida, são elementos indispensáveis.
O que nos preocupa tanto é o Brasil sendo um país de maioria cristã, possui tantos problemas sociais, visto que o discurso cristão comporta valores de uma sociedade ideal. Mas, a conivência com o mal e a corrupção estão presentes desde as prefeituras até o alto escalão do governo federal. A fórmula parece ser esta: Onde há poder, há possibilidade de corrupção. Nem mesmo as instituições religiosas com seus discursos moralizantes arrojados não escapam à corrupção. Existe uma conivência com o mal muito forte, o discurso não corresponde à prática.
Ao problema do mal temos poucas respostas convincentes, mas nos resta a esperança de apostar numa educação para a liberdade e a responsabilidade, que seja bem regada de amor e bens necessários à vida digna, dentro das famílias e das escolas. Para que assim, a pessoas sejam menos seduzidas pelo mal e estejam mais comprometidas com a vida de modo integral.
*Bacharel em Filosofia e especialista em Docência do Ensino Básico e Superior.
0 comentários:
Postar um comentário