sexta-feira, 10 de junho de 2011

Brasil:

EXISTE UMA FILOSOFIA BRASILEIRA?

José Aristides da Silva Gamito*


Uma polêmica que rondou até pouco tempo as graduações em filosofia é se existe ou não uma filosofia brasileira. Em outras palavras, havia uma desconfiança a respeito da existência de filósofos originais na história das ideias no Brasil. O modelo de filosofia implantado no Brasil no período colonial era europeu e assim a filosofia da Europa continuou sempre como referência para a produção filosófica em nosso país.
Em síntese, podemos mostrar momentos de grandes filósofos na nossa história. A primeira filosofia que entrou no Brasil através dos jesuítas era de cunho religioso, seguidora do pensamento de Tomás de Aquino. Mas, no século XIX, quando Portugal e Brasil se abriram às novidades modernas, iniciou-se uma intensa produção filosófica no país abordando os mais variados temas.
Eduardo Ferreira França (1809-1857) e Domingos Gonçalves de Magalhães (1811-1882) escreveram sobre a origem do conhecimento, sobre a relação consciência e liberdade. A influência dessas pesquisas foi tão grande que quase todas as faculdades da época discutiam suas ideias. Eles foram chamados de filósofos ecléticos.
Nos anos 70 do século XIX, o interesse pelas teorias novas como o darwinismo, o positivismo, foi tão intenso que o momento ficou conhecido como “surto de novas ideias”.  O grupo de filósofos brasileiros que mais chamaram a atenção foram os integrantes da chamada Escola de Recife: Tobias Barreto (1839-1889), Sílvio Romero (1851-1914) e Farias Brito (1862-1917). Eles produziram ideias, publicaram livros e revistas e valorizaram a cultura do país.
O século XX foi dominado pelos filósofos culturalistas. Esses filosofavam em torno da cultura, admitiam mais de uma reposta para o mesmo problema, produziram muito na área da Filosofia do Direito. Um dos maiores representantes do movimento foi o filósofo e jurista Miguel Reale (1910-2006).
Um pensamento original e centrado na realidade foi o movimento da Libertação. Seu início se deu durante a ditadura militar, nos fins de 60. Sobressaíram-se, na área da teologia, o renomado Leonardo Boff, e na área da educação, Paulo Freire (1921-1997). Um dos maiores filósofos brasileiros da contemporaneidade o mineiro Henrique Cláudio de Lima Vaz (1921-2002) também esteve ligado a esta tendência. Eles realizaram uma reviravolta ao propor que o conhecimento deve estar em prol da libertação dos excluídos.
Com tantas teorias e práticas que mudaram o rumo da política e da cultura em nosso país não dá para afirmar que não temos filósofos e nem filosofia. O positivismo, por exemplo, praticamente fundou a República Brasileira. Conheça mais sobre nossa cultura, precisamos vencer o preconceito de que o brasileiro não produz nada de bom.


*Bacharel em Filosofia e pós-graduado em Docência do Ensino Básico e Superior

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