TODOS MORREM. INCLUSIVE, EU:
CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA
José Aristides da Silva Gamito
Existe uma certeza que não pode ser relativizada em nossas vidas: A morte. Todos morrem. Inclusive, eu. A aceitação desta verdade nos ajuda a viver melhor. Quando as pessoas se esquecem de que são finitas, cometem muitos erros como falta de humildade, prepotência, egoísmo. A arrogância é resultado do esquecimento da mortalidade. Quando nos lembramos de nossa fragilidade, admitimos que nós precisamos dos outros.
Muitas pessoas vivem presas no egoísmo. A insistência em viver de modo individualista é uma ilusão, é contrária à razão. Veja prova simples. Nós precisamos dos outros o tempo todo. Todos os bens e serviços que utilizamos no dia a dia foram produzidos coletivamente. Sem a contribuição e a participação das outras pessoas em nossas vidas, estaríamos vivendo em um estado selvagem.
Há pessoas que dizem que não precisam de ninguém e que não confiam em ninguém. Mas colocam suas vidas nas mãos do motorista de ônibus, do médico, do dentista. E se o motorista ou o médico surtar naquele dia e resolver matar você? Você tem certeza de que o garçom não colocou veneno na porção que você pediu? A vida em sociedade é feita de laços de confiança. Mesmo sem confiar muito, temos de confiar em certas pessoas.
Portanto, a prepotência, o egoísmo, tudo carece de inteligência. Nós somos mortais e limitados. Não fazemos tudo sozinho e nem vivemos para sempre. Lembro-me do conceito de angústia do filósofo Kierkegaard. A finitude e a consciência de que temos de realizar escolhas, às vezes, nos angustia. Mas esta é a nossa condição humana. A aceitação dela nos ajuda a viver melhor e é ato de sabedoria. A negação dela nos encarcera numa vida ilusória.
As pessoas se posicionam de diferentes modos diante da mortalidade. Há quem a ignora e vive uma vida de arrogância e de ensimesmamento. Há aqueles que se desesperam com a finitude e até adoecem. Há aqueles que tendo consciência da finitude se jogam no desfrute dos prazeres. Esses vivem uma vida hedonista.
Todos correm o risco de comprometer o futuro deles. A vida exige sabedoria para dosar o prazer, a angústia, a preocupação, a tranqüilidade. Nem uma solução desesperada, nem displicente, nem ignorante. Nada disso resolverá o drama humano. O que nos atormenta ao mesmo se torna a nossa singularidade: O homem é único até consciência de sua mortalidade e o único a poder decidir o que fazer com ela.