sábado, 28 de janeiro de 2012

Fé e razão: A justa medida e o espaço de cada uma


A CONTRADIÇÃO INTRÍNSECA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

José Aristides da Silva Gamito

A intolerância religiosa traz uma contradição intrínseca. Pois a maioria das religiões, ou quase todas, prega o bem do ser humano. No caso do cristianismo, a contradição se torna mais evidente ainda. Como posso defender minha verdade ofendendo “meu irmão”? Mas o apego irracional a uma verdade faz qualquer cristão se esquecer do mandamento do amor ao próximo. A tentação de se ter uma única e absoluta verdade está muito presente no ser humano, mas por que somente a nossa verdade é certa? Não poderiam haver outras verdades?
Todos têm direito de acreditar numa determinada doutrina, mas temos de ser racionais e admitirmos a possibilidade de que a crença do outro também tem sentido, porque no fundo as duas têm as mesmas possibilidades de serem negadas ou aceitas. A diferença está no lado em que cada um está. Não podemos cair também num “extremo” relativismo de todas as opiniões.
O mesmo esforço mental que um realiza para crer numa verdade ou outro também o faz. Você já percebeu a analogia entre politeísmo e Trindade? O esforço humano para crer é o mesmo. Por que um tem de ser mais lógico do que o outro? Todas as religiões se sustentam em cima de um mesmo princípio gnoseológico: A fonte do conhecimento é a fé. O conteúdo desta fé é garantido pelo testemunho de alguém ou por uma revelação divina. A revelação também possui a fragilidade de ser transmitida por meios humanos.
Praticamente, todas as religiões se sustentam desde tempos imemoriais sobre milagres e feitos sobrenaturais, a diferença é que chamamos de mitos as crenças alheias e as nossas de doutrinas reveladas. É o etnocentrismo que nos faz enxergar de forma unilateral.
Muitos ignoram todo o patrimônio adquirido pelas ciências em muitos séculos de pesquisas e jogam tudo por terra simplesmente para defender antigos conhecimentos que não tinham a menor pretensão de serem científicos. Não podemos ser anacrônicos nas respostas aos velhos problemas da humanidade!
Quando não se admite a historicidade das verdades religiosas, temos pela frente a porta aberta para várias formas de fundamentalismos. O fundamentalismo incita as pessoas à violência. Qualquer religião mal conduzida pode incitar ao ódio, mas por que justificamos sempre os erros de nossa religião? Será que temos direitos de cometê-los porque temos a verdade? Eles não são menos graves do que os das outras religiões? Não dá para sustentar um mandamento do amor incondicional ao próximo que comporta em si uma exceção: “Ame todas as pessoas como a si mesmo, exceto se elas forem de outra religião”.
O egoísmo humano e sua pretensão de vingança a quem discorda dele fazem com que as pessoas preguem ao extremo a condenação a quem não sustenta a mesma crença. Será que você tem o direito de decidir quem será salvo? Tornar-se intérprete da vontade do divino é uma atitude muito grave e perigosa.
É muita contradição! Vivemos numa época repleta de avanços e de esclarecimentos e as pessoas ainda continuam tendo uma fé ilusória, baseada em comportamentos tão “antigos”, “primitivos”. Mas acham que eles superam qualquer explicação moderna conquistada pela ciência! Isso não significa que a ciência seja absoluta. A ciência e a religiosa, todas as duas dão respostas aos problemas humanos. A diferença é que a religião dá velhas respostas aos velhos problemas e a ciência dá novas respostas aos velhos problemas. Os princípios religiosos são absolutos, enquanto a ciência admite o erro e a limitação.  Assim como há crentes fundamentalistas, há também cientistas radicais que pensam que a ciência é absoluta.
O antídoto contra o fundamentalismo religioso parece ser o conhecimento da historicidade dos dogmas. Muitos fiéis seguidores de igrejas fazem tanto alvoroço, mas sabem tão pouco de sua religião, fazem uma leitura mágica da Bíblia. Muitos ateus e agnósticos chegaram às suas conclusões não por ignorância, mas pelo conhecimento. Em todos os casos é preciso buscar o conhecimento iluminado pela razão. As pessoas que trilham os caminhos da fé de modo lúcido, não cometem discriminação. Você quer continuar defendendo a fé pela ignorância? A fé exige a compreensão: “Credo ut intelligam, intelligo ut credam”.

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