terça-feira, 26 de novembro de 2019


LANÇAMENTO DO LIVRO “O EVANGELHO DE TOMÉ:
A OUTRA FACE DE JESUS”

Neste fim de ano, estarei lançando pela Fonte Editorial minha pesquisa sobre o Evangelho de Tomé. Trata-se de um importante documento para se conhecer o cristianismo primitivo. Neste livro, procurei analisar a identidade de Jesus a partir da perspectiva do autor e da comunidade de Tomé. O objetivo é contribuir com a difusão de literatura sobre o cristianismo primitivo no Brasil. Mais informações: joaristides@gmail.com.



domingo, 13 de outubro de 2019

Protoconservadorismo


O PROTOCONSERVADORISMO: A VERDADEIRA TRADIÇÃO



O Sínodo da Amazônia, dependendo de suas conclusões, será um novo divisor de águas na história da Igreja no Brasil. A polarização política das últimas eleições não havia afetado tanto a relação entre os católicos quanto agora com este evento. Apesar de haver uma acusação de que a CNBB seria de esquerda, porém, como não houve nenhum pronunciamento oficial do órgão, reinou certa neutralidade nas eleições de 2019. Porém, ao longo do primeiro ano de mandato do governo Bolsonaro, os católicos de direita têm encarado as críticas ao projeto governista por parte de alguns setores eclesiais como uma opção pela esquerda. Esta mútua rotulação tende sempre a fragmentar o tecido eclesial. Todo mundo “ladra” e quando se percebe “a caravana já passou”! O prejuízo é para todos. A opção é o diálogo, mas parece que ninguém está a fim de fazê-lo.
A mãe de todos os desentendimentos são as simplificações e as generalizações. Há grupos que querem que a Igreja seja de direita, há grupos que querem que ela seja de esquerda. Há aqueles que simulam uma neutralidade, mas no fundo querem que ela mantenha o status quo. Dentro deste debate corre-se o risco de se esquecer de Cristo e do Evangelho. O Evangelho possui uma dupla dimensão espiritual e social. Neste ponto, se quisessem, ou se as vozes mais críticas tivessem humildade, poderia haver uma síntese enriquecedora. Mas, o que ocorre é que todos dois lados querem sequestrar Cristo a seu bel-prazer!
A agenda direitista católica precisa aprender que o Evangelho inclui, de fato, uma atenção pelos pobres. A agenda esquerdista católica precisa entender que a atuação social da Igreja não pode ser reduzida meramente a um projeto partidário. O Reino de Deus no olhar do Novo Testamento inclui uma transformação psíquica, espiritual e social dos discípulos. Porém, no alto da soberba das novas vozes disputantes, essas pessoas acham que somente o outro lado precisa aprender. Então, começa o xingamento entre direita e esquerda!
Além do reequilíbrio da dupla dimensão do Evangelho, há necessidade de se fazer uma crítica sobre o verdadeiro conservadorismo que deve ser defendido. As vozes mais críticas contra a CNBB, o papa e o Sínodo da Amazônia, geralmente, defendem um conservadorismo de tradições tardias que remontam ao máximo ao período tridentino. Contudo, o conservadorismo que deveria ser reivindicado ninguém o faz: o do protoconservadorismo. Com esta expressão, refiro-me ao retorno às tradições eclesiais das eras apostólica e sub-apostólica. A Igreja Primitiva é o protótipo de toda igreja. Ela era simples, com poucos símbolos, poucas tradições e unia a dupla dimensão do Evangelho. Esta simplicidade que remonta aos apóstolos ninguém está a fim de defender. O secundário tomou o espaço do fundamental. E todos passaram a reivindicar a verdadeira Igreja para o seu lado político. Se fizessem isso com respeito, ainda poderíamos considerá-los, mas estes debates têm decido o nível ao padrão anticristão. E continua a maior de todas as incoerências do cristianismo ou da Igreja: usar violência contra o irmão de fé para defender “Cristo”!


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Repensando a Igreja: De Francisco para Francisco



Hoje é dia de São Francisco de Assis. A identidade que o imaginário católico tem deste santo é a de um católico humilde, pobre e admirador da natureza. Uma figura pacata e inocente! Mas, na verdade, Francisco foi muito mais do que isso. Ele foi um reformador interno da Igreja Católica medieval. Mesmo antes dos reformadores protestantes, ele já tinha alertado a Igreja a recuperar o evangelho como guia de sua prática. Depois de muitos séculos, aparece um papa que retoma o nome e a proposta daquele Francisco medieval.
Quando falamos de cristianismo deveríamos sempre empregar o plural “cristianismos”. As atitudes incompreendidas dos dois franciscos nos alertam para dois tipos de cristianismos conflitantes. Existe um modelo eclesiológico forte, triunfante, que exalta os interesses da instituição acima do carisma evangélico. Este modelo quer dominar a esfera política, a moral, os costumes e diluir qualquer diversidade religiosa. Porém, esta tarefa muitas vezes faz sobrepor o poder ao carisma. Como resultado de sua aplicação, temos mais Igreja, menos evangelho.
Os franciscos parecem representar um modelo eclesiológico fraco, servidor, que põe o carisma evangélico acima das necessidades e dos deveres institucionais. Ele retoma o Cristo sem a camada institucional que a tradição eclesial construiu. Este Cristo “cru”, “nu”, interpela a amar o próximo sem distinção de perfil moral, de credo, de etnia ou de posição política. É um modelo que incomoda a quem vive exaltando a Igreja pela Igreja. Ele é compassivo demais! Os defensores do modelo forte não digerem bem esta abertura ao Cristo nu porque ela é inclusiva e alcança muitos “indesejáveis” da sociedade.
Pensando para além de categorias do enfrentamento do tipo teologia conservadora versus progressista, faz-se necessário apresentar um cristianismo que ponha em equilíbrio poder e carisma. Não faz sentido um cristianismo contra ou apesar do evangelho. Voltemos a ouvir o Cristo dos franciscos! Ou o cristianismo faz isso ou se consolida como um sistema totalitário violento como as demais ideologias da história.

domingo, 29 de setembro de 2019

Quem roubou de mim o tempo presente?



José Aristides da Silva Gamito


Você já pensou como você se relaciona com o tempo? Ele é uma categoria muito importante porque a utilizamos para nos conectar à realidade.  O filósofo Kant considerava que o espaço e o tempo são categorias que nos permitem conhecer o mundo. Por meio do tempo, consideramos a sucessão dos fatos, localizamos nossos afazeres. Sua aplicação nos permite classificar o que veio antes de nós como passado e o que virá como futuro. Porém, só fazemos isso porque partimos da única realidade existente que é o presente. Mas, em tempos de redes sociais e de vida virtual, estamos mudando essas categorias ou a percepção delas.
O tempo presente está em processo de mutação. Pensemos em uma situação. Quando nos reunimos para uma pizza, nos encontramos, porém, ao mesmo tempo já não estamos lá na pizzaria. As pessoas estão conversando à mesa não com aqueles que estão presentes, estão falando através das redes sociais com aqueles que estão distantes. E quando encontram essas pessoas que estavam distantes é que falarão com aquelas que estavam presentes. As redes sociais permitiram o desencontro no encontro.
Uma segunda situação é aquela de que não vivemos mais o presente. Quando vamos a um show nós não assistimos a ele, nós o gravamos. Estamos o tempo todo transformando em memórias (stories) aquilo que deveríamos fruir como tempo presente. Assim como aconteceu com o tempo na pizzaria, ocorre agora no show. Estamos ausentes no momento presente. Estamos preocupados com o fato de que o instante vai virar passado, então, o antecipamos, transformando-o já em memória pela câmera de uma celular. Mais uma vez, estamos presentes e ao mesmo tempo ausentes no show.
Quem roubou de mim o tempo presente? Os recursos das mídias sociais nos levaram o tempo presente. Estamos nos ausentando do espaço e do tempo e nos encerrando na reclusão das categorias virtuais. Quando nos abrimos ao outro, estamos, na verdade, nos encerrando numa reclusão interior onde há uma imagem do outro. Mas não é o outro, é apenas uma extensão de nós mesmos. Por isso, temos dificuldade de lidar com as diferenças de opinião nas redes sociais. Mas isso pode ser diferente, as redes sociais podem promover encontros e reencontros. É questão de aprendizagem! Façamos isso enquanto é tempo!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Agricultores se tornam lideranças comunitárias


A Revolução da Leitura Popular da Bíblia nas Comunidades Eclesiais de Base de Vermelho Velho (MG)

José Aristides da Silva Gamito

Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica se reconciliou com a sua realidade na América Latina. Algumas significativas transformações pastorais ocorreram em vários países latino-americanos. O relato a seguir é um caso que se insere neste amplo contexto de renovação conciliar. Na Zona da Mata Mineira, especificamente na diocese de Caratinga, desenvolveu-se uma prática eclesial que se centrava na leitura popular da Bíblia que empoderava lideranças rurais para atuarem na dinamização das comunidades católicas.
A principal revolução operada nesta fase foi a mudança da Bíblia de mãos. Antes uma leitura sistemática da Bíblia ficava reservada aos clérigos. Mas quando vários leigos foram incentivados a ler a Bíblia, eles se despertaram para outros tipos de leituras do mundo, incluindo, a sócio-política. Na diocese de Caratinga, os protagonistas da popularização da leitura bíblica foram os sacramentinos Alípio Jacintho da Costa e João Resende.
Em Vermelho Velho, tudo aconteceu a partir da década de 50. Sigo relatos orais de antigas lideranças, sendo um deles meu pai, Aristides Antônio da Silva (foto). Naquele período, Alípio e João Resende organizaram uma semana bíblica. Era um período de quase quinze dias de estudo da Bíblia e de pontos de apologética. Cerca de 15 trabalhadores rurais compareceram. Depois de uma visão geral sobre a Bíblia, estes homens realizaram uma missão de formar comunidades eclesiais. O núcleo inicial era estabelecer um lugar de culto e organizar uma equipe que realizasse os cultos dominicais. Foram estes pioneiros: Joaquim Costa Perázio, Aristides Antônio da Silva, Agenor Lucas Filho e José Genuíno de Paula, dentre outros.
Durante este período foi fundada a maioria das comunidades eclesiais da Paróquia São Francisco de Assis, de Vermelho Velho, como São José do Vista Alegre, São Geraldo do Cafezal, Fundaça, São Sebastião do Rochedo. Os agricultores passaram exercer uma forte liderança religiosa e social nestas comunidades. Além do dado religioso, a mudança de hábito na vida destes homens foi notável: passaram a ler mais, a se interessar pelos assuntos comunitários. Esta abertura de horizontes permitiu que eles percebessem a necessidade de mudar o espaço onde moravam. Todas estas mudanças foram operadas a partir da descoberta da leitura, especificamente, da Bíblia.

Para uma leitura especializada deste movimento, leia:

GAMITO, J. A. DA S. Hábito de leitura da Bíblia: Um legado da Reforma Protestante e o surgimento do Mobon na Diocese de Caratinga (MG). Sacrilegens , v. 14, n. 2, p. 65-74, 5 set. 2017.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Verdade nas redes sociais


UMA EPISTEMOLOGIA DAS CRENÇAS COLETIVAS: VERDADE E APARÊNCIA NAS POSTAGENS EM REDES SOCIAIS

José Aristides da Silva Gamito[1]

1. A situação das postagens com conteúdos políticos

Os julgamentos das ações humanas são empreitadas que comportam riscos. Principalmente, quando se trata de questões coletivas. As redes sociais trouxeram à tona uma discussão de suma importância. Ela diz respeito sobre como podemos julgar uma situação estando distante das ocorrências. Considerando este debate ao extremo, podemos perguntar se as redes sociais são mídias confiáveis para serem tomadas como “fontes” de notícias. Ou se podemos formar juízos confiáveis a partir delas. Dentre muitos aspectos que podem ser abordados sobre esta questão, quero levantar uma breve discussão sobre os juízos políticos.
As postagens em redes sociais, intimamente chamadas de posts, são gêneros textuais concisos, às vezes, aparecem na forma indireta de compartilhamentos de informações de terceiros. Como são breves, dependem de uma mensagem bem clara e objetiva visto que ninguém consegue dizer tudo com um número reduzido de palavras. Muitas vezes, as pessoas não usam suas palavras, mas adotam frases de terceiros, ou utilizam links de textos de terceiros também para transmitir algum posicionamento.
Até neste ponto, não há problemas porque a natureza funcional das redes sociais é esta. Trata-se de uma comunicação rápida, concisa.  Porém, a questão torna-se muito complexa quando os usuários da internet começam a formar juízos a partir de uma ou de uma sequência de postagens. As recentes e famigeradas fakenews ganham força quando as pessoas, dentro deste emaranhado de informações, tomam as informações que chegam até elas como verdade. Mas estas informações foram replicadas muitas vezes, acriticamente, até chegar a determinado receptor que faz delas uma verdade. Nestas situações, pouco se pergunta sobre as condições que geraram a informação. Quem é o fiador daquela verdade? Elas foram geradas com quais intenções? Como foi obtida a informação?
Outro ponto que quero levantar é sobre a reação dos internautas sobre o perigo das fakenews. Estou vislumbrando estas reações no campo político. As pessoas passaram a utilizar a classificação de fakenews para esvaziar o discurso do oponente. Muitos já consideram, de antemão, que tudo que os simpatizantes do partido ou do político X postar no facebook ou no twitter é falso. Mas, pelo contrário, tudo que eles postam sobre o partido Y é verdadeiro. Em todas as etapas da veiculação de notícias nas redes sociais, faz-se necessária uma capacidade crítica que vença até mesmo as armadilhas das paixões partidárias. Se alguém passa a considerar que tudo que o outro disser é inválido, portanto, não há comunicação. Isso invalida a função de uma rede social, por exemplo.
Os juízos políticos veiculados em redes sociais são emitidos dentro de uma situação comunicativa conflituosa. Dentro da atual polarização política brasileira, os internautas adotaram uma “leitura da suspeita”.  A suspeita metódica é uma ferramenta válida para analisar conteúdos ideológicos, porém, quando a suspeita já se converte em juízo, há um embaraço para o conhecimento. As generalizações a partir de títulos de matérias sem a leitura completa das notícias é uma prática muito comum. Quando a suspeita sobre a comunicação do outro não envolve a suspeita sobre mim mesmo,  este procedimento é extremamente desfavorável. Portanto, a suspeita metódica é válida, mas a suspeita que se converte em conclusão, em sentença, é um obstáculo.

2. Os limites dos juízos sobre ações coletivas

Para ilustrar a dificuldade dos julgamentos de situações à distância e que envolvem juízos sobre ações de terceiros, vamos a um causo.

A vizinhança do bairro Mirandão viveu uma situação inusitada na manhã de um domingo. Joaquim entrou correndo para a sua garagem. Os vizinhos da direita, que ouviram ele discutir na véspera com sua esposa, concluíram: “Joaquim vai matar a sua mulher”. O vizinho da esquerda que estava vindo do bar, e o viu conversando com um rapaz, comentou com a mulher: “Joaquim bateu na cara de um moço na esquina e foi buscar uma arma”. Porém, depois de alguns minutos, Joaquim chega na cozinha todo suado e diz para a sua esposa: “Teresa, eu encontrei meu amigo de infância, o Zezinho na esquina, dei um abraço apertado nele, sacudi-o, falando, ‘cara, por que você some? Quanto tempo?’. Mas não tive o prazer de terminar a conversa, tive de vir correndo procurar um banheiro. Bateu uma dor de barriga forte!”.

Neste caso, dois grupos de pessoas interpretaram a ação de Joaquim a partir das informações que tinham. Quando julgamos determinadas ações a partir de suspeitas apressadas tendemos a tomar qualquer indício favorável à nossa tese como conclusivo. É, justamente, este tipo de interferência emotiva no juízo que leva os internautas a generalizar, formar preconceitos e rotular seus opositores políticos. A formação do juízo não depende exclusivamente da razão, as emoções participam conjuntamente. Mas, quando não se tem um critério claro no julgamento, as pessoas acabam odiando as outras porque estão convictas de que elas estão erradas e são “comparsas do mal”.  Mas cada um só tem conhecimento de uma parte do todo. Isso pode ir longe! Ainda mais quando se coloca uma boa dose de teoria conspiratória.
Estas situações que ocorrem na informalidade, podem do mesmo modo afetar as decisões maiores como o funcionamento das instituições. Na situação específica do embate ideológico bolsonarista-lulista, podemos verificar nas redes sociais como as análises de “suspeitas” obnubilam a razão e os critérios objetivos das pessoas. Elas acabam por perder boas oportunidades de contribuir para a melhoria da política porque trabalham em mão única: só veem os acertos de seu lado e os erros do outro lado.  Sempre quando eu disser isso, pense no vice-versa. Parece ser vergonhoso fazer a autocrítica, é como dar pontos para o inimigo. No fundo esta radicalização comunicativa, torna a comunicação bloqueada, o conhecimento parcial e a verdade inatingível.

3. Considerações finais

            As redes sociais tornaram-se um campo fértil para a pesquisa sobre as crenças coletivas. Principalmente, de como elas afirmadas e sua relação com a verdade. Enquanto, muitos estão perdidos no partidarismo e não podem dar conta dessas características porque precisam derrotar o opositor, estas oportunidades são boas para o pesquisador da epistemologia entender como funcionam estas crenças coletivas dentro do espaço das redes sociais. Fica por aqui apenas uma provocação inicial.


[1] Mestre em Ciências das Religiões (linha de pesquisa: Análise do Discurso), filósofo e professor de Teoria do Conhecimento.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Onde se perdeu nosso senso de justiça?


A revelação de mensagens de integrantes da Operação Lava Jato pelo site The Intercepet nos obrigam a fazer uma dolorosa reflexão sobre o que entendemos como justiça. Onde se perdeu nosso senso de justiça? Estamos polarizados demais. Vemos dois tipos de reação às revelações do site: Os lulistas lavaram a alma com o aparecimento de provas do envolvimento parcial do juiz Sérgio Moro no processo do ex-presidente Lula; os bolsonaristas menosprezaram as informações e passaram a atacar fonte jornalística, criminalizando-a. Como avaliar melhor esses extremismos? Esta é a motivação inicial deste texto, mas quero abordar dois tratamentos que temos dado à criminalidade e como temos alterado nosso senso de justiça.
Uma questão que tem me chamado a atenção desde a polarização política que antecedeu as eleições presidenciais é a maneira como o brasileiro entende justiça. Primeiramente, não se pode falar de justiça de modo universal e imparcial. O ódio que as pessoas desenvolveram contra os políticos investigados pela Lava Jato foi tão grande que elas já condenaram todos de antemão, principalmente, se forem do PT. Quanto aos criminosos da violência comum de rua, dos assaltantes, dos sequestradores, dos traficantes, a população também está cheia e indignada. A criminalidade da corrupção política e dos demais crimes gerou em todo mundo uma indignação no nível do ódio.
Muitas pessoas passaram a atacar os direitos humanos e a defenderem linchamento, justiça com as próprias mãos e pena de morte. Por um lado, a indignação é legítima porque nos afundamos em um lamaçal de impunidade que não se resolve nunca. Mas por outro, a indignação faz as pessoas apelarem para métodos não-civilizados de combate ao crime. O conceito reducionista de direitos humanos é perigoso. A máxima maquiavélica prevalece: Os fins justificam os meios. Para extirpar a violência, podemos utilizar qualquer meio, inclusive, assumindo o risco de punição e de extermínio de pessoas inocentes.
No caso dos vazamentos das mensagens dos procuradores, há duas reações complicadas. A primeira. Quem deseja ver o PT derrotado a todo custo, não se importa com a acusação de imparcialidade do juiz. O desejo era condenar o Lula a qualquer custo.  A segunda. Novamente, os fins justificam os meios: O Lula é corrupto, para tirar um corrupto de circulação, podemos usar qualquer meio para julgá-lo. O senso de justiça está perdido e entrelaçado com a militância política. Agora a reação dos petistas é irresponsável. Se a Lava Jato foi parcial, não pode contribuir em nada com o país, vamos acabar com ela? Este é um problema. O momento é do Estado agir com responsabilidade, investigar, punir e aperfeiçoar o combate à corrupção.
O senso de justiça dos brasileiros está afetado pela indignação. Mas se você converte a sua indignação em ódio, você se converte em um justiceiro. O justiceiro confunde justiça com vingança. Para este, os fins justificam os meios. E quando a militância política, de todos os lados, entra neste campo, a justiça está fadada ao fracasso. Este desequilíbrio traz o risco de perdermos o que mais queremos: a moralização do país. Resume bem este risco a famosa expressão “jogar a água da bacia com a criança e tudo”.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

13 PRINCÍPIOS PARA MELHORAR A POLÍTICA EM CONCEIÇÃO DE IPANEMA:


Vamos pensar a política em nível municipal?

1.    Os partidos precisam ouvir a população na hora de selecionar os seus candidatos. Os presidentes dos partidos agem como donos e montam chapas segundo o interesse de grupos e não do bem comum.
2.    O preenchimento do quadro de candidatos a vereadores não pode ser por mera exigência legal, precisa incluir pessoas que tenham competência técnica e ética para se candidatar.
3.    As campanhas eleitorais precisam superar o amadorismo e deixarem de ser uma corrida desenfreada por votos, onde vale trapacear, difamar e gerar inimizades.
4.    Em vez de churrascos, cavalgadas e aniversários, os candidatos deveriam promover debates e reuniões gerais para a apresentação de programas de governo.
5.    Os eleitores têm de mudar a mentalidade e não aceitarem ofertas de emprego, dinheiro e favores em troca do voto.
6.    Os serviços públicos não podem ser sabotados durante o período eleitoral e nem a convivência dentro das igrejas. As campanhas se fazem fora destes espaços.
7.    Às vésperas das eleições, é preciso superar aquela vigilância mútua pela compra de votos e acabar com a mania de sujar as ruas com “santinhos” no dia das eleições.
8.    As comemorações do candidato vitorioso precisam ser mais respeitosas, menos barulhentas, sem foguetes, sem provocações. Na democracia não cabe este tipo de comportamento.
9.    Os novos prefeitos têm de parar de fazer “terrorismo”, pressão psicológica sobre os servidores adversários. Quem vence as eleições não é dono dos servidores e não têm o direito de fazer revanche por causa de oposição.
10.               De modo semelhante, é preciso superar a perseguição política aos servidores e aos cidadãos adversários com a negação ou a dificultação de direitos e de acesso a benefícios públicos.
11.               Além disso, os novos eleitos, além dos cargos de confiança permitidos por lei, não podem negociar os cargos públicos para os amigos e os eleitores. A coisa pública tem de ser imparcial, apartidária.
12.               Para uma política voltada para o bem comum, precisa ser superada a tendência de burlar processos seletivos para empregar só “companheiros” e manipular licitações para vender só para os doadores da campanha.
13.               A população precisa de pensar em política todos os dias e não somente de quatro em quatro anos, participar dos conselhos, das reuniões da câmara e das decisões em audiências públicas, sem pensar unicamente nos benefícios de um partido.
14.               Em se tratando de uma cidade pequena, não vale a pena perder uma amizade por causa de campanha eleitoral. Teríamos de lançar uma campanha municipal para a superação disso: “Faça campanha, não faça inimizades”.
       

Artigo de José Aristides da Silva Gamito

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Atenção:


POR UM MANUAL DE BOAS MANEIRAS NAS REDES SOCIAIS:
VAMOS FALAR DE POLÍTICA COM EDUCAÇÃO?



José Aristides da Silva Gamito

Quando o tema é política, os usuários de redes sociais sempre extrapolam na discussão. A polarização partidária tem demonstrado que nem todo cidadão está preparado para o debate em público. As emoções falam mais alto do que a razão. O que mais encoraja um internauta a xingar o outro de “burro”, “doente”, “lixo” é a ilusão de que ele tem de estar com a verdade, de estar do lado certo da história. O ego infla de ilusão e ele perde o respeito pelo outro.
A prática nos mostra que quanto mais radical somos na defesa de ideias partidárias ou religiosas mais chances temos de errar, de ter de reconsiderar e sempre mudar de rumo. Mas tem gente que não aprende nunca, endeusa um político, se decepciona e parte para endeusar outro. Esta associação da figura do político a um herói ou pessoa mitificada é muito prejudicial à democracia. É justamente estas figuras que se disfarçam dos melhores valores de uma sociedade para conquistar os desavisados.
Além da mitificação do político, existe a visão maniqueísta da nação dividida entre “amigos” e “inimigos” do país. A solidariedade de grupo encoraja as pessoas a defenderem agressivamente suas ideias, com aquela certeza que é do bem e está lutando contra o mal. Essas ideias podem gerar uma histeria coletiva.
Porém, no fundo as pessoas acabam perdendo tempo e amizades. Há muitas opções políticas, de partidos, de valores, que serão julgadas somente pelo tempo. Enquanto, a história está sendo composta, não dá pra fazer um juízo absoluto e hermético. Uma análise dos fundamentos do debate político pode nos ajudar a corrigir essas grosserias gratuitas. Elas são advindas da ausência de educação para tratar de temas coletivos.
Antes de xingar uma pessoa nas redes sociais, o cidadão politizado deveria aprender estas coisas:

a) Proposições coletivas: As proposições sobre política não são exatas como a lógica e a matemática.
b) Equiponderação das opiniões: A mesma quantidade de razões que você tem para defender a ideia A, também tem seu interlocutor para defender a ideia B;
c) Fontes indiretas: Ninguém tem a verdade sobre notícias políticas, não somos testemunhas dos fatos, analisamos a partir de relatos alheios;
d) Argumentação ad hóminem: A opinião não determina a moralidade ou a dignidade de um cidadão; discutir ideias difere de discutir o caráter das pessoas;
e) Desqualificação moral: Xingar em vez de argumentar é demonstração de descontrole emocional e incompetência para discutir;
f) Enfraquecimento do todo por distanciamento das partes: Os debates ofensivos só tendem a piorar a situação do país, sem convergência ninguém vai a lugar algum;
g) A verdade é serena: Se alguém acha que está do lado certo, que tem o conhecimento correto, então, não precisa apelar: Se é a verdade não vai mudar, pode ficar tranquilo.

Acima de tudo, se você que discute política no facebook, se se considera um bom cidadão, então, use boas atitudes na hora de se comunicar: Seja humilde, seja educado, escute o outro, não seja apressado! Está na hora de mudar este comportamento.