POR
UMA TEOLOGIA BIOCÊNTRICA
FOR A BIOCENTRIC THEOLOGY
José
Aristides da Silva Gamito
A teologia da
criação desenvolvida ao longo dos séculos tem celebrado muito a sublimidade da
criação do homem. Ela toma a espécie humana como um ser privilegiado e até
divinizado. Em Gênesis 1, 26-27 diz que o ser humano foi feito à imagem e à
semelhança de Deus. O Salmo 8,7 segue esta tradição antropocêntrica: “Tu o
fizeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra.” O homem
é posto no topo da criação como alguém que é privilegiado por ter consciência
da divindade e de poder se comunicar com ela. Esta tradição predominou por
muito tempo.
Contudo, ao
enfatizar o homem como a guardião da criação muito se contribuiu para o
esquecimento do meio ambiente e da existência das demais espécies. A
preocupação ambiental só veio acontecer depois da Revolução Industrial. Na
história do cristianismo, quase não há preocupação com os animais. São
Francisco de Assis é uma rara exceção. O santo desenvolveu uma espiritualidade
mais integradora e menos antropocêntrica. O que prevaleceu no discurso
religioso é o mandato de “dominar” a natureza, os animais (Gn 1, 26-28).
Se o cristianismo
tivesse incluído nos textos fundadores esta preocupação com os animais, talvez
teríamos um despertar mais cedo sobre estes valores no Ocidente. Tomás de
Aquino ao tratar do tema dos animais os viu como espécies à disposição do ser
humano, como se eles fossem criados para servir a humanidade. Portanto, é
preciso retomar esta teologia da criação pensando nas demais espécies. Alguém
já se perguntou se os outros animais têm alma? Para um crente isso parece
absurdo. Mas por que somente o ser humano tem alma? Sempre pensamos dentro dos
interesses da nossa espécie.
Em Gênesis 1, 21,
Deus criou os animais e “viu que era bom”. Se você procurar há imagens
positivas de animais em quase todos os textos bíblicos. Há muito material para se explorar este tema. Porém,
como falta um discurso moral sobre o direito dos animais, pouco se deu atenção
a este tema dentro do cristianismo. A cosmovisão cristã é exclusivamente da
relação homem/Deus.
A consciência que
existe atualmente sobre a ética que envolve os animais nos faz pensar uma
teologia da criação que não seja centrada no homem, mas na criação como um todo.
Toda a natureza é digna e o homem depende dela. Enxergá-lo como superior e distinto
da natureza é um pensamento que só interessa e favorece um tipo de capitalismo
predatório. É bom pensar nisso nesses tempos de políticas que ignoram a
natureza e as outras espécies. Todos os animais são tão dignos de direito e de
cuidados quanto o ser humano. Uma teologia não-antropocêntrica é bem-vinda e
muito educativa. Precisamos de uma teologia biocêntrica!
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