quarta-feira, 15 de maio de 2019

Por uma teologia biocêntrica


POR UMA TEOLOGIA BIOCÊNTRICA
FOR A BIOCENTRIC THEOLOGY

José Aristides da Silva Gamito


      A teologia da criação desenvolvida ao longo dos séculos tem celebrado muito a sublimidade da criação do homem. Ela toma a espécie humana como um ser privilegiado e até divinizado. Em Gênesis 1, 26-27 diz que o ser humano foi feito à imagem e à semelhança de Deus. O Salmo 8,7 segue esta tradição antropocêntrica: “Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra.” O homem é posto no topo da criação como alguém que é privilegiado por ter consciência da divindade e de poder se comunicar com ela. Esta tradição predominou por muito tempo.
Contudo, ao enfatizar o homem como a guardião da criação muito se contribuiu para o esquecimento do meio ambiente e da existência das demais espécies. A preocupação ambiental só veio acontecer depois da Revolução Industrial. Na história do cristianismo, quase não há preocupação com os animais. São Francisco de Assis é uma rara exceção. O santo desenvolveu uma espiritualidade mais integradora e menos antropocêntrica. O que prevaleceu no discurso religioso é o mandato de “dominar” a natureza, os animais (Gn 1, 26-28).
Se o cristianismo tivesse incluído nos textos fundadores esta preocupação com os animais, talvez teríamos um despertar mais cedo sobre estes valores no Ocidente. Tomás de Aquino ao tratar do tema dos animais os viu como espécies à disposição do ser humano, como se eles fossem criados para servir a humanidade. Portanto, é preciso retomar esta teologia da criação pensando nas demais espécies. Alguém já se perguntou se os outros animais têm alma? Para um crente isso parece absurdo. Mas por que somente o ser humano tem alma? Sempre pensamos dentro dos interesses da nossa espécie.
Em Gênesis 1, 21, Deus criou os animais e “viu que era bom”. Se você procurar há imagens positivas de animais em quase todos os textos bíblicos.  Há muito material para se explorar este tema. Porém, como falta um discurso moral sobre o direito dos animais, pouco se deu atenção a este tema dentro do cristianismo. A cosmovisão cristã é exclusivamente da relação homem/Deus.
A consciência que existe atualmente sobre a ética que envolve os animais nos faz pensar uma teologia da criação que não seja centrada no homem, mas na criação como um todo. Toda a natureza é digna e o homem depende dela. Enxergá-lo como superior e distinto da natureza é um pensamento que só interessa e favorece um tipo de capitalismo predatório. É bom pensar nisso nesses tempos de políticas que ignoram a natureza e as outras espécies. Todos os animais são tão dignos de direito e de cuidados quanto o ser humano. Uma teologia não-antropocêntrica é bem-vinda e muito educativa. Precisamos de uma teologia biocêntrica!

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