sexta-feira, 24 de maio de 2019

Será que é saudável isso?


SERÁ QUE É SAUDÁVEL ISSO?
José Aristides da Silva Gamito


Todos os dias quando entramos nas nossas redes sociais nos deparamos com uma terrível poluição de centenas de postagens sobre política e religião. Os dois temas andam juntos. Elas servem atualmente para demarcar de qual clã você é: Se é de direita ou de esquerda. As pessoas dedicam horas de seu dia para atacar, difamar pessoas, espalhar mentiras, com o intuito de exaltar suas “verdades”. Será que estamos no caminho certo?
O “ativismo político de sofá” tornou-se uma prática de milhares de brasileiros. É mais cômodo, com alguns cliques você pode mudar o Brasil! Porém, como as redes sociais são caracterizadas por gêneros textuais sintéticos, as máximas mal construídas substituem um pensamento inteiro. Muitos temas complexos são reduzidos a chavões. Quando um grupo tem certeza da posse da “verdade”, o maniqueísmo se instala de vez. Um lado é do bem, de Deus; e o outro lado, é do mal, está a serviço do Diabo. Na prática, é isso que conservadores católicos e evangélicos pensam de seus opositores ideológicos. A diversidade de ideias se transforma na batalha do bem contra o mal!
Considerando as últimas transformações da política brasileira, ninguém deve ficar neutro. Mas, o que estou propondo nesta reflexão é uma revisão de método. Será que o confronto desrespeitoso é a solução? Imagino que numa democracia, as relações públicas tenham um tom mais impessoal, sem “barracos” e ameaças. Os cidadãos podem discutir ideias sem confundir o político de estimação com o eleitor. Muitas vezes, este cara que você rotula de “burro” é seu amigo, vizinho ou parente. A partir do lugar que ele ocupa na sociedade, ele optou por um tipo de ideologia. O filósofo Ortega y Gasset dizia: “Eu sou eu e minha circunstância”. Quando se critica a opção dos outros como se ela fosse um crime, a democracia já está em risco!
A opção ideológica é uma verdade relativa. Trata-se de opiniões transitórias, baseadas mais nos sentimentos e nos interesses do que na razão e na lógica. Embora, as ideologias de direita e de esquerda se diferenciem também quanto a valores éticos fundamentais. Porém, dentro da democracia o melhor caminho é o diálogo respeitoso. Só que isso vale para todos! Sempre quando cobro de alguém isso, ele diz “mas, este povo não respeita ninguém”. Se ninguém ceder, começar, abrir-se ao diálogo, esta polarização atual da política brasileira vai piorar nossa vida. Todos vão perder!
Além disso, muitas vezes nos pegamos brigando nas redes sociais por temas que não dominamos, por notícias e eventos filtrados, por migalhas de verdade. Será que isto é saudável? Precisamos ampliar nosso olhar crítico para os outros e o olhar autocrítico para nós. Vamos permitir uma desconcertante enunciação que o filósofo deve fazer: “Eu posso estar errado”. Creio que mudar o modo como discutimos política e nos comportamos nas redes sociais mudará muito nossa qualidade de vida. Estamos no caminho errado, podemos mudar isso enquanto é tempo!

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